1° Noite

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No meio da noite, acordo, um barulho de choro, agudo e alto, ecoa pelos cantos da casa. Levanto, bocejo, mas meus olhos ainda teimam em irem fechando pouco a pouco. Vou em direção ao barulho, entretanto, já sei da onde vem, do quarto de Alice, minha pequena irmã, que mesmo com apenas 8 anos, custumava ter pesadelos horríveis, desde o dia em que mamãe e papai se foram, de uma terrível maneira.

Abro a porta de seu quarto, e vejo-a encolhida encima da cama, segurando fortemente o cobertor e de olhos fechados, bem fechados, ela continua a gritar, junto as lágrimas que caem deixando seu pálido rosto, vermelho. Aproximo-me de sua cama, sentando na mesma, dizendo em voz calma e baixa:

- Pequena, não se preocupe, estou com você agora. - pus minha mão em seu braço esquerdo e ela se jogou em cima de mim, repetindo inúmeras vezes a mesma frase, sempre a mesma frase.

- A mamãe está em perigo, socorre a mamãe, por favor, ajuda a mamãe. - ela dizia e chorava.

Mamãe morreu a um ano, e Alice sempre tinha pesadelos com este dia, quando tudo ocorreu eu estava longe de casa, senão podia salvá-la, ou pelo menos tentado.

Afaguei seus cabelos castanhos, e depois de um tempo, as lágrimas pararam de cair e seus soluços já eram baixos e reprimidos.

- Fica. - ela sussurou.

- O quê? - perguntei.

- Dorme aqui comigo essa noite, Ágatha. - disse, depois de enxugar seus olhinhos.

- Claro. - respondi.

Ela me apertou mais, e eu retribui, também apertando-a:

- Eu estou aqui, tudo vai ficar bem.

Não poderia recusar nada que minha pequena irmã pedisse, eu a amava mais que tudo, e de inicio, era fácil, meu amor era tudo que ela precisava para poder seguir em frente, poder continuar a ser, a amável garotinha que sempre fora, a que se preocupava com os outros, as vezes, eu sentia que nada nesse mundo pudesse tirar sua inocência, mas, até o fim dos meus dias, nunca mais me esquecerei, que a inocência é uma coisa frágil e delicada.

Entre Nosso SangueWhere stories live. Discover now