Capítulo 1

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Juliana havia tirado a mala da parte de cima do guarda-roupas e separado as roupas para a viagem. Ia arrumar a mala do filho, Tiziano, mas se pegou chorando no banheiro, tentando não fazer muito barulho para que ele não percebesse. Quando voltou ao quarto, a mala do menino já estava pronta a seus pés.

Roberto, pai de Tiziano, era irritante. Tudo aquilo que a tinha atraído anos antes foi o que fez com que a vida a dois fosse um inferno. A arrogância e prepotência com que ele fazia qualquer coisa era um charme quando ela não tinha que conviver diariamente com ele. O casamento foi insuportável. Ainda assim ela buscou maneiras de fazer dar certo, agradá-lo, não aborrecê-lo, cuidar dele e do filho dedicadamente.

A pior dor não foi a da separação em si, mas a de saber que quem foi embora, com a primeira vadia que deu pra ele no estacionamento do trabalho, foi ele. Bom, provavelmente não havia sido a primeira.

Apesar disso, o fim do "nós", assim como as lembranças e projetos que ficaram para trás, não são fáceis de superar. Sentimentos deverão morrer, não fazer mais parte de sua vida. Juliana tenta não se sentir culpada. Culpada por não ser a esposa que Roberto queria. Culpada por não satisfazê-lo. Culpada por não perceber que ele tinha uma outra vida sem ela.

- Não quero ir com você, mãe. Quero ficar com o meu pai.

Juliana havia combinado com alguns amigos para viajarem para uma pousada em Domingos Martins, no Espírito Santo. Lá ela estaria longe de tudo o que remetesse a Roberto.

- Já conversamos sobre isso, filho. Seu pai foi para a casa de praia com a...

Engasgou. Desde que descobriu, não consegue falar o nome daquela mulher.

Juliana vira-se para a porta como se chamada por alguém.

- Tia Fernanda chegou.

A campainha toca.

Amiga de infância, Fernanda desenvolveu com Juliana uma amizade quase telepática ao longo dos anos. Quando Roberto saiu de casa, para ir morar com aquela mulher, Fernanda ligou já sabendo que alguma coisa não estava certa.

Juliana atende o interfone.

- Oi!

- Oi, Ju. Chegamos! A gente sobe ou vocês já estão descendo?

A voz é de Fábio e faz algo percorrer sua espinha até a pélvis.

Fábio é irmão da Fernanda e tem sido um bom amigo nesse momento. Dividir as dores com alguém que passou pela mesma situação, por uma separação traumática como a dela, está ajudando Juliana a não pensar que é uma alma maldita ou algo assim, que Deus a está punindo por sabe lá o quê. Outras pessoas também tiveram que viver o fim de seus casamentos, trocadas por uma versão burra e fitness de si mesma.

Já à porta, Fernanda dá um forte abraço em Juliana. depois segura a amiga pelos ombros, avaliando seu rosto.

- Ai! Andou chorando de novo!

Juliana olha para Fernanda repreendendo-a pelo comentário na frente do irmão e depois para Fábio, meio constrangida. Baixa os olhos e se afasta da porta, voltando-se para o quarto dentro do apartamento.

- Me desculpem, mas ainda não estamos prontos. Eu estava arrumando as malas e aí o Tiziano arrumou a dele e eu não consegui ver...

- Calma... calma... eu ajudo o Tiziano com a mala dele. O Fábio te ajuda a pegar sua mala quando ela estiver pronta.

Juliana passa a mão pelo cabelo.

- O Tiziano não quer ir com a gente. Ele quer o pai dele.

Fernanda vai em direção ao quarto de Tiziano.

- Deixa que eu falo com ele. Os filhos da Paulinha vão com a gente e eles se dão muito bem com o Tiziano.

Fernanda dá uma piscadela para Juliana.

- E o que pode dar errado nesse passeio para uma casinha afastada da loucura da cidade grande?

***

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