Capítulo 4

21 1 1
                                    

É final de tarde. O crepúsculo começa a se apresentar. Vai até a janela de onde pode ver o bloco passar. O Carnaval se tornou o período do ano que mais gosta.

Desde que se tornou funcionário público, o feriadão dá a ele a oportunidade de deixar todo aquele trabalho chato e burocrático de lado e viajar para se dedicar ao que realmente o preenche. Na verdade, o chamado que recebeu aconteceu logo após começar a trabalhar no Banco do Brasil, quando aceitou o Carnaval na sua vida.

Desce as escadas da casa alugada e, já da porta, sente seu coração pulando forte. Já na calçada os foliões esbarram nele, arrastando-o ao som das marchinhas e batuques. O contato com tantos corpos alegres e vivos o deixa excitado.

Acompanha o bloco por dois quarteirões. Repara que por todo o trajeto uma menina muito bonita, vestida de fada, com asinhas translucidas, não tira os olhos dele. A fantasia dela é brilhante e colorida. Quando percebe que ele a está olhando também, sorri. Ele sorri de volta.

Encorajada pelo sorriso dele, a fada se aproxima.

— Oi! Nossa! Você é muito grande. Deve ser muito forte!

A fada bebe mais um gole de cerveja no copo de plástico. Derrama um pouco, que escorre pelo queixo e pescoço. Ela passa a mão pela clávicula molhada.

— Merda! Acho que estou altinha demais. Eu não sou sempre assim.

Ele abre ainda mais o sorriso.

— O carnaval faz isso comigo também. Me transforma em outra pessoa.

Ela faz uma careta divertindo-se.

— Olha, sei que parece que estou fugindo, mas é que eu tenho que encontrar umas amigas agora. Vamos nos arrumar para um baile a fantasia em uma boatezinha que a Clara descobriu por aqui. Acho que vai ser divertido.

— É. Eu gosto muito de fantasias.

— Se quiser, dá um pulinho lá onde estamos e vamos juntos. É nessa rua mesmo, na segunda esquina, número 13. Dá pra ver daqui. É só apertar a campainha, que uma de nós abre pra você. Vamos sair às dez. Não se atrasa!

— Não se preocupe. Não vou deixar você escapar de novo.

Ela acha graça. Faz que vai embora, mas gira e volta a encará-lo.

— Ei! Meu nome é Ana. Você não me falou o seu nome.

— Falo quando nos encontrarmos mais tarde.

Novamente a careta divertida. 

Uuuuuu! Então o homem grande gosta de mistérios. Então tá! Até mais tarde.

A fada desce a rua, as asinhas se movendo a cada passo. Duas esquinas depois ela encontra as outras meninas. Dá uns pulinhos e se vira, olhando para ele. As outras olham para ele também e riem, antes de entrar na casa.

Ele pressente que este vai ser um Carnaval especial.

***

Se estiver gostando, não deixe de votar ali embaixo e deixar seu comentário!

ClóvisOnde histórias criam vida. Descubra agora