CAPÍTULO 5

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Rio de Janeiro, 1904


Edgar,

Faz duas semanas que estou na casa de meus pais, eu tentei resistir a isso mais no fim fui convencida pela D. Baronesa, que não me deu sossego enquanto não aceitei o convite, ela concordou em receber a Isabel para eventuais visitas, essa foi uma exigência minha para que eu aceitasse vir pra casa dela, que um dia já foi minha. Infelizmente, como eu previa os dias aqui estão sendo ainda mais angustiantes do que eram em nossa casa, o que me faz desejar ainda mais pelo seu retorno.

Minha gravidez continua muito difícil e o meu pai já não consegue esconder a sua preocupação com o meu estado, ele me disse, outro dia, que essa minha ansiedade com o seu retorno não ajuda em nada na minha situação, mas não consigo evitar Edgar, nos últimos dias um medo vem se apoderando de mim, a falta de notícias suas só fazem aumentar o meu desespero e não posso desabafar esse receio com mais ninguém, pois a todos é desconhecido o verdadeiro motivo de sua viagem.

A minha mãe não facilita em nada a minha permanência nesta casa, ela vive me rondando e me fazendo perguntas sobre essa sua viagem repentina a negócios. Quando descobriu que eu não tinha notícias suas, então, a Baronesa ficou em estado de cólera e começou a me fazer perguntas de alguma possível briga entre a gente que tivesse resultado na sua partida para Portugal.

Edgar, você bem sabe que a minha mãe não é uma pessoa fácil e apesar de não falar para ela o motivo de sua ida para Portugal acho que ela já desconfia, pois as perguntas que ela vem me fazendo deixam bem claras as suas suspeitas e isso me atormenta. O que só enfatizam ainda mais os meus temores de que você tenha se dado conta de que ainda sente alguma coisa por essa mulher que acaba de te dar o filho que tanto querias e que tenhas decidido ficar de vez em Portugal para formar uma família.



— Laura! – Incomodado, Edgar não conseguiu permanecer calado diante da última atrocidade que ouviu, era demais para ele. Como ficar de vez em Portugal e formar uma família, se a sua pequena e linda família eram Laura e o filho que ela esperava? Afundar-se no sofá talvez fosse a sua melhor opção, já que seus lábios foram momentaneamente impedidos por dedos esguios de protestar.

— Shhh – ele ainda a ouviu murmurar calmamente, sem desviar a atenção do que lia. 



A Isabel é a única pessoa para quem eu revelei o verdadeiro motivo de sua ida a Portugal e ela, por sua vez, tenta tirar essas ideias da minha cabeça, me dizendo que você me ama e que nunca faria tal coisa comigo, ela me chama a razão para não me afligir tanto com isso, para que meu estado de nervos não prejudique o bebê e eu assim tento fazer...



— Ainda bem, aleluia, - berrou, encarando o teto sobre a sua cabeça. — Santa Isabel – completou eufórico.

— Escuta, Edgar. – Prendendo o riso, ela o cutucou parecendo mais brava do que realmente estava.

— Ai, Laura – resmungou, levando a mão até o local onde fora atingido. — Está bem, eu escuto... - sentindo-se vitorioso, Edgar comemorou. — É bom saber que, pelo menos, alguém me defendeu nessa história.

Laura revirou os olhos, sorrindo timidamente para expressão momentânea de alívio e felicidade que ele se permitiu esboçar pela primeira vez enquanto liam as cartas. Sabia que as palavras que usou para relatar os fatos a Edgar eram duras e pesadas demais para se ouvir, agora, mas as próximas, que ela estava prestes a ler não seriam diferentes. Fazer o que se os sentimentos que a dominavam na época eram os piores?

Nossas Lembranças  / Autoras: IsaFanfics & PsiquinininhaOnde histórias criam vida. Descubra agora