CAPÍTULO 4

176 11 0
                                    


- Olha só Edgar.

- O que foi agora, Laura?

- Olha só como nós, dois, somos parecidos. - Frisou com misto de alegria e surpresa na voz. - Chega a ser engraçada a forma como você empregou as palavras, elas são quase idênticas as minhas. Olha.

- Nós somos parecidos. - Edgar pegou a carta, quase a amassando contra os dedos. - Eu, sou você de calças. - Debochou, deixando a zanga de lado, ele se reaproximou a envolvendo num abraço lateral.

- E eu, sou você de saias. - Gargalhou com a conotação.

- Exatamente, viu. - Pousou o dedo indicador na extremidade do nariz, como um sinal de aprovação. - Você entendeu.

- Sabe que não é má ideia.

- O que?

- A sua ideia. - Aninhou-se a ele, animada com a possibilidade. - O que você acha de eu usar uma das suas calças? A Alic-

- Laura não começa. - Sorriu jocoso.

- Aí que preconceituoso, tá na moda, sabia? - O encarrou, ofendida. - Já vi algumas mulheres usando. A Alice mesmo já usou uma das calças do Jonas para conseguir ir à festa de casamento da tia Celinha, lembra? E você não achou estranho.

- A carta, lembra? - Suspirou, querendo evitar o confronto. - Podemos voltar ao que interessa?

- Edgar... - ela o repreendeu impaciente.

- Laura - ele a imitou.

- O que você acha, eu ficaria bem com uma? - Laura persistiu na questão, obrigando Edgar a responder o obvio, mas que ele não cansava de afirmar quantas vezes fosse preciso.

- Você é linda de qualquer jeito, meu amor, - pausou, pondo uma mecha dos fios soltos atrás da orelha. - De saia, - a encarou, repetindo o gesto na orelha oposta - de calça... Nua nos meus braços. - Sussurrou próximo ao ouvido lhe causando arrepios não somente ali.

- Edgar

- Humm... É meu jeito favorito de te ver - hesitou contra os lábios, vendo-a entreabri-los ainda mais. Fitou seus olhos, admirando a sua face corada e depois voltou aos lábios de um vermelho vivo, que sempre o atraía feito ímã.

- Humm... - engoliu em seco, sentindo a respiração quente ofegar contra a sua boca. - Acho melhor voltarmos para as cartas, não? - Edgar sorriu resignado, controlando-se por dentro.

- Ah e quem lê, agora, eu ou você? - Perguntou totalmente perdido.

- Você, esqueceu? É a sua vez, agora. - Agarrando uma das almofadas azuis acinzentadas, Edgar viu Laura estirar as pernas sobre o estafado e logo pôs outra sobre o seu colo esperando que ela se deitasse.

- Pronta? - Indagou, baixando seu o olhar, para ela que estava, agora, com a cabeça apoiada sobre almofada recém-posta no seu colo.

- Humm.

Com uma das mãos sobre o ventre, entrelaçadas a dela, Edgar endireitou a coluna e tomando folego baixou os olhos para a sua caligrafia no papel, constatando de imediato a verosímil semelhança entre as suas palavras.



Lisboa, 1904

Laura,

Meu amor, já contam vários dias que lhe enviei a minha resposta a sua carta e você ainda não me mandou notícias se o motivo de seu silêncio é zanga pelo fato de eu estar longe peço que tenhas compaixão de mim pois também sofro por estar longe de ti, sei que quem provocou essa separação foi eu mas mesmo assim não me prive de notícias suas, quero saber como está passando esses dias e também como está o nosso filho, estou louco por chegar em casa e ser recebido por um sorriso seu, como eu amo o seu sorriso meu amor ele é capaz de me alegrar até nos dias mais défices. Também anseio por acariciar a sua barriga, sei que provavelmente não será possível senti-lo em seu ventre ainda, mas não vejo a hora de tocá-la e dizer ao nosso filho que eu já o amo.

Nossas Lembranças  / Autoras: IsaFanfics & PsiquinininhaOnde histórias criam vida. Descubra agora