CAPÍTULO 6

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Lisboa, 1904


Laura,

Espero que essa lhe encontre bem, a você e ao nosso filho, minha pequena e linda família que me enche de orgulho e faz de mim um homem realizado. Meu amor em minha última carta eu não lhe falei nada com relação à circunstância em que encontrei a minha filha. Laura, a Melissa realmente é muito doente e eu confirmei isso em uma consulta ao médico que já acompanhava o seu caso desde o seu nascimento, ela é muito frágil e pequenina. Meu primeiro impulso ao pegá-la em meus braços, pela primeira vez, foi querer protegê-la, eu pensei em você e no nosso filho que está a caminho, e em como a vida dele será diferente da dela.

Meu amor já me aflige a falta de notícias suas, já tirei de minha cabeça a ideia de que esse silêncio se deve a sua zanga comigo por eu ter vindo para Portugal a fim de resolver um problema que eu mesmo criei te deixando só no Rio de Janeiro, pois bem sei da mulher maravilhosa com quem me casei e sei que uma atitude dessas não combinariam contigo, você não seria capaz de me deixar no escuro somente por pirraça e essa minha certeza me preocupa porque não encontro um motivo convincente para essa falta de notícias.

Esse foi um dos motivos pelo qual eu resolvi apreçar ainda mais o meu retorno, não aguento de saudades de você e estou louco por te ver, tocar em seu ventre, ver sua barriga que já deve ter ganhado forma e deve estar se destacando em suas vestes mesmo que ainda pequena. Eu não posso mais ficar um dia se quer neste país que me afasta de ti, como já havia mencionado em minha última carta me vi a tomar uma decisão aqui que talvez não seja a mais correta, mas as circunstancias me obrigam a tal atitude e espero que me compreendas quando eu te relatar os pormenores assim que estivermos juntos no conforto do nosso lar.

Infelizmente, a Catarina não colaborou em nada no apressamento das coisas e no final das contas tive de ser firme com ela para poder colocar tudo em ordem e finalmente estou pronto para regressar. Laura, provavelmente quando essa minha carta chegar em suas mãos eu já estarei em alto-mar, contando as horas para o navio atracar no porto, não enviarei nenhum telegrama para alertar-te da data e horário que isso ocorrera, pois não quero que me aguardes no porto, quero te surpreender em casa para poder te beijar com vontade sem me preocupar com olhares de recriminação.

Em breve estaremos juntos e ter ciência disso me serve de alento para que suporte esses dias que me aguardam no navio para voltar para a casa, eu nunca fui do tipo pessimista mais sei bem que essa viagem vai ser ainda mais angustiante pra mim do que a minha vinda para Portugal, mas, pelo menos, agora tenho o consolo de que estou voltando para você, para a nossa casa e para a nossa vida, juntos, como eu sinto falta desses momentos Laura, parece que faz anos que não a vejo... Mas essa experiência me serviu de lição e não pretendo repeti-la, nunca mais quero me afastar de você, pois sei que depois disso tudo o que vivi, que não serei mais capaz de suportar mais um dia longe de você.

Edgar Vieira.


Laura, apesar de quer e vontade não lhe faltar, não o interrompeu, estava exausta demais para isso. Em mente além das vagas palavras que escrevera na sua última carta, outras três coisas passaram pela sua cabeça: seu casamento, Portugal, Catarina e ah... Melissa - menina que a vida a ensinou a amar.

- A Melissa é um doce de menina, apesar de tudo foi a única coisa boa que a Catarina soube fazer. Ah, também... - a lembrança a fez rir com cinismo sarcástico. - A Melissa tem mais de você do que daquela víbora. - Era meramente impossível e improvável compará-la com Catarina. Melissa por sorte ou genética herdará a boa índole do pai.

Nossas Lembranças  / Autoras: IsaFanfics & PsiquinininhaOnde histórias criam vida. Descubra agora