A Fogueira

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- Qual o seu problema, Bran? - Felícia perguntava. Dei os ombros - Você está bonita.
- Eu sei, mas talvez seja um pouco demais.
- Acredite, Bran, você vai querer estar bonita, ao menos hoje.
- Tudo bem, então...
Olhei no espelho uma última vez. Meu rosto estava corado e minhas sobrancelhas agora tinham um formato até bonito, eu acho.
Então permanesci alí, parada, por algum tempo antes de saírmos. Fechei o zíper das minhas botas. Arrumei o blazer que usava e coloquei uma mecha de cabelo, que cobria meus olhos, atrás da minha orelha.
Saímos, eu e Felícia. Ela saiu primeiro e, com um pulo, aterrizou perfeitamente onde suas botas haviam feito uma marca no chão da ultima vez que pulara. Ela aterrizava sempre no mesmo lugar, e sempre em pé. Eu, por outro lado, decia desajeitada pelas escadas.
Olhamos um pouco mais a frente, onde a fogueira parecia ser o único ponto iluminado que não fosse a casa.
Marta nem mesmo perguntou sobre a fogueira. Adolescentes faziam isso o tempo todo.
Sentamo-nos ao lado de Mavis. Toni e Alex ainda estavam na casa. Mavis olhou para nós e sorriu:
- Vocês vieram. Eu pensei que não viriam.
- Minha irmã disse que é uma tradição, que todos os anos se fazia uma fogueira onde as pessoas se conheciam melhor. E isso me faz perguntar: você já veio aqui antes?
- Algumas vezes. No ano passado, e no ano antes desse. Mas eu nunca fui "aquela que fazia as fogueiras". Então isso vai ser divertido.
- O que exatamente se faz em fogueiras? - perguntei.
Mavis não responderia até que Toni e Alex chegassem e se juntassem a nós. Quando estávamos todas envolta da chama que,para ser sincera, me assustava um pouco, Mavis começou:
- Agora nós contamos histórias de terror. Quem quer começar?
Nos entreolhamos. Todas éramos, no fundo um pouco covardes demais para contar histórias de terror sozinhas dentro de uma floresta escura, mas Mavis nos dava um olhar desafiador.
Eu não me importei em continuar calada. Não sabia, de verdade, nenhuma história de terror que realmente desse medo, e também não queria ouvir nada que me fizesse passar a noite em claro.
Alex levantou a mão. Todas a encaramos, esperando que ela não contasse nenhuma história realmente assustadora e sim, uma história simples, que não nos desse medo.
- Vocês não acham que é uma idéia ruim contar histórias de terror no meio de uma floresta a noite?
- Deixe de ser covarde, Alex. - Mavis disse sorrindo.
Felícia olhou ao redor de nós, talvez procurando ou esperando por alguma coisa. As cigarras faziam barulho e o vento soprava quase uivando pela floresta.
Eu só esperava não ter um ataque do coração.
- Tem uma história. - Felícia começou - Que meus pais costumavam me contar quando eu era pequena. Era minha história preferida. - sorriu - Ela dá um pouco de medo. - arregalou os olhos de uma maneira tão sinistra que teria me feito correr se eu não a conhecesse mas, pensando bem, eu só a conhecia a algumas horas.
- Qual o nome? - Mavis perguntou.
- Os sete corvos. Talvez vocês já tenham ouvido falar. Minha mãe usava ela para tudo, pra me fazer dormir cedo ou lavar o cabelo quando eu era desobediente. Ela dizia que se eu fosse uma menina má, os sete corvos me levariam para a montanha de vidro.
- Tem uma montanha de vidro na sua história? - Toni perguntou.
- É uma história esquisita. - Felicia disse.
- Todas a favor de que Felicia conte a história dos sete corvos levantem as mãos! - Mavis disse, rindo das nossas caras.
Toni levantou sua mão. Mavis logo em seguida. Alex, por falta de opção, levantou sua mão logo em seguida.
- E você, Bran?
Timidamente levantei o meu braço, tentando esconder o meu olhar de medo.

♢♢♢

- Então já podemos apagar a fogueira, certo? - alex perguntou.
- Sim. - Mavis disse, tomando a frente.
Depois que tudo ficou escuro, ligamos nossas lanternas e  apontamos a luz para o chão. Quase no mesmo segundo, o som de passos começou a soar de longe, dentro da floresta.
- Ok. Agora vamos embora. - Toni disse em um pulo.
Aquietando-se, Mavis olhou ao nosso redor, mas eu parecia se a única que percebia os três vultos vindo em nossa direção.
Estava tudo escuro e era dificil de ver, mas, não se o porquê, os vultos me chamavam atenção e eu não conseguia desviar meu olhar.
Felicia olhou para mim e então para os vultos. Ela continuou olhando para a floresta ainda mais animada até que Alex levou o resto do grupo embora, segurando na mão de Toni, que agarrou a mão de Mavis, e esta segurou a mão de Felicia, que me puchou. Eu. A ultima do grupo.
E agradecemos por Alex ter o feito porque acreditamos firmemente que, se ela não o tivesse feito, estariamos todas mortas.

A Oitava FilhaOnde histórias criam vida. Descubra agora