Lanternas de Papel

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Estava ajudando Fal a pregar as lanternas de papel pela casa. Depois espalhamos velas por todos os lados. Tinha certeza de que Miriam gostaria.
- Ela vai dizer sim. Eu tenho certeza.
Fal sorriu para mim e me ajudou a descer com a mala pelas escadas.
- Você pode ficar se não estiver se sentindo bem?
- Eu estou bem, Fal. E quero muito que você faça o pedido hoje. Por mim.
Eu sabia que Fal estava ansioso por isso, mesmo que não quisesse demonstrar. Olhei para a caixinha onde estava encondida a aliança mais bonita do mundo, que eu tinha ajudado Fal a escolher. Sorri para ele. Ele sabia que, depois do que tinha acontecido no dia anterior, talvez eu desistisse de ir.
- Você não está esquecendo nada?
- Acho que não.
- Certo. Então podemos ir.
Ele me ajudou a colocar as malas no carro. Eu não tinha força suficiente.
Eu sempre sentira frágil em relação ao resto do mundo. A maior parte das pessoas conseguem carregar as malas sozinhas, mas eu sentia a minha respiração ofegante falhar eventualmente enquanto tentava entrar no carro. Fiquei tonta. Fal me ajudou a subir:
- Só prometa não desmaiar enquanto estiver por lá.
- Não vou. - extendi meu mindinho e torci-o contra o seu. Era uma promessa.
Olhei uma ultima vez para as lanternas de papel que tinha ajudado a pendeurar. Tinha roubado algumas e colocado na minha mala, me ajudari a arrumar meu quarto.
- Eu sei que você pegou aquelas lanternas de papel, Bran.
- Posso ficar com elas? Elas vão me ajudar a sobreviver lá.
- Tudo bem, você pode ficar com elas.
Fechei a porta traseira do carro. Não podia evitar pensar que ele estava ansioso para se livrar de mim. Fal deu a partida. Em algumas horas, chegaríamos ao lugar onde eu passaria o próximo mês, uma casa no meio do nada, onde meus pais se conheceram e onde eles passavam as férias quando eram jovens.
Segundo minha tia, o lugar não tinha nada de extraordinário como meus pais contavam, era só uma casa velha cercada de mato onde adolescentes desocupados iam para passar as férias.
Fal começou a dirigir e eu vi a casa dos meus tios ficar para trás. Seguiamos pela avenida até dobrarmos em uma estrada de terra, e nela seguimos o resto da viagem.
Segui o percurso imaginando como seria a casa de que meus pais tanto falavam e planejando onde pendurar as lanternas. Podia pendurá-las em qualquer lugar: uma estante, uma prego ou até mesmo no chão.
A cidade ficava para trás e tudo que eu podia ver eram os pinheiros altos que seguiam a estrada como se formassem um grande túneo. Como se estivéssemos presos lá dentro.
Então passamos por algumas formações rochosas esquisitas. Enquanto o céu escurecia, pude ver os corvos voando sobre nós. Fechei o teto solar. Encarei a estrada de terra.
Eu só esperava chegar logo.
No dia anterior, antes de ser sequestrada por um maluco que,por algum motivo, sabia meu nome, eu não tinha certeza se queria passar as férias na casa onde meus pais se conheceram, mas naquele momento tinha total certeza. Eu só precisava fugir de toda aquela loucura.
Então o telefone de Fal vibrou. Ele fez um gesto para que eu atendesse:
- Alô? - perguntei.
- Bran? Isso é sério? Você quer mesmo ir para essa casa?
- Sim. Vai ser divertido.
Então pude ouvir pequenos gritinhos de felicidade pelo telefone. Tia Miriam estava feliz, Fal estava feliz. Eu estava feliz. Não ia deixar que um sequestrador maluca me impedisse de fazer a viajem que eu tinha planejado por mêses.
Respirei fundo. Ok. Eu tinha que superar essa história de sequestro se queria ter um bom mês de férias. Eu tinha outras coisas com as quais me preocupara agora. Coisas normais.

A Oitava FilhaOnde histórias criam vida. Descubra agora