Capítulo 29

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Pouco antes da hora de dormir, foi a hora perfeita de usar o diário pela primeira vez. Ela tinha amado o presente e queria finalmente escrever algumas palavras nele. Nada melhor do que o resumo de seus ultimos meses, para depois poder escrever dia após dia. Ficou até uma hora da manhã escrevendo. Mas William não saia de sua mente, nem com toda aquela distração. Ao contrário, ela havia escrito seu nome várias vezes. Estranho pensar frequentemente numa pessoa... muito estranho. Ela já havia se apaixonado antes, em sua adolescencia, então saberia se fosse amor - ou achava que saberia.

No dia seguinte...

Após realizar todas as suas tarefas como, ajudar a tia preparar o café e o almoço, ajudar a faxineira a arrumar a casa ela estava livre, e livre podia fazer o que bem entendesse. Pegou um livro que tinha comprado na cidade, antes de ir pra fazenda. Ainda não tinha terminado, estava no começo e não conseguia dar continuidade a leitura. Então, dedicaria esse dia para ler mais. Nada de Daniel. Hoje não. E quem sabe assim, ela parasse de pensar em William...

O lugar mais bonito, tranquilo e silêncioso para ler era o campo de flores. E foi para lá que ela foi. Lembrava direitinho o caminho e sabia que estava certa quando todo o barulho da fábrica de mel sumia e o silêncio daquele paraíso limitado começava ser a única coisa ouvida. Ela caminhou entre as flores. Elas estavam bem mais lindas do que da última vez. Pegou uma rosa branca e a beijou. Sua mãe adorava aquela flor... e por isso, sempre que via uma, a pegava. Era como sentir o aroma dela... que saudades ela estava fazendo.

Se sentou em baixo da árvore, abriu o livro e relaxou... O silêncio facilitava a leitura, a cada um mínuto, uma página ia embora. Mas William não ia embora de sua mente. Se imaginava como o casal do livro. Mas lutava contra sua imaginação. Aquilo era bobagem. Logo passaria. William era apenas seu amigo e isso continuaria até o último dia de sua vidas. Era só fazer o possível para não pensar nele.

- Oi. - William apareceu de surpresa e se sentou ao lado dela.

- Que susto! - levou a mão no coração.

- Desculpe, não notei que estava distraída. - ele sorriu de ladinho. Como era lindo quando fazia isso. - Atrapalho?

- Não, que isso! - ela desviou o olhar, sem jeito.

- Tava passando por aqui, pra levar umas flores pra Ximena... - Maite sentiu uma pontada de ciúme lhe atacar ao ouvir isso. - Aí eu vi você aqui, lendo...

- Pois é, esse é um ótimo lugar para ler... eu, ainda posso vir aqui, né?

- Claro, Mai! Quando quiser!

Maite sorriu e olhou pra ele, que também olhava pra ela. William passou fez um carinho na mão dela e a olhou novamente dizendo:

- E o diário? Escreveu alguma coisa?

- Ah, sim... como não ia lembrar do que aconteceu desde o dia que vim pra cá, fiz um resumo... foi legal.

- Ahh que bom! - ele sorriu animado. - E eu posso ler esse resumo?

- Claro que não! - riu dando um tapinha nele. - Onde já se viu, ler o diário de uma moça?

- É! - ele afirmou com a cabeça. - Você tem toda razão.

- Vem, leia comigo! - ela o puxou.

Os dois ficaram bem próximos, Maite lia algumas coisas do livro e explicava para William a história, porém sua atenção estava inteiramente na boca dela. Era linda... tão desenhada. Sentiu tanta vontade de beija-la mais uma vez. Mas não podia. Amava Ximena. Se perguntava por que tinha esses desejos estranhos! A única mulher que ele tinha que ter vontade de beijar, era Ximena... mas não. Maite o cativava, o fazia se sentir bem. Eles tinham uma química, uma conexão incrível, mas os dois não viam isso.

Alguns minutos depois, na paz do pequeno paraíso, eis que a desgraça do momento chega.

- Oi gatinho! - Ximena o apertou e falou com sua voz melosa. - Estava te procurando por todo lugar, então sua babá disse que você poderia estar aqui.

- EX babá... - ele sem graça corrigiu.

- Hum, é! Ex! Agora quem cuida de você todas as noites sou eu, né bebezinho lindo cute-cute? - ela fazia carinho na orelha de William, que estava visivelmente constrangido. Ximena sorriu e olhou pra Maite. Tudo aquilo era para provocá-la, para ela sair dali.

Maite suspirou e guardou o livro dentro da bolsa. Pegou a rosa branca e se levantou dali. William a olhou enquanto caminhava e foi atrás.

- Ei, já vai? - ele segurou na mão dela.

- Sim. Acho melhor deixar você e sua noiva em paz, né... - sua voz estava meio baixa, mostrando que algo não estava bem. Aliás, desde que Ximena chegou, nada estava bem.

- Ah, que isso... pode ficar. Aconteceu alguma coisa? Ficou chateada?

Maite engoliu seco e olhou pro horizonte. Sentiu que seus olhos iriam se encher de lágrimas e precisava se conter. Fechou os olhos por alguns segundo então voltou a olhar para William.

- Não. Que isso... - disse com sua voz falhada mais uma vez.

- Não é o que parece. - ele falou se mostrando preocupado.

- Eu só estou um pouco cansada. Acho que... é melhor eu ir me deitar um pouco, não sei.

- É, está um pouquinho abatida sim. Quer que eu te acompanhe?

- Não! - ela disse firme mas depois dirfarçou. - Não precisa, William... olha, fica com sua noiva... não quero dar trabalho. - virou as costas e foi.

William a olhava partir. A graça do lugar havia ido. Tentou voltar ao seu jeito normal e dar atenção para Ximena, mas ficou preocupado com Maite. Algo no seu olhar estava muito triste...

No caminho para a volta de casa, as lágrimas teimosas de Maite não exitaram em sair. Ela mesma não conseguia conter o pranto. Secava mas não adiantava. Tinha um nó em sua garganta, um aperto enorme no coração.

- Ai, William... será que estou gostando de você? - falou bem baixinho e sozinha.

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