Capítulo 2 (parte 1)

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O salão em volta de Elijah zumbia e girava com a tagarelice alegre e a dança animada, mas, em seu âmago, ele não conseguia parar de procurar por problemas. Qual seria o primeiro sinal que lhe permitiria ser mais rápido, mais inteligente e mais preparado que todos os outros? Da relativa paz do canto escuro, ele observava os convivas sem parceiros de dança, os cochichos, os excluídos. Mas, evidentemente, ao voltar o olhar à pista de dança, ele percebeu que procurava no lugar errado. O problema estava bem no cerne da festa, dançando com a noiva. A cabeça clara dele curvava-se em direção à escura, ouvindo, a boca expressiva sorrindo e murmurando de um jeito que transmitia uma intimidade imediata. Por que Elijah se deu ao trabalho de olhar para todo lugar que não para Klaus? Teria sido um erro esconder do irmão mais novo e impetuoso os termos da paz entre os lobisomens e os bruxos? Como todas as rixas respeitáveis, esta terminava com um casamento entre as duas famílias, e Elijah prometera que os vampiros não perturbariam o acordo. Ele pensara que o segredo para manter o irmão na linha seria desviar sua atenção de Vivianne e seu prometido, já que Klaus parecia ter um pendor nada natural para querer o que não era dele. Mas este plano foi um completo fracasso. Vivianne Lescheres, a rara filha de uma bruxa com um lobisomem, era uma mulher com um destino. A nova e frágil paz dos cidadãos sobrenaturais da cidade dependia inteiramente de seu casamento iminente, e os irmãos Mikaelson dependiam dessa paz. Rebekah havia argumentado de forma fervorosa e convincente que contar a Klaus sobre uma bela jovem que lhe era proibida só garantiria que ele a seduzisse, mas, ao que parecia, não ter contado também não ajudara em nada. - Está vendo isso? - Rebekah suspirou, contornando uma coluna para se juntar ao irmão no escuro. - Sempre podemos confiar que ele encontrará um jeito de se meter em tudo, sem sequer saber do que se trata. - Precisamos contar a ele agora - rosnou Elijah, certo do erro que os dois cometeram. - Ele ficará ainda pior se descobrir sozinho. - Alguma vez ele esteve melhor, para piorar? Aparentemente satisfeita com esta tirada, Rebekah voltou à pista, varrendo o chão encerado com o vestido. Ela frequentemente deixava claro que acreditava que não existia um jeito de manipular Klaus, mas Elijah recusava-se a deixar de tentar. Os três conseguiram permanecer juntos e sobreviver por todo esse tempo - por quase mil anos. Separados, não havia futuro para eles. Ele tentou gesticular para Klaus, mas só conseguiu chamar sua atenção por um breve segundo antes que o irmão voltasse os olhos para a meia-bruxa. Elijah perguntou-se o que a garota estaria dizendo a ele; de certo modo, duvidava de que estivessem falando de seu noivo. Seria insolente demais interromper agora. Só podia observar conforme as trombetas soavam e Vivianne deixava Klaus para se unir ao futuro marido. Pelo rubor afobado nas bochechas de Vivianne, Elijah tinha certeza de que ela estivera brincando com Klaus. Considerando que seu irmão provavelmente pretendia devorá-la, era difícil para Elijah guardar rancor, mas parecia que Klaus não era o único que demandava uma atenta observação. - Sei que os bruxos selaram um acordo permitindo que vocês fiquem em Nova Orleans - retumbou uma voz em seu ouvido. - Se dependesse de mim, vocês seriam jogados de volta no rio Saint Louis. - Solomon Navarro era o tipo de homem que não escondia sua verdadeira natureza. Imenso, musculoso e exibindo uma cicatriz iníqua do lado direito do rosto, mais parecia um lobo fingindo-se de humano do que o contrário. Nem mesmo a casaca impecável dava a ilusão de civilidade superando a selvageria. - Meus parabéns pelo noivado de seu filho - respondeu Elijah educadamente, lutando com toda sua vontade para não mostrar as presas ao homem enorme e carrancudo. - Deve estar muito orgulhoso. Elijah sentia que era mais importante ser visto ali, prestando seus respeitos aos poderosos clãs locais, do que se preocupar em ser flagrado sem convite. Talvez houvesse subestimado a tensão de uma ocasião tão feliz.
- Ela pensa e age como uma bruxa - rosnou Sol, indicando Vivianne com desdém. - O pai morreu cedo demais para ter alguma influência em sua criação, o que foi uma oportunidade perdida. Mas, como símbolo, sua ancestralidade pode ser útil. A não ser que a coisa que você trouxe coloque os dentes nela, evidentemente. Já pensou alguma vez em curar seu irmão de sua ignóbil imortalidade? - Niklaus não criará problemas - garantiu Elijah ao homem gigante, com um olhar rápido ao irmão. Klaus estava fora de alcance, mas mesmo assim sempre parecia saber quando os irmãos não estavam inteiramente do seu lado. A crença de Klaus de que não pertencia a essa família por ser apenas meio-irmão era o veneno que dividia e colocava em risco os Originais. Entretanto, apesar de suas melhores intenções, Elijah jamais conseguiu convencer o irmão do contrário. Ainda assim, a raiva de Sol de certo modo era justificada e não só devido à imprudente dança em andamento. Klaus começara sua estada em Nova Orleans caçando lobisomens. As bruxas fizeram vista grossa, exigindo apenas que os Mikaelson não criassem novos vampiros. No entanto, com o casamento, o equilíbrio da paisagem sobrenatural alterava-se. Um massacre - mesmo pequeno, mesmo um massacre que tinha cessado havia anos - poderia ser usado contra eles pelos bruxos e lobisomens. Pensando bem, os Mikaelson nem deveriam ter vindo a esta festa. - Ele tem sido um problema desde que vocês três aportaram aqui - disse Sol rispidamente, e Elijah entendeu que ele ainda guardava ressentimentos. - Fui informado de que há um cadáver no jardim leste. Uma das humanas. Klaus . - Então não sei por que está tão aborrecido - respondeu Elijah dando de ombros, rígido. Percebeu que sua paciência para a diplomacia tornara-se perigosamente escassa. - Se ele está ocupado com humanos, não ameaça sua espécie. Ainda assim, não faria mal lembrar a seu bando que fiquem entre quatro paredes depois do anoitecer. É uma questão de bom senso para qualquer um que não consiga lidar com um vampiro sozinho. O golpe pegou Elijah inteiramente desprevenido, atingindo seu maxilar e o fazendo rodar antes mesmo que pudesse reagir. Ele ouviu um rosnado e dois olhos selvagens brilharam amarelos em algum lugar nas sombras. Elijah sentiu os dentes ficarem afiados e mortais, mas os rosnados se multiplicaram e ele ficou petrificado.

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