.II.

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O tempo foi passando e já tínhamos uns dezoito anos por essa vida. Como não esquecer de tudo ? eu não esqueci. Cada momento apesar do tempo se mantém vivo em mim, na minha mente e no meu coração.

Gabo e eu éramos jovens loucos e aventureiros, festeiros entre nós. Sabe aquela sensação de estar ao lado da pessoa mais louca do mundo e sentir que não existe amanhã e caso exista você não está nem um pouco preocupado com isso?. Pois é , eu senti isso, cada mínimo detalhe.
Lembro-me das noites dançantes no quarto dele, era tudo muito mágico, meio louco, meio nós . As caminhadas no fim de semana pela cidade, as quais nunca decidiamos para onde ir mas sempre parávamos nos mesmos lugares. As viagens que fizemos marcadas por milhares de fotografias as quais guardo até hoje.
As horas pareciam voar perto dele e isso era um saco. Eu não desejava estar em outro lugar a não ser aonde ele estivesse.

Gabo mudou bastante com o tempo, tipo vinho . Ele melhorou e como melhorou, ele não precisou tirar as meias estranhas e deixar de assistir desenhos para se tornar o que se tornou. Ele parecia mais livre, mais vivo, e eu , bom, eu amava isso. A maneira que ele amava a vida e me puxava junto para amar com ele.
Éramos ótimos alunos, melhores amigos, amávamos doces e Família Dinossauro e sabíamos aproveitar a vida como ninguém. Não tínhamos o que reclamar. Nada nos faltava.

Mas nem tudo que é bom dura. Dizem que alegria demais sempre acaba. Minha vida estava boa demais e eu tive que criar problemas, como sempre e destruir tudo, sou a culpada por tudo, confundi as coisas e acabei lutando contra algo que sempre me dominou.

Ser amiga de Gabo não era o suficiente, eu queria mais. Além de estar no presente dele eu queria estar para sempre no seu futuro mas Gabo nunca demonstrou sentir o mesmo por mim .

- Gabo, eu estou nos seus sonhos ou planos de vida?. -Estava trêmula mesmo fingindo ser uma pergunta boba.
- Claro Lorry, eu quero você pra sempre na minha vida. - Eu precisava perguntar aquilo?.
- Como melhores amigos ? - Meu coração quase saiu do peito por um curto momento.
- É o que somos, não é ?. - Me respondeu sorrindo.

Naquela hora eu não sabia o que dizer, meu coração palpitava mais rápido que a velocidade da luz. Eu queria dizer o que sentia mas tive medo de perder o que tínhamos de mais importante.

- Claro ! Eu não consigo ser namorada de um chato feito você. - Dei aquela risadinha irônica com uma cara de tentar mostrar o que queria esconder.

Ele abaixou a cabeça como se tivesse entendido exatamente o recado no qual eu não deveria ter dito. Ele não se tocou. Como diz uma canção de Ed Sheeran "Apenas as palavras sangram", e minhas palavras deixaram cicatrizes até hoje e talvez até o fim de minha vida. Eu não sabia como, mas eu precisava mudar aquilo, por quê ele nunca demonstrou gostar de mim como eu gostava dele ? será que eu era feia ? não era boa o suficiente para ele ? Eu precisava mudar. Apesar de saber tudo sobre ele nunca falamos de garotas, na verdade nunca o vi gostar ou falar de uma, o seu "tipo".

- Gabo, que tipo de garota você se interessa?.
- Por quê essa pergunta agora no meio do meu filme favorito?. - O filme era Família Adams.
- Ah... eu não sei. Vai Gabo ! me conta, você já se apaixonou? já beijou alguém?a gente nunca conversou sobre isso.
- Você não sentiria ciúmes de mim?. - Me olhou com um olhar convencido.
- Claro que não!. - Bati em seu braço e rimos. - Por quê eu teria? Deixa de ser bobo e me conta.
- Está bem. mas não vai rir de mim?. Promete?.
- Eu prometo. - Beijei meus dedos cruzados como prova de uma promessa.
- Eu nunca beijei ninguém.
- Sério?. - Porquê não me beija agora?. Foi apenas em pensamento isso.
- E sobre meu tipo, eu gosto do jeito da Léia. Ela é linda e extrovertida, se dá bem com todo mundo. - Eu odiava a Léia.
- A Léia Gabo ? Logo a Léia? Ela é a garota mais ridícula e patricinha da escola. Faz tudo pra chamar a atenção e só quer se envolver com caras populares e ricos.
- É por isso que eu nunca vou ter chances com a Léia. - Graças à Deus.
- Agora vamos continuar assistindo antes que o refrigerante esquente.

Não prestei atenção no filme por segundo algum. Aquilo não saiu da minha cabeça. O quanto Léia e eu somos diferentes, o quanto ele jamais teria chances com Léia e o quanto eu jamais teria chances com ele.

Sem Você, Lorrane.Onde histórias criam vida. Descubra agora