{MARTA}

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Escrevo este capítulo totalmente dedicado a ela. Marta, a mulher da minha vida.
Dona Marta nunca precisou ser minha mãe para me amar e me ensinar a viver.
Meus problemas sempre foram contados a ela.
Lembro-me da primeira vez que nos vimos. Ela estava com um vestido verde lodo e com brincos de esmeraldas, cabelos negros até o ombro e um sorriso de quem realmente estava realizada em se mudar para aquela casa. Ela estava de mãos dadas com Gabo enquanto seu esposo colocava algumas caixas para dentro. Ela se aproximou de mim e meu pai que estava sentado na calçada em busca de ver alguma novidade naquela rua.

- Olha Gabriel! Que menina mais linda!. Qual o seu nome?.
- Sou Lorrane. - Respondi com aquela voz de criança meiga que só eu sabia fazer.
- Diga Oi a Lorrane Gabriel!.- Empurrando ele de uma força carinhosa para perto de mim. Gabriel não falou nada, apenas nos encaramos e rapidamente corri para o lado do meu pai.
- Vocês serão nossos vizinhos?. - Perguntou meu pai com um tom curioso.
- Sim. Meu marido foi transferido e tivemos que vir pra cá. Acho que essa nova morada vai nos trazer coisas boas. Gostei bastante da rua e gostei muito da sua filha, acho que Gabriel e ela vão ser grandes amigos. - Meu pai sorrio observando a retirada das caixas.
- Agora preciso ir.. Meu marido precisa de mim. Tchau senhor ! Tchau Lorrane! Até mais.
- Só uma coisa ! Qual o seu nome?.
- Me chamo Marta. Este é meu filho Gabriel e aquele é meu esposo Gregório dos Anjos. E o seu ?
- Me chamo Pierre. Pierre Sperotto.
- Um prazer conhecê-lo Sr.Pierre. Até mais.

No dia seguinte Dona Marta me levou biscoitos feitos por ela, mal sabia ela que o melhor presente ela já havia me dado.
Nossos natais nunca mais foram os mesmos. As árvores eram as mais lindas de toda a rua. Eu e Gabi brincávamos em torno da árvore de Natal enquanto os adultos conversavam sobre a juventude . De dois nos tornamos cinco e depois nos tornamos sete com a chegada de Solar e do Byte.

Nas nossas férias de Julho no nono ano escolar fomos para uma serra onde não me lembro o nome mas era uma chácara linda próximo a uma cachoeira mais linda ainda. Na naquele dia

estão destinadas a acontecer, às vezes para o nosso bem, às vezes para o bem delas.
Dona Marta, mãe de Gabo, foi diagnosticada com câncer cérebral, naquele mesmo ano. Me contaram que já estava avançado e todos nós ficamos arrasados.
Dona Marta foi uma mulher maravilhosa e sempre permitiu minha amizade com Gabo. Sorridente e amorosa eu a tinha como uma mãe.

Me lembro com clareza o dia em que fomos para casa da família de Gabo na serra. Dona Marta passou a tarde toda brincando com a gente.

Meu pai abriu a porta do meu quarto e veio me dizer que Dona Marta estava acamada e queria muito me ver. Meu coração apertou, aquilo realmente parecia a despedida de alguém certo de sua partida. Com os olhos cheios cheguei ao seu quarto. Ela, magra e pálida e Gabo ao seu lado. Gabo parecia destruido, tanto por fora quanto por dentro.

- "Olha quem chegou..." - disse Dona Marta com a voz fraca.
- "A minha menininha se tornou uma mulher. Entre minha filha".

Sentei ao seu lado na cama, de frente para Gabo e foi naquele momento ouvi o que esperava ouvir há muito tempo.

- "Chamei vocês aqui por uma razão. Isso me enfraquece a cada dia e eu não posso deixar isso terminar dessa maneira.
O amor é sorte. Muitas pessoas pedem à Deus todos os dias para terem o que vocês têm de sobram. Os olhos de vocês deixam bem claro o que os seus corações tentam esconder. Vocês só irão perceber isso quando se perderem para sempre.
Diga à ela Gabo! diga quem é a garota por quem você é apaixonado!. Diga à ela que ela é a garota que você pensa todos os dias!."

Segurou nossas mãos e as colocou uma sobre a outra.

"Não importa o que aconteça, aonde estejam ou o que estejam fazendo, vocês pertencem um ao outro e os destinos que Deus traça homem nenhum consegue separar."

Nos olhamos por alguns instantes. Aqueles olhos castanhos se encheram de lágrimas mas ele resistiu bravamente àquele sentimento e logo saiu. Parecia bravo, parecia, queria mostrar que estava, mas eu sabia que não era exatamente aquilo que ele queria demonstrar. E eu, bom, eu nem sabia para onde ir.

Não consigo entender como lembranças tão especiais se apagaram tão rapidamente da minha memória, talvez pela imensa correnteza de problemas que apareceram na minha vida. Meu Deus! O que fiz?.
Eu poderia ter ido atrás dele, deveria explicar tudo desde o início, mas não fui, fui fraca. Deixei Gabo ir sem muitos esforços, mesmo sabendo que talvez seria o fim de algo que nem havia começado.

Me sentia sozinha neste mundo populoso, sem caminho, sem direção. Resolvi me afastar, talvez seria melhor para todo mundo. Quem gostaria de ter em sua vida uma pessoa que se arrepende de tudo que fez e que não fez desde o começo ? Quem quer ter em sua vida uma pessoa perdida como eu ?. Sumi para Lyne por muito tempo talvez por uns 4 meses. Estava sem sentido novamente, como de costume. Tudo que fazia era ficar em um quarto, pensando o quanto era uma perda de tempo viver.

Alguns dias depois chegou um recado no meu correio eletrônico, era Lyne. Ela parecia nervosa.

-"Amiga! por favor me atenda! Gabo vai embora para outra cidade, a mãe dele vai fazer tratamento lá. Você precisa falar com ele!.Talvez nunca mais volte. Por favor, não desperdice, essa pode ser a sua ultima chance de ser feliz. Eu sei que ele vai lhe entender."

Eu poderia estar destruída por isso e pela doença de Dona Marta, mas não era só por isso. Ele tinha que ir e me esquecer de vez, eu nunca mereci o amor dele. Ele só tinha que cuidar de Dona Marta e procurar ser feliz, sem mais problemas. Eu só seria um fardo na vida dele. Eu precisava carregar esse peso sozinha, eu procurei por ele, e agora devo lutar só, com ele e por ele. Eu além de perdida estava esperando um bebê, de Isaac.

A vida de uma adolescente grávida nunca é fácil. Seus sonhos de ter um futuro viajando o mundo ou curtindo festas e comprando roupas caras foram destruídos. Por mais que você tente pensar diferente você sabe que vai passar a sua vida acordando na madrugada, lavando fraldas, e carregando uma criança nos braços. Não tinha emprego, não tinha faculdade, não tinha amigos, não tinha um homem que me amasse. Meu pai decepcionado me expulsou de casa e tive, infelizmente, que morar com Isaac e sua irmã, Lana. Eles viviam bem, eram sustentados pelos pais que moravam na capital, eram donos de uma drogaria. Lana era uma das pessoas mais perversas e invejosas que já conheci, apesar de não ter nada, ela sempre queria tirar algo de mim.
Como não tinha mais condições de trabalhar
, cuidava de todo o trabalho da casa enquanto Isaac e Lana estudavam e festejavam, sim, festejavam. Tinha que enfrentar as dores e todos os problemas enquanto eles são se importavam se eu tinha me sentido bem durante o dia. De vez em quando a mãe de Isaac me ligava para perguntar se precisávamos de alguma coisa.Nunca a conheci pessoalmente, mas estava bem claro que não estava nem um pouco contente com a minha gravidez, nunca me perguntaram o sexo, ou se eu e o bebê estavam bem. Pensei em abortar algumas vezes, fazer qualquer coisa pra fugir daquilo. Mas logo pensava que este ser não merece morrer por alguém como eu.

Sem Você, Lorrane.Onde histórias criam vida. Descubra agora