Fermosos olhos, que na idade nossa (1595 - soneto 091)

290 3 2
                                    

091

Fermosos olhos que na idade nossa
mostrais do Céu certissimos sinais,
Se quereis conhecer quanto possais,
olhai me a mim, que sou feitura vossa.

Vereis que de viver me desapossa
aquele riso com que a vida dais;
vereis como de Amor não quero mais,
por mais que o tempo corra e o dano possa.

E se dentro nest'alma ver quiserdes,
como num claro espelho, ali vereis
também a vossa, angélica e serena.

Mas eu cuido que só por não me verdes,
ver vos em mim, Senhora, não quereis:
tanto gosto levais de minha pena!

Sonetos  de Luís de Camões Onde histórias criam vida. Descubra agora