"Lamentar uma dor passada, no presente, é criar outra dor e sofrer novamente."
William Shakespeare
- Julieta? – gritou Henry.
Depois de pagarem seus cafés, Julieta saíra correndo, sem nem ao menos espera-lo. Conseguiu segui-la até o parque, onde avistou suas madeixas ruivas uma última vez entre as árvores, antes de sumir novamente. Parou um minuto para recuperar o fôlego. Nesse momento sentiu-se um pouco arrependido por ter questionado Julieta sobre seu passado. Ela não reagira muito bem, talvez por isso tivesse saído correndo. Talvez quisesse se distanciar dele e nunca mais vê-lo.
Andou lentamente pelo parque, seu olhar atento a qualquer movimento. A alguns centímetros a sua frente, viu um pequeno objeto jogado no chão. Andou até lá, e percebeu ser um batom, caído aberto, mostrando sua cor vermelha. Mais alguns centímetros a frente, viu uma lanterna caída. Pegou os dois objetos, imaginando serem de Julieta.
Ouviu um farfalhar, mas o som de algo pousando no chão. Andou cautelosamente, para quem quer que fosse não acabasse fugindo. Chegou num lugar cercado por árvores, sem luz alguma. Tentou ligar a lanterna, mas percebeu que não havia pilha nenhuma. Ouviu o barulho de algo chocando-se contra a água, e começou a se direcionar, guiado pelo som antes que tudo caísse num completo silêncio novamente.
- Achei que nunca chegaria. – falou Julieta. A garota estava em pé dentro do lago ao final da pequena floresta. Sua mochila estava jogada no chão, e quando viu seus pertences na mão de Henry, disse – Pode colocar isso na minha mochila? Ela está com um furo horrível.
O rapaz abaixou-se, e quando abriu a mochila, viu que ali dentro também tinham uma caixa de sapatos, um cobertor, duas toalhas, e algumas mudas de roupa. Guardou os objetos, e levantando-se, percebeu que as roupas de Julieta estavam jogadas no chão, e só então percebeu que debaixo d'água, apenas sua lingerie cobria seu corpo magro.
- Não acha que está um pouco frio pra um banho em um lago?
- Que bobeira, a água está ótima. O que está esperando, tire a roupa agora e vem. – quando terminou de pronunciar estas palavras, a garota corou violentamente, e temeu que Henry interpretasse o que ela disse de forma errada.
- São quase meia-noite, não acho que seja certo mergulhar sem roupas a uma hora dessas. E se alguém chegar aqui? Encontrar duas pessoas sem roupas dentro da água não é algo muito comum. Principalmente em uma praça pública.
- Essa sua atitude de bonzinho está começando a me irritar. – resmungou Julieta, se aproximando da margem, e sentando-se ali.
Henry tentou desviar o olhar, mas foi inevitável que seus olhos passassem pelas curvas sutis no corpo da garota. Mas outra coisa que chamou sua atenção, foram algumas manchas arroxeadas na cintura, e algumas pelas costas.
- O que é isso? – ele questionou, se aproximando bruscamente, o que fez com que a garota se assustasse e caísse na água novamente. Julieta olhou pra Henry com os olhos arregalados, pensando no erro que tinha cometido, e implorando mentalmente para que o rapaz não fizesse nenhuma pergunta.
- Não é nada, machucados da infância. Nada com que deva se preocupar. Poderia me passar a toalha que tá dentro da mochila?
- Não tenta desviar o assunto...
- Não estou tentando, eu realmente quero que você pegue a toalha, porque to cansada de ficar aqui dentro, ou quer continuar a me ver só de roupa intima? – a garota questionou em um tom ácido, com uma sobrancelha levantada, tentando passar que aquilo que afirmara no inicio era verdade, e torcendo para que ele acreditasse.
Apesar de não ter se dado por vencido, Henry pegou a toalha, e jogou para Julieta, emburrado. Sabia que aquilo não podia ser um hematoma qualquer.
Depois de se secar, e vestir-se, Julieta retornou a toalha para sua mochila, e colocou-a em suas costas. Henry, percebendo o que ela estava prestes a fazer, segurou em seu braço firmemente.
- Vai correr de novo? Não sei se sabe, mas não estou muito em forma pra uma segunda perseguição.
A garota se voltou para ele, que manteve as mãos em seus braços.
- Eu preciso ir em bora.
- Olha, se foram pelas perguntas, não quero que você se sinta mal por isso, só quero saber um pouco mais sobre você.
George. A garota sentiu vontade de gritar o nome que a tanto tempo a perseguia. Queria falar alto o bastante para que todo o universo ouvisse. Queria que as lágrimas que segurava a tanto tempo, caíssem por seu rosto, e acima de tudo, queria que alguém a abraçasse, e dissesse que tudo ficaria bem, que tudo ficaria no passado, mas as marcas em seu corpo mostravam que por mais que tentasse esquecer tudo aquilo, tudo permaneceria marcado nela pra sempre. Talvez o que aconteceu a seguir, tenha sido uma devido a explosão de sentimentos e memórias que surgiu em sua mente, mas de forma espontânea, Julieta enlaçou seus braços em volta do pescoço de Henry, e uniu seus lábios, sendo retribuída de forma fervorosa pelo garoto.
Flashes de seu passado obscuro surgiram inesperadamente em sua mente, como se o beijo trouxesse tudo a tona. Sentiu o gosto salgado de suas lágrimas. Henry afastou-se, com as mãos em seu rosto, e delicadamente, secou suas lágrimas.
- Eu te amo!
E Julieta sabia o que isso significava.
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Julieta
Short StoryAbandonado por sua esposa no altar, Henry não esperava encontrar Julieta, uma garota espontânea, que ajudará ele a passar por esse momento dificil em sua vida. Vencedor do primeiro lugar do "Nosso Próprio Desafio" Capa por @ClarieMas7