Capítulo 2

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Não foi difícil chegar à escola. Ela ficava localizada bem em frente a um canal de águas rasas, que seguia a perder de vista bem no meio da avenida.

Vários alunos sentavam-se na mureta do canal para conversar enquanto esperavam o sinal tocar. A construção tinha três andares e sua pintura azul e cinza estava suja e desgastada.

Já deveria estar quase na hora de fecharem os portões, por isso havia muita gente atravessando a avenida para entrar. Bianca fez o mesmo, espremendo-se entre alguns alunos. Assim que entrou, parou bem perto das grades que davam para uma quadra esportiva. À direita, havia um grande pátio interno e escadas para o piso superior. Ficou ali por algum tempo, tentando decidir para onde deveria ir.

Uma inspetora de alunos, morena e grandalhona, usando um crachá no pescoço, passou por ela e Bianca aproveitou para pedir informações sobre a localização de sua sala de aula.

– Certo... Terceiro ano B, não é? – disse a mulher, olhando em volta para os estudantes espalhados em rodinhas de conversas.

– Isso... – confirmou Bianca.

– Fernanda! – gritou a inspetora para uma menina alta e morena de cabelos escuros. A garota olhou-a um pouco surpresa.

– Você é do Terceiro B?

– Não, eu sou do A.

A inspetora grunhiu algo, mas em seguida Fernanda apontou para um menino alto e magro encostado na grade, usando seus fones de ouvido.

– Mas o Renan é do B.

A inspetora se virou para o menino e já foi logo gritando o nome dele. O garoto olhou confuso e depois que percebeu que era com ele mesmo, tirou os fones e olhou com mais atenção.

– Menino, você é surdo, é?

– Hãm?

– Você é do Terceiro B?

– Sou sim.

– Ótimo! Pode levar esta garota nova até a sua classe?

Ele olhou para Bianca com uma expressão de espanto e disfarçada satisfação.

– Hamm... claro... sem problemas.

Mal respondeu e a inspetora deu as costas, afastando-se.

O garoto era magro e usava uma blusa de gola alta preta sob a camiseta azul com o símbolo da escola. Também usava óculos com armação quadrada preta e seus cabelos castanhos eram curtos, mas faziam suaves ondas no topete jogado para o lado.

– Oi, eu sou Renan – disse ele, oferecendo a mão. Bianca achou engraçado o cumprimento tão formal na escola, mas ele parecia um pouco nervoso com a presença dela, então apenas retornou o cumprimento sorrindo.

– Oi, e eu sou Bianca Fernandes.

Ainda bem que era ele e não aquela garota morena, na entrada, a ajudá-la em seu primeiro dia, pois se dava melhor com garotos, principalmente se eles fossem apenas comuns como Renan.

– De que escola você veio? – perguntou, enquanto a guiava pelo pátio apinhado de alunos em direção às escadas.

– De nenhuma de Santos, a última cidade em que morei foi Santo Ângelo, no Rio Grande do Sul.

–Última cidade?

– É... – disse ela, entortando os lábios enquanto subiam as escadas. – Já me mudei bastante por causa do trabalho de minha irmã – e antes que ele perguntasse sobre seus pais, o que sempre acontecia, ela já foi logo explicando. – Moro com minha irmã mais velha. Minha mãe e meu padrasto morreram algum tempo atrás.

Filhos da Lua: o LegadoOnde histórias criam vida. Descubra agora