Prazer, um anjo fracassado!

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Argentina, 1910

Estava sentado na beira da cama da minha filha assistindo-a perder a vida e tentando ser forte e pensar positivo para que ela não sentisse a minha dor.

Ela começou a fechar os olhos e o meu desespero foi inevitável! Havia chamado o médico, mas aonde aquele maldito estava que não havia chegado ainda? Os custos dele eram altíssimos e no momento em que eu mais precisava dele, ele me faltava.

" Victoria,Victoria,Victoria, minha filha.... Abre os olhos, fica com o papai!" Eu disse, segurando a mãozinha dela com toda a força do mundo, como se isso pudesse evitar o inevitável: A sua morte. Foi neste momento em que ela fechou os olhos para nunca mais abrir.

Dei um beijo na testa dela e deixei escapulir lágrimas indesejáveis que me fizeram olhar para os lados, a fim de me assegurar que ninguém tivesse visto, nem mesmo os empregados. Afinal, homem não chora.

O médico chegou instantes depois do óbito, apertou a minha mão e disse: "Desculpe pelo atraso, estava no meu consultório com um paciente quando recebi a sua ligação. Como ela está?"

Foi a ocasião em que mais tive que usar o meu autocontrole. Não queria admitir que tinha perdido a minha única filha, fruto da única mulher que eu amei ( e que já havia falecido). Ela era a minha lembrança viva da minha mulher. Após uma longa pausa respondi:" Ela está... Está morta."

" Meus pêsames" Ele automaticamente respondeu.

"Obrigado" Agradeci friamente, mas queria mesmo era bater na cara dele! Como se uma merda de pêsames confortasse a dor que eu estava sentido. Se ele tivesse chegado há uns 5 minutos atrás...

Após uma longa pausa com ele me fitando os olhos disse me lamentando : "Eu não entendo, a minha filha sempre foi forte, mas depois que a minha mulher faleceu e eu me casei de novo para dar uma mãe para a minha filha, Victoria começou a definhar. A partir da primeira crise dela, a minha atual mulher começou a dar um fortificante, mas que de nada resolveu e o senhor em nada me foi útil, visto que até hoje não me soube explicar o que a minha filha tinha."

Ele respirou fundo tentando se controlar, sabia que eu tinha acabado de perder a minha filha e que eu estava tentando arrumar um culpado para a morte da minha linda Victoria de apenas 7 aninhos e disse:

" Fortificante? Poderia ver, por obséquio?

"Não entendo no que isso vai mudar os fatos, mas vou pegá- lo. Aguarde um momento."

Instantes depois que voltei dei o frasco para o médico e seus olhos castanhos automaticamente se tornaram negros e o seu olhar sereno se tornou frio, então ele os arregalou e disse:

" Isso não é um fortificante e sim um veneno."

Japão, 1970

" Akemi, coragem! Tudo vai dar certo hoje! Você vai conseguir, agora eu preciso ir."

" Maninho, por favor não vai. Estou com medo!"

" Não precisa ter medo. Eu te dei o cordão de ouro da sorte, lembra?" Sorri e apontei para o pescoço dela.

Ela sorriu de novo e me deu um forte abraço e um suave beijo e disse:

" Bom encontro com a coitada que te aguenta. Não é uma tarefa fácil!"

Dei a língua para ela e saí. Foi a última vez que a vi. Minha irmã estava ali para arrumar um emprego, queria que eu a acompanhasse, mas eu preferi encontrar com a minha namorada.

Lembro do quanto eu liguei para saber se ela tinha conseguido o emprego. Ela era linda, tão cheia de sonhos, só tinha 18 anos. Ela não me atendia, resolvi ligar a televisão para relaxar. Tentei me convencer que ela estava bem, tão bem que poderia ter começado a trabalhar naquele mesmo dia. Mas infelizmente não foi o caso.

Ainda Te SalvareiOnde histórias criam vida. Descubra agora