Festejando a morte

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(15/11/2016)

Estava na Sicília, vestido igual a um pinguim de geladeira em uma festa. Comecei a olhar de um lado para o outro a procurando. Mas não foi difícil vê- la. Ela subiu ao palco toda de preto, inclusive os seus olhos.

Não foi difícil demorar para perceber o quanto ela estava triste. Os olhos dela diziam que a boca estava mentindo com aquele sorriso. Por que ela estava triste?

O discurso começou e logo eu entendi o que houve: " Não é segredo para ninguém que o meu pai sofria de câncer, não é segredo para ninguém que temos dinheiro, mas ele não foi o suficiente para fazer com que o meu pai se curasse e agora ele está do lado de Deus e vai continuar cuidando de mim, me protegendo e me amando, mas lá de cima. Então muitos de vocês devem estar se perguntando o motivo de eu estar dando uma festa, de eu estar forçando sorrisos a poucas horas do falecimento do meu pai. Foi exigência dele. Ele pediu para que eu não chorasse e sim festejasse a morte dele porque a morte dele é o começo de uma nova vida para mim. Ele pediu para que eu assumisse a presidência da Empresa Prada assim que ele morresse. Eu aprendi com o vice-presidente, Luigi Milazzo, o oficio. Sim, ele me treinou por um mês a pedido do meu pai. Mas eu nunca quis assumir a presidência, eu rezei todos os dias para que houvesse um milagre e o meu pai ficasse vivo, mas isso não aconteceu. Pai, essa festa é para o senhor! Eu te amo e sempre te amarei! Muito obrigada por tudo, eu jamais te esquecerei e farei de tudo para honrar o seu nome e memória."

O discurso terminou e bateram palmas para ela. Ela sorriu querendo chorar e saiu do palco. Andei para falar com ela, queria que ela chorasse no meu ombro, mas muitas pessoas tiveram essa ideia e eu resolvi ficar quieto no meu canto e observar o local.

Comecei a ouvir gritos de mulher e vi que tinha se formado uma confusão do outro lado do salão, longe da minha Sophia. Esses gritos deixaram de pertencer a uma única mulher para ser um pânico generalizado. Fechei os olhos para entender o que era, sem ter que sair muito de perto da Sophia.

O bandido estava lembrando do que lhe foi passado: Ele estava num bar com um homem que eu não conseguia ver o rosto por mais que eu me esforçasse. Ele estava dizendo para o bandido:

" Chame 150 homens para o trabalho e peça para que peguem todos os celulares dos convidados. A ideia é deixá-los sem comunicação para que não possam chamar a policia. Quebre o telefone fixo. Pegue objetos de valor dos convidados também. Eles têm que pensar que se trata de um assalto, mas se trata da morte de Sophia Chiarelli, que encontrará com o seu pai mais rápido que pensa no inferno. Está tudo em suas mãos, Alex."

Merda. Tenho que tirar a Sophia daqui. Olho para os lados e ela não está mais. Fecho os olhos para ver o que ela vê e logo a vejo no quarto do seu pai. Subo as escadas correndo, enquanto percebo que Alex começa a andar por entre os convidados para achar a Sophia.

Aquela confusão prejudicava a vida do Alex que queria encontrá-la, mas foi pedida por quem encomendou para disfarçar o que realmente estava acontecendo. Ninguém podia sair da mansão, pois tinham bandidos com fuzis na mão impedindo a saída dos convidados, por isso a aglomeração de pessoas parecia ser inevitável.

Entrei no quarto e a vi sentada na cama. "Ótimo discurso! Seu pai deve estar orgulho de você. Deve não. Ele está." Disse para ela.

Ela me olhou, me abraçou e disse:

" Por que você sempre aparece no momento em que eu mais preciso de você?"

Eu sorri e respondi :" Porque eu sou o seu anjo da guarda. Um anjo que Deus enviou para cuidar de você e te salvar de todos os perigos." Lembrei do que ela estava pensando.

Olhei para uma foto dela com o Pai ( Francesco Chiarelli). Não parecia ser uma foto antiga e sim de alguns meses atrás, não mais do que 1 ano atrás. Ela era loira, estava vestida igual a uma patricinha e não desse jeito revoltada com a vida. Preferi não dizer nada.

Ainda Te SalvareiOnde histórias criam vida. Descubra agora