Capítulo 02

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- Vitória

Passou-se um mês e eu só consigo pensar que amanhã começa a minha nova tortura. Já tenho as malas prontas e já me despedi de James e Anna, a minha melhor amiga. 

A partir de amanhã a minha vida vai mudar. 

Já fui ver as instalações que amanhã estão abertas para receber todos os alunos que fizeram a escolha de ficar trancados dentro das instalações velhas ou como a diretora disse Clássicas, ou então para acolher os alunos que injustamente foram repreendidos, ou seja, eu.  

Vou partilhar o quarto com duas raparigas que ainda não faço a mínima  ideia de quem são. Lá a zona dos quartos é dividida por pessoas da mesma idade. No andar de baixo do meu edifício são as raparigas e no andar de cima são os rapazes. No patamar das escadas que separam os dois andares está um funcionário para o caso de existirem escapadelas durante a noite, durante o dia  podemos andar livremente pelo perímetro ou seja entrar nos quartos dos rapazes e vice-versa e claro que podemos andar por mais lugares, mas na hora de recolher obrigatória, 23h, temos de permanecer nos nossos quartos até à hora de acordar, 7h30, as aulas começam ás 9h. 

Existem quartos para duas e para três pessoas e cada quarto tem uma casa de banho, um baú para cada membro para guardarmos as coisas, um  roupeiro para ser dividido pelo número de ocupantes do quarto, camas (claro),  e secretárias também elas de acordo com o número de ocupantes do quarto. 

O uso de telemóvel só é permitido durante 2h  ao domingo para comunicarmos com família ou seja podem ficar com o meu porque a última coisa que eu quero para os próximos tempos é ouvir a voz do meu pai. Não à uniforme, mas as raparigas não podem andar com coisas curtas.

{...}

- Menina Vitória! Menina Vitória! Acorde. - Ouvi uma voz ainda desconhecida no meu sonho, levei um pouco a perceber que a vozinha irritante vinha do mundo real que eu odeio e não do mundo em que eu estava tão bem, o mundo dos meus sonhos.

- Mais cinco minutos. - Virei-me para outro lado e acabei no tapete. O dia ainda só agora começou e eu já sei que vai ser uma merda

- Está bem, menina? - Perguntou um pouco aflita, pela farda devia ser a nova empregada.

- Ótima. É a nova empregada? - Perguntei. Levantando-me do chão.

- Sim sou. - Respondeu com um sorriso amável que se desmontou quando percebeu que não o iria retribuir.

- A menos que seja lésbica não vai durar muito tempo nesta casa. - Avisei-a com cara de gozo comecei-me a despir para tomar banho. Ela olhou para mim muito atrapalhada. - Esteja descansada, eu só queria dizer para não fazer horas extra com o meu pai, foi assim que as outras foram todas para a rua. 

- Eu sou fiel ao meu marido. - Respondeu-me e eu soltei uma gargalhada. 

- As outras era fiéis ao marido, ao namorado, à religião...Mas no que depender  da minha mãe elas vão passar muito tempo no desemprego. Tenha cuidado. - Fui para a casa de banho onde tomei um banho e depois vesti umas leggings pretas com uma t-shirt branca,um casaco de treino preto e calcei umas sapatilhas também elas pretas. Acabei de arrumar as minhas coisas  e desci para tomar o pequeno almoço.

{...}

O motorista parou o carro e eu desliguei os Mp3, ao que parece é a única tecnologia que posso usar diariamente. Eu e o meu pai saímos de dentro do carro (a minha mãe preferiu ficar em casa).

 Olhei para o que ia ser a minha nova casa , inspirei fundo e encarei o meu pai.

- É para o teu bem. - Disse olhando-me com um pouco de compaixão, acho.

- Se quisesses o meu bem tinhas sido um pai para mim. - Ajudei o motorista a tirar as minhas malas do porta bagagens, olhei em volta vi todos a despedirem-se dos seus pais como eu gostava de ter uns pais presentes que me amassem. 

- Adeus filha. - O meu pai deu-me um abraço ao qual não retribui. - Desculpa. 

Agarrei nas minhas coisas e adentrei os portões da escola dirigi-me ao meu edifício e procurei pelo quarto número 120, abri a porta e olhei para as duas raparigas  e um rapaz aparentemente deitado na minha cama, pois as outras duas raparigas tinham as suas coisas em cima de duas camas.

- Olá. - Cumprimentei. Fui até á minha cama aparentemente ocupada. - Podes levantar-te da minha cama ou é preciso um pedido formal? 

- Saio já, sua gentileza. - Respondeu num tom irónico. Levantou-se da cama e caminhou até à porta. - Depois vão lá ter ao quarto.

Disse para as outras raparigas. Elas sorriram e eles saiu. Pousei as coisas as coisas em cima da cama, despi o meu casaco e pendurei-o na cabeceira da cama. As raparigas coxixaram uma para a outra. 

- Olá o meu nome é Zoé e o dela é Lydia. - Disse uma delas, a Zoé tinha o cabelo cheio de caracóis escuros e o seu tom de pele era misto; a Lydia tinha o cabelo escuro e ondulado e um tom de pele claro. 

- Prazer, o meu nome é  Vitória. - Dei um leve sorriso para não parecer tão antipática. 

- Igualmente, deixa-me adivinhar foste obrigada a vir para cá? - Perguntou a Zoé.

- Nem mais. Então e vocês o que fizeram para estar aqui? - Perguntei enquanto começava a arrumar as minhas coisas. 

- Andamos aqui desde que somos pequenas é quase que uma tradição de família, somos primas. - Respondeu a Lydia. 

- Na minha família a única tradição que há é a de despedir empregadas, e só a minha mãe é que a cumpre. - Ri-me para mim mesma, elas ficaram as duas a olhar para mim sem perceber.

- A tua família é um pouco estranha não? - Questionou a Lydia tentando brincar, mas eu não achei piada nenhuma.

- Não tens nada haver com isso. - Elas olharam para mim um pouco superintendidas com a minha resposta.  

- Queres vir almoçar connosco e com os rapazes? - Perguntou a Zoé. 

- Não tenho fome. - Elas foram e eu continuei a arrumar as minhas coisas.

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