Capítulo 8

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Estou na casa dos meus pais para o almoço. É sábado e mamãe está preparando lasanha à bolonhesa.   Adoro deitar nesse sofá velho e macio, que já insisti, inutilmente, para que fosse trocado por um modelo mais moderno.

- E então, filha? Como estão as coisas? - papai pergunta.

Meu pai era professor de Literatura na universidade. Ele e mamãe são o oposto em quase tudo, exceto sobre o fato de me amarem. Ela era analista de sistemas no tempo em que os sistemas eram bem diferentes. Hoje os dois estão aposentados e vivem discutindo sobre coisas bobas, como, por exemplo, os canais de televisão.

- Estão bem - respondo.

- E o trabalho?

- Está tranquilo. Sabe que me inscrevi para uma bolsa de pós-graduação na Itália? - digo, animada.

- Na Itália? Eu adoraria conhecer - ele diz.

- Ei, querida! - mamãe aparece de avental. - O almoço está pronto.

- Adivinha, Helena! Nossa filha vai para a Itália! - papai diz, animado.

- Calma, ainda não é certeza - retruco.

- Oh, meu Deus! Minhas amigas vão morrer de inveja quando souberem -ela diz, ignorando o fato de que ainda não é certeza a minha ida.

- Mãe! Ainda não sei se vou ser selecionada - digo.

Provavelmente o Igor será selecionado. Essa coisa de pós na Itália é muito mais sonho dele do que meu. Acabei embarcando nessa ainda na faculdade. A gente deitava no chão e falava sobre como seria nossa vida na Itália. Eu dizendo que iria me esbaldar de massas e ele falando sobre como adoraria ver a Torre de Pisa de pertinho.

- E como anda esse coraçãozinho? - ela pergunta.

- Hum... Está bem.

- Está de namoradinho novo? - continua.

- Não exatamente - respondo.

Não me sinto especialmente bem em esconder dos meus pais que tive um reencontro inesperado com meu ex, que eles odeiam. Honestamente, estou me sentindo como se estivesse mentindo sobre algo muito tenebroso, do tipo "tem um cadáver na mala do meu carro e fui eu quem o matou".

- E cadê o Igor? - papai pergunta.

- Deve estar trabalhando - respondo. -Ele é um workaholic total!

- Ah, adoro aquele garoto - ele continua.

Depois que almoçamos, dirijo até meu apartamento e, nervosa, abro a caixa de e-mails.
Ignoro todos os e-mails sobre o hotel fazenda e os clubes de compras e leio a mensagem dele.

De: brunoff@hotmail.com
Para: sunsarah@hotmail.com

Pois é... Depois daquele dia, fiquei pensando se você gostaria de sair comigo para conversar. Provavelmente, não. Mas eu preciso deixar registrado que seria um prazer ter a sua companhia outra vez.

Bruno

Ter a minha companhia outra vez significa exatamente o quê? Estou relendo o e-mail pela quinta vez e agora penso sobre essa frase específica. Poderia ser algo do tipo "quero ter você comigo igual a quero namorar você de novo"? Ou apenas "quero estar com você por um momento e acabou"?
Quando clico no botão responder, ouço a campainha. É o Igor.

- Oi! - digo meio nervosa pelo que estava fazendo.

- Trouxe um filme... E pipoca - ele diz, me entregando uma sacola. - Você está ocupada?

- Não, que nada! Eu estava mesmo a fim de ver um filme. Entra! Senta aí. Vou preparar a pipoca.

- Mas você não sabe fazer pipoca! Sempre deixa queimar - ele diz.

- Tá. Então senta que vou desligar o computador e já volto.

- Ok - ele vai preparando o DVD.

Por que me sinto como se estivesse escondendo um segredo fatal?

- Qual vai ser o filme de hoje? - grito para ele.

- Harry & Sally... - responde.

- Harry & Sally? Isso não é do tempo dos nossos pais?

- Bons tempos... - ele diz e caímos na risada.

- Tem razão - digo e deito no tapete. - E a pipoca?

- Vou preparar a melhor pipoca que você já comeu em toda a sua vida - ele vai até a cozinha.

Bruno detestava que eu comesse pipoca enquanto víamos filme. Ele não suportava a ideia de encontrar uma casca de milho ao me beijar. Não é estranho que agora eu me lembre dele a cada segundo?
Em poucos minutos, Igor aparece com uma bacia gigante de pipoca amanteigada e nós começamos a ver o filme.
"Homens e mulheres não podem ser amigos." Harry está dizendo. "Pois eles não conseguem ser amigos de uma mulher que eles achem atraente." Ele continua.

- Isso não é verdade! - digo e bato com as duas mãos no tapete.

- O quê?

- Isso que ele disse! Eu, por exemplo, sou muito atraente e nós somos amigos! - sorrio e dou um soco em seu braço.

Mas ele permanece sério.

- Ei, o que foi? - pergunto.

- Nada - ele devolve o soco e aponta para a tela.

- Ok. Vou ficar quietinha - sorrio.

Acabo adormecendo no meio do filme e, quando acordo, ele está apoiando o queixo nas mãos e olhando para mim.

- Nossa! Quanto tempo eu dormi? - pergunto, esfregando os olhos.
casa!

- Não muito - ele diz e se levanta. - Eu já estou indo.

- Já? - olho para a vidraça e vejo que é noite.

- Sim. Preciso resolver umas coisas.

- Que tipo de coisas? Não me diga que vai trabalhar em casa!

- Não - ele ri. - Preciso ir ao supermercado.

- Ah, tá bom.

Estamos na porta do meu apartamento.

- Até breve, então! E obrigada! Adorei o filme!

- Mentirosa!

- É verdade! Embora eu tenha dormindo... - Dou de ombros. - Você sabe que adoro ver filme com você!

- Ok. Tchau.

Eu o vejo descendo as escadas e corro para o quarto. Ligo o computador e lá está o e-mail. Vou responder.

De: sunsarah@hotmail.com
Para: brunoff@hotmail.com

Podemos conversar, sim. Afinal de contas, somos adultos civilizados.

Não. Não está legal. Melhor assim:

É claro que podemos conversar qualquer dia desses.

Sarah

Do Seu LadoOnde histórias criam vida. Descubra agora