Quase imploro para que Igor pare no Grand Café, mas ele não me dá muita bola.- A gente tem hora marcada com o pessoal da agência, Sarah - ele responde, me deixando irritada.
- Não custa nada. Cinco minutos e pronto - argumento de braços cruzados, enquanto ele dirige a oitenta por hora.
Igor nunca ultrapassa em ladeiras, nunca passa no sinal amarelo, nunca dirige fora da velocidade que as placas indicam. Ele é todo certinho e às vezes isso me irrita. Ele sempre cumpre horários e hoje, especialmente, isso está me enlouquecendo.
- Você não se cansa de ir lá e pedir sempre a mesma coisa? Quantas vezes por semana você anda por lá? - ele pergunta.
- Não me canso! O milkshake de baunilha é o melhor de todos! Ah, por favor, Igor! Estou na TPM! Você vai negar uma coisa a uma mulher na TPM? - insisto. - Cinco minutos...
- Cinco minutos? - ele pergunta, mesmo sabendo que isso seria impossível. Peço meu milkshake e ele pede uma água.
- Pede alguma coisa - digo.
- Pedi.
- Água não vale. Vamos lá! Vou escolher para você - agarro o cardápio.
- Não, Sarah. Não temos tempo - ele olha para o relógio e suspira.
- É claro que temos. Temos todo tempo do mundo! - eu digo e sorrio quando o garçom traz meu milkshake em uma taça linda.
Depois que o convenço a tomar um cappuccino, vamos em direção ao escritório de publicidade.
-Eu precisava daquele milkshake para aguentar o publicitário chato - digo.
- Ser exigente não é ser chato, Sarah.
- Ai, você não se cansa de ser todo certinho? - reviro os olhos.
- Chegamos - ele estaciona na frente de um prédio comercial gigante.
Subimos até o décimo andar e entramos em uma sala sem graça, onde há uma garota de uns 18 anos.
- O senhor... Bruno, por favor - Igor diz, olhando um cartãozinho.
Observo os detalhes do local. Não tem revistas, nem um sofá confortável. Não tem televisão, nem um frigobar.
- Ele já está chegando - ela diz.
- Viu? Tanta pressa e ele sequer está aqui. Ainda bem que tomei meu milkshake - cochicho, deixando-o sem graça.
De repente, ela recebe um telefonema e fica assentindo com a cabeça.
- Vocês podem entrar por aquela porta e esperar. Ele já está perto.
- Obrigado - Igor diz e nós dois entramos.
- A vista é bonita - ele está dizendo, andando pela sala.
- É... Ei, que tal vermos um filme mais tarde? - pergunto, animada.
- Mais tarde? E o projeto do pet shop?
- Ah, é. Tinha esquecido...
- Boa tarde - a porta se abre e nós nos viramos.
O choque é mútuo. Em segundos meu coração chega à boca e eu sinto um tipo de vertigem.
- Boa tarde - Igor se aproxima e o cumprimenta.
Não entendo por que ele está agindo como se não o conhecesse. Eu fico estática na sala, tentando digerir a cena, mas aí ele se aproxima.
- Como vai? - sua mão está estendida à minha frente e eu não quero apertá-la porque a minha está gelada e suada. Mas eu aperto.
- Sentem-se - aponta as cadeiras, nada confortáveis, à frente da mesa.
Ele parece igual, só que melhor. Tem um ar descontraído e os mesmos olhos enigmáticos. Isso realmente foge a todas as minhas fantasias sobre encontrá-lo num esbarrão na calçada. Isso é totalmente pirante porque eu não sei se conseguirei trabalhar para ele como se fosse um estranho.
- Nossa agência cresceu bastante e acabamos comprando um prédio novo. É um galpão, na verdade. Mas tem dois andares e uma área externa grande, onde queremos fazer um estacionamento - ele está dizendo a Igor, que se debruça sobre uns papéis e fotos.
- Interessante - Igor responde.
Estou muda. Preciso agir profissionalmente. Ele é um cliente
como outro qualquer. Digo para mim mesma. Mas no fundo, sei que ele nunca será um cliente qualquer.
Ele é meu ex-namorado.- Que tal, Sarah? - ouço de longe a voz de Igor e pisco os olhos para acordar.
- Interessante - digo.
- Podemos ir amanhã cedo dar uma olhada no local, não é? - ele continua.
- Possivelmente - respondo.
- Então ótimo - Bruno sorri.
Ele está vestindo um jeans despojado com camiseta preta.
Seus cabelos estão maiores e sua barba por fazer. Quando se levanta
e estica o braço para nos
cumprimentar, percebo que está malhando mais que o habitual.
Quero dizer, o habitual há quatro anos. É o tempo que não o vejo. Foi o tempo que levei para poder dizer que não fico pensando nele antes de dormir e nem quando ouço as músicas que costumávamos ouvir.
Ainda em choque, caminho ao lado de Igor até o carro.
Estou em silêncio, pensando em tudo. A impressão que tenho é de que
estou sonhando.- Você está bem? - ele pergunta e fixa os olhos em mim.
- Eu? Claro. Por quê? - jogo meus cabelos para trás e finjo não entender o que ele quer dizer.
- Você parecia em choque - ele diz, sério.
- Em choque? Eu?
- Sim.
- Ah, sai dessa! O que você achou do galpão? - tento mudar de assunto.
- Você ficou balançada? - ele insiste.
- Você andou bebendo? Eu não sinto mais nada por ele! Nada, ouviu? - respondo, nervosa.
Ele me encara e espreme os olhos.
- Eu estava pensando na minha terapeuta. Acabei nem avisando que iria faltar hoje. E você? Por que fingiu que não o conhecia? Não era você quem o detestava?
- Eu não o detestava. Sou indiferente a ele. Além do mais, sou profissional - ele diz, sério.
- Ok. Senhor totalmente controlado que nunca sai da linha!
- digo, irritada.
- Me leva para casa agora?
Igor está em silêncio, mas eu sei exatamente no que ele está pensando. Eu realmente nem gosto mais do meu ex. Só foi meio estranho encontrá-lo naquela situação. Só isso. Não é normal ficar meio nervosa ao encontrar um ex-namorado? Qualquer pessoa normal ficaria.
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Do Seu Lado
RomansaDo seu lado conta a história de Sarah, ela tem um melhor amigo chamado Igor, que ela conheceu na faculdade de Arquitetura. Até trabalhar junto, eles trabalham. Sarah compartilha tudo com ele, como se ele fosse uma garota, exceto pelo fato dele não s...