Capítulo 26

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Não me matem pela falta de capítulos, ME DESCULPEM. Mas tá ai um capítulo maiorzinho..

Estou entrando no Café com Leite para me encontrar com Fátima. Ela está em dúvida sobre o papel de parede do quarto e me pediu, quase implorou, um encontro. Pego o catálogo com as amostras e coloco debaixo do braço. Sentada em uma mesa discreta, Fátima está usando óculos escuros enormes, o que é bem estranho porque nem está fazendo sol aqui dentro. Coisas de Fátima... Eu rio quando penso.

- Olá! - e me abaixo para cumprimentá-la.

- Oi, Sarah. Como vai? - ela responde ainda sentada e com um tom de voz totalmente fora do habitual.

- Vou bem... E você? Está bem? - pergunto, preocupada.

- Hum. Estou - ela diz. - Você trouxe as amostras?

- Ah, sim, trouxe - abro o catálogo sobre a mesa. - Veja! Pensei nesses daqui - aponto para as lâminas.

- Certo. Pode ser - ela responde e dá de ombros.

Tenho certeza de que alguma coisa está acontecendo, porque em outra ocasião ela argumentaria horrores sobre os meus tons de bege. Mas agora eu a vejo apática, tomando um chá esverdeado.

- Fátima, você está bem mesmo? - eu digo e puxo o catálogo.

- Ah, querida... - ela dá um suspiro e tira os óculos, relevando olhos inchados e vermelhos de chorar. - Estou mal.

- O que houve? - lanço-me para frente, segurando sua mão.

Ela abre a bolsa Alexada Mulberry, originalíssima, e puxa um exemplar de uma revista local. Depois, desamassa uma página, passando a mão por cima e a empurra para mim.

- Olhe... - diz, trêmula.

É uma matéria chamada "Olhar da Sociedade". Apresentando Fátima Marins.

- Abri meu guarda-roupa para eles e olha o que recebi em troca! - e começa a chorar.

- Calma... - eu peço, tentando ler.

Usando estampa de oncinha e anéis extravagantes, Fátima Marins é o retrato dos emergentes do país. Está escrito ao lado de uma foto onde
Fátima posa sorridente com seu poodle no colo. Não é difícil reconhecer. Estão sempre ladeados por seus cachorros minúsculos e enfeitados, os novos ricos circulam pelos shoppings e eventos, ostentando suas joias e a clássica bolsa Louis Vuitton. Olho para ela, que
termina o chá e chama a garçonete.

Suas casas são impecáveis, geralmente com a ajuda de um arquiteto. Eles visitam galerias de arte, embora nem saibam diferenciar um Picasso de um Monet.

- Meu Deus, Fátima! Eles são uns idiotas! - exclamo, indignada.

- Quero morrer! - ela cruza os braços sobre a mesa e enterra a cabeça.

- Para com isso! Você não pode dar tanta importância - argumento. - Ei, levanta a cabeça! Você não é nada disso que disseram. - Tento animá-la.

Tá bom. Ela usa roupas extravagantes e tem um mini cachorro, mas é uma graça de pessoa.

- Fiz de tudo para fazer parte do grupo deles. Da "alta sociedade".

- Ela revira os olhos quando diz. - Fiz uma doação gorda para um fundo de caridade em um evento beneficente e é isso que mereço?

- A verdade é que eles não merecem você. Você é ótima e original, Fátima - digo e dou um sorriso. - Além do mais, como você pode se deixar abalar por alguém que usa a palavra "ladeado"
no texto?

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