Capítulo 12

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Bruno já está em sua sala. Está de costas para a porta, observando a vista e eu pigarreio a fim de chamar sua atenção.

- Ah, você chegou! - ele dá um sorriso largo e se aproxima.

Não sei exatamente como devo cumprimentá-lo. Quero dizer, sei sim. Devo apertar sua mão rápida e fortemente. Mas quando estamos frente a frente e eu sinto o cheiro do seu perfume de sempre, me esqueço de como eu deveria agir e nós dois ficamos parados, movendo os braços, tentando encontrar a melhor maneira de fazer isso.
Ele segura meus ombros e me puxa para um abraço. Fico imóvel. Não consigo relaxar, nem tampouco abraçá-lo também. Até que ele se afasta e diz para eu sentar. Faço isso mecanicamente, como se estivesse em uma espécie de transe.

- E então? Você disse que teve umas ideias - digo, tentando lembrar o motivo exato de eu estar em sua sala.

- É, tive. Mas antes quero saber se você vai comigo ao cinema - ele pergunta, afastando uns papéis da mesa e apoiando os cotovelos.

- Preciso pensar melhor sobre isso - respondo, sem graça.

- Ok - ele diz. - Vamos ao que interessa.

Rapidamente, ele pega um papel em branco e uma caneta e começa a desenhar. Não achei mesmo que fosse desistir tão rápido.
- Pensei em interligar os andares por passarelas suspensas e de vidro - ele está dizendo e rabiscando, enquanto eu não paro de pensar que deveria ter dito sim.

- Certo. Vou anotar isso - abro o laptop.

- E também pensei em termos móveis no anos 1950... Coloridos, sabe? - ele continua.

- Hum. Estilo retrô. Acho que fica legal - olho para os seus cabelos bagunçados e me lembro de como eu adorava mexer neles enquanto ficávamos deitados de frente para a televisão.

- Sun... Eu acabei atropelando as coisas... - ele começa a dizer e eu o encaro, nervosa. - Quero dizer, eu a convidei para sair e sequer procurei saber se você estava com alguém - ele está batendo a caneta na mesa e respirando rapidamente. - Tudo bem que somos amigos agora, mas se eu ainda fosse seu namorado, iria ficar muito irritado se você fosse ao cinema com outro cara.

O que eu devo dizer agora? Que eu não tenho um namorado desde que nós terminamos e que a possibilidade de ir ao cinema com ele tem me tirado o sono?

- Sem problemas - respondo.

- Então, seu namorado não se importa? - ele levanta as sobrancelhas.

- Eu não estou namorando - digo, por fim.

- Sério? Não posso acreditar.

- Por quê? - pergunto.

- Você é tão meiga e linda... Não dá para crer que está sozinha... Achei que eu fosse o único idiota da face da Terra... Perder você foi o meu maior erro - ele diz e eu fico atordoada.

Eu sempre quis ouvir isso. Sempre. Agora eu tenho nas mãos a oportunidade que sempre quis ter.

- Preciso voltar para o escritório - acabo dizendo. - Sobre as passarelas suspensas, vou inserir no projeto e depois trago.

Guardo o laptop na bolsa, me levanto e lhe estendo a mão. Ele está parado na minha frente, em silêncio. Talvez esperando que eu diga alguma coisa sobre nós e tudo o que passou, mas não quero falar. Não quero perguntar onde ele estava com a cabeça quando resolveu me enganar e todas as questões que eu sempre me fiz.

- Será que um dia você seria capaz de me perdoar? - ele diz quando seguro o trinco.

- Você se importa? - acabo dizendo.

- Claro que sim.

- Se isso te fará dormir melhor, não ligo pro que passou - minto. - Foi o que tinha que ser.

- Você acha mesmo?

- Nós já falamos sobre isso antes - refiro-me ao almoço.

- Mas você não me respondeu o que perguntei... antes - ele diz.

- O quê?

- Você não me respondeu se não havia sentido falta de nós dois juntos - ele encosta a mão no meu rosto e desliza suavemente até o meu pescoço, causando um arrepio familiar.

Seu perfume está me deixando tonta e acabo fechando os olhos. Não faça isso, sua boba! Não deixe que isso aconteça! Minha consciência está berrando aos meus ouvidos. Mas onde está o chão quando sinto o calor dos lábios dele se aproximando dos meus como se fosse uma dança cujos movimentos eu conheço muito bem?   Minha respiração está curta e ainda estou de olhos fechados quando ouço um barulho.

- Desculpa! Bruno, temos um cliente - a secretária aparece de repente e nós nos afastamos.

- Vou indo - digo e saio.

- Espera! - ele chama.

- Não posso - respondo e aceno sem olhar para trás.

De alguma forma consigo chegar ao estacionamento. Entro no carro e suspiro. Meu coração ainda está acelerado e só consigo pensar no que quase aconteceu e em todas as consequências que isso me traria.

Querida Glória,

Preciso mesmo passar aí. Estou surtando de vez. Eu não gosto mais dele, logicamente. Você sabe disso. Eu sei disso, não sei? Mas por que meu coração deu cambalhotas quando ele se aproximou de mim?
Sua angustiada paciente,

Sarah

Do Seu LadoOnde histórias criam vida. Descubra agora