Epilogue

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SKYFALL ~ SKYFALL

Louis segurou as mãos tremulas de seu marido e deu um casto beijo em uma delas, sentindo a pele fina a frágil sobre seus lábios. Ele passou seus dedos pelo rosto de Harry, sobre todas as rugas e manchas que se formaram com o tempo. Observou o cabelo branco que quase deixava o couro cabeludo do senhor à mostra, mas ainda tinha os pequenos cachinhos, porém mais sutil.

Os dois estavam na cama do hospital, onde tinham ido depois de Harry ter sua terceira parada cardiorrespiratória. Harry se encontrava com 92 anos e sua aparência deixava isso bem à mostra. Já Louis, tinha mais anos em sua existência do que poderia contar, mas aparentava ter 20, se não menos. O anjo não envelhecera, enquanto Harry lutava contra as consequências da idade, mas mesmo assim, Louis não saiu do lado de seu marido por nenhum segundo.

O anjo se lembrava de toda a vida dos dois juntos: quando se conheceram; a primeira vez que se beijaram; quando ele disse para o cacheado que era um anjo, que ficou surpreso, mas aceitou bem; a primeira vez que fizeram amor; quando ele deixou de lado seu cargo de arcanjo para se tornar um anjo da guarda; a formatura de Harry; o seu casamento; a primeira casa juntos; as brigas, que sempre terminavam com eles fazendo amor apaixonadamente em algum canto diferente da casa; a primeira ruga de Harry, que o fez chorar por três dias seguidos ao se lembrar que ele continuaria a envelhecer enquanto Louis não ficaria com um fio de cabelo branco; quando ele começou a ter dificuldade para realizar tarefas simples do dia-a-dia; a primeira vez que Harry foi para o hospital e, a noite anterior, quando o mesmo acordou no meio da noite tendo sua terceira parada cardiorrespiratória.

Apesar de saber que nunca mais viveria os momentos alegres juntos, Louis não estava triste, ele tinha muito orgulho da vida que construiu com Harry e, apesar de tudo, ainda achava seu marido a pessoa mais linda e maravilhosa de todo o mundo, porém, Harry se irritava toda vez que o anjo lhe dizia alguma coisa assim.

Harry se sentia um peso para o anjo. Alguém com uma aparência tão jovem, sadia e forte, estar preso com um velho que precisa de ajuda para andar pela casa. Ele amava Louis, amava mais do que tudo na sua vida, mas ele não entendia o porquê do anjo ainda estar ao seu lado. É claro, ele admirava esse lindo gesto, mas no fundo o achava um tolo por fazer aquilo. Quando Harry dizia isso, Louis até se sentia ofendido, mas entendia a frustração de seu marido.

Ele estava com seus olhos cheios de lágrimas, não podia mais negar, estava morrendo. Estava deixando tudo pelo que ele batalhou para trás. Reprimiu um soluço, mas Louis percebeu.

– O que foi anjo? – perguntou em um sussurro enquanto esfregava seu polegar no rosto de seu marido.

– É que... – um suspiro – Eu nunca imaginei em como eu morreria.

–Anjo, eu não quero que você pense nisso.

– Como? Lou, vamos encarar os fatos, eu não vou viver pra sempre, eu não tenho o mesmo dom que você, eu nunca vou ter. – respondeu com a voz fraca e lutando para respirar entre as palavras.

– Mas eu já te disse que-

– Eu sei o que você me disse. – interrompeu – Mas, me desculpe, eu não posso evitar ficar triste. Eu sou humano, a morte é uma coisa que me assusta, não sou como você.

Louis suspirou, ele tentava entender o lado de Harry, mas já tinha dito várias vezes que, no fim, eles ficariam juntos para sempre, foi uma promessa e condição do Trono.

– Eu sei anjo, você está deixando tudo pra trás, toda a sua vida, mas eu vou estar ao seu lado, o Trono me disse e, mesmo que ele não tivesse me dito, eu sou seu anjo da guarda, você não vai a lugar nenhum sem mim. Nem mesmo depois da morte.

Os olhos de Harry se encheram de lágrimas.

– Sei disso, sei que não deveria estar preocupado com isso, pois você vai estar comigo. Louis, você é a minha vida, sempre foi e sempre vai ser; mas como eu já disse, eu sou um humano, a morte me assusta.

O anjo se inclinou e beijou a testa de Harry.

– Anjo, eu entendo, se eu pudesse fazer alguma coisa eu faria, mas agora só podemos esperar para nos encontrarmos do outro lado.

Harry abraçou Louis e escorou sua cabeça no ombro de seu marido.

– Eu te amo, meu anjo. – Louis sussurrou.

– Eu também te amo, Lou.

Assim ficaram por horas, em silêncio, apenas ouvindo a respiração do outro e compartilhando seu calor.

De repente Harry começou a ficar ofegante, ele agarrou Louis e apertou sua jaqueta de um jeito que fez a articulações de seus dedos ficarem brancas. O anjo o abraçou de volta e, com lágrimas nos olhos, apertou seus lábios contra a testa de seu marido. Não demorou muito tempo para Louis sentir os braços de Harry amolecerem em volta de seu corpo, a doce respiração parar de bater contra seu peito e o barulho de seu coração silenciar.

Louis sentiu um aperto em seu peito, como se uma parte de seu coração estivesse murchando. O anjo abraçou o senhor em seus braços fortemente e começou a chorar. As lágrimas encharcavam seu rosto e o cabelo de Harry, os seus soluços ecoavam pelo quarto juntos com o aparelho ao lado da cama que soltava um som sem esperança sinalizando que era o fim da linha.

O anjo se afastou e observou o rosto sem vida de seu marido. Ele parecia tão tranquilo e em paz, aparentando estar dormindo e como se nenhuma dor ou infelicidade existisse no mundo. Louis engoliu o soluço e se levantou da cama, se inclinou e selou seus lábios com os de seu falecido marido uma última vez. O anjo limpou as lágrimas com a manga da jaqueta e saiu do hospital.

Ele caminhou até o topo de uma montanha, a mesma que tinha apresentado a Harry, e retirou sua jaqueta, liberando suas asas sobre dois buracos em forma de um V invertido feitos a mão em sua camiseta.

Pela última vez, ele lançou suas asas para cima pegando altura e velocidade. Diferente da vez anterior que ele tinha ido ao céu, seu vôo foi direto e determinado, mas ainda assim leve e gracioso. Sempre mantendo um ritmo constante e sem olhar para os lados, não podendo se atrasar nem um segundo. Dessa vez, ele iria ao céu para nunca mais voltar, iria retornar para seu local de origem, mas não porque queria voltar pra casa, mas sim para ficar com a pessoa que amava.

Tinha prometido ao amor de sua vida que estaria o esperando do outro lado e era isso que iria fazer.

Skyfall | l.sOnde histórias criam vida. Descubra agora