Lábios De Sangue

Capítulo 2

Estou com uma puta dor de cabeça.  Não é possível acreditar na incompetência das pessoas que trabalham pra mim. Não é tolerável. Eu escolho a dedo cada um que entra na minha lista de pagamento, desde a cozinheira até os gerentes dos hotéis e, ainda assim, eles continuam a desapontar. Em breve, terei que rever a lista de pagamento e chutar algumas bundas na rua.

- Como isso é possível, Gina? Eu fiz questão de assinar o contrato com a melhor fábrica. Não é possível que quatro caça níqueis tenham vindo com defeito. - digo tentando me controlar - Porra, a inauguração é amanhã.

- Já mandei chamar o Senhor Adamatti. Vai chegar em vinte minutos - Escuto a voz de Gina no celular - Assim que ele chegar eu o levo até seu escritório.

- Muito bom. - falo e desligo.

Essa inauguração tomou muito do meu tempo e da minha sanidade esta semana. Estou cercada de incompetentes. A não ser por Gina, é claro. Se não fosse por ela, a situação estaria, com certeza, fora de controle. Acredito que boa parte dos problemas nem chegaram até mim, uma vez que ela mesma os resolveu.

Gina é um verdadeiro achado. Veio até mim três anos atrás procurando um emprego como acompanhante de luxo - serviço que disponibilizamos clandestinamente nos hotéis. Estava um pouco suja, maltrapilha e magra demais mas, ainda assim, muito bonita.

Ela não parecia o tipo de garota que buscamos para nossos hotéis - geralmente prostitutas que se achavam boas demais para as ruas é que vinham até mim. Gina era diferente, não devia ter mais que 18 anos, tinha um olhar inocente e triste. Ela não era prostituta, não queria aquele emprego; precisava dele.

Então ela me contou toda sua história. Seu pai batia em sua mãe e nela, às vezes, mas sempre aguentaram caladas pois não tinham como sobreviver sozinhas. Até que um dia ele apareceu armado e bêbado em casa ameaçando atirar em sua mãe. Sem saber o que fazer para ajudar a mãe, ela, que estava escondida atrás do sofá, quebrou um enorme vaso em sua nuca.

Ele caiu e sangue começou a escorrer pelo chão. Estava morto. A única solução era fugir. Então reuniram o pouco que tinham no banco e vieram para cá. Infelizmente sua mãe morreu meses depois em um confronto de gangues do bairro que morava. Sozinha no mundo, foi obrigada a se prostituir para conseguir o que comer, até ouvir de uma amiga de trabalho sobre as atividades secretas dos hotéis Sigiani.

Por algum motivo, senti vontade de protegê-la. Ajudei a se formar e atualmente pago sua faculdade de administração, na qual está no último período. Após ver quão dedicada e estudiosa é, contratei-a como minha assistente e posso dizer que foi uma de minhas melhores escolhas. Gina se mostrou eficiente, proativa, e muito leal. Em pouco tempo ela já estava a par de todas as minhas atividades ilegais, se tornando meu braço direito.

Escuto uma singela batida na porta que, em seguida, é aberta.

- Senhorita Sigiani, o Senhor Adamatti está aqui para vê-la. - diz e sai nos deixando a sós .

O Senhor Adamatti é um homem muito distinto, bonito apesar de seus cabelos brancos. Ele parece estar pesaroso pelo ocorrido com sua mercadoria.

- Senhorita Sigiani, é um grande prazer finalmente conhecê-la - diz beijando minha mão e senta-se na poltrona em frente à minha mesa - Devo ressaltar que as revistas e jornais não fazem jus à sua beleza. Sinto-me envergonhado com o acontecido. Nunca tivemos problemas com nossa mercadoria antes e posso lhe assegurar que dentro de quatro dias terá quatro dos melhores caça niqueis fabricados por nossa empresa.

Quatro dias?! Esse cara tá brincando com a minha cara? Preciso deles para ontem e ele sabe disso.

Levanto-me e contorno minha mesa parando na frente dele, que permanece sentado, mas agora precisa levantar sua cabeça para me olhar. Sento em minha mesa, olhando em seus olhos, e cruzo as pernas. Por conta da fenda na lateral do meu vestido, boa parte da minha coxa direita é exposta, revelando o fim da minha cinta liga de renda.