Me Conte Um Conto

Aquilo que ninguém pode saber

Acorda com uma sensação de luto

Fúnebre e obscura

Não sai de casa

Não sorri

Não é feliz

Só se é triste

Tudo melancolia

Entra no choveiro

A água escorre pelas costas

O peito aperta

Sufoca e quase faz perder o ar

Os olhos ardem

O nariz pinica

Aperta forte as pálpebras

Rolam pelo rosto, quentes

Como um sussuro obscuro

Deixa a face hipersensível

E se perde o controle

Se perde estrutura

Os joelhos não se mantem mais firmes

Escorrega para o chão frio

Tapa a boca

Abafa os soluços

Eles não podem te ouvir

Ninguém deveria te ouvir

Sua dor

Suas causa e consequências

Mas só ali vc pode ser você

Se pemitir ser a vítima uma vez

Só ali pode desabafar

Se permitir sofrer

A memória brinca

Provoca

Você não sabe mais diferenciar

O que é mentira do que é real

É coisa da sua cabeça

Isso nunca aconteceu

Menta pra si

Não deixe nada sair

Mas não quer viver assim

Puxa os cabelos pela raiz

São só fragmentos

Você não lembra de tudo

Mas sempre soube a sensação

Os toques

O som da mistura das respirações

A voz e o repúdio

Esmagaram a porra do seu coração

Mas nunca téves coração, diz

Tinha a confiança

Tinha a fraternidade

E agora não há nada

Era só uma criança

Não sabia de nada

Era ingenua

Mas ainda não sabe se é real

Ainda não desce pela garganta

Ainda entala e queima

Anestisia e esconde de si

Nem sabia que ainda estava aqui

Enterra lá no fundinho da mente

Atrás da porta que se lê

"Entrada restrita"

Confundi a cabeça

A dor ainda é dor

A raiva ainda é raiva

E pra perdoar como faz?

Ainda é humano,

Ainda coleciona rancor

Ainda se fere e sangra por dentro

Dilacerando-se

E afundando num poço onde ninguem vê

Veem sorrir e dizer que tudo ta bem

E não sabem o quanto ainda doi

O quanto isso fodeu com a cabeça

O quanto se precisa catar os caquinhos a cada dia

E alguns dos fragmentos a muito já se perderam

Supere!, dizem

Passe por cima, repetem e repetem

Nunca estiveram aqui

Ás vezes é impossivel sorrir

Ás vezes o que passa tanto tempo escontando atrás da porta sai

Te dá um tapa na cara e diz:

Eu sempre vou estar aqui, mesmo que você me esconda atrás da porta, eu nunca vou te deixar. Você sempre se lembrará do que fiz com você, para você.

Então sorri e volta pra onde você o guarda

Mas o desespero já foi instalado e você está nas trevas outra vez.

  -Mari Cassimiro (MillaCasery)