— Esta é uma das melhores instituições do país com o foco em doenças psicológicas . . . — Foi assim que o discurso do Dr Kim Seokjin começou. Logo acrescentando como a internação de um paciente e a privação de sua vida fora daquelas paredes é um grande e difícil passo que ainda que necessário para o bem estar do doente, também era um passo doloroso.
O Dr. Kim era um homem experiente na área, já havia tratado e ainda trata de muitos pacientes, e isso podia ser visto não apenas em suas marcas de expressão mas numa parede de sua sala, onde diversos quadros estavam dispostos emoldurando diplomas de sua trajetória na carreira.
Naquele momento, eu estava junto de minha mãe em sua sala e, durante todo o tempo, desde que havíamos entrado em sua sala, o doutor falava olhando para minha mãe. Sua voz era calma, mas não monótona, e uma expressão séria adornava seu rosto enquanto ele falava, mas eu não conseguia prestar muita atenção no que ele dizia.
Enquanto o doutor falava, meus olhos se fixaram em uma foto que estava sobre a mesa do doutor. Na foto estava um garoto sorridente, usando uma blusa de basquete e bermudas brancas, ele estava com um joelho apoiado no chão enquanto abraçava um husky siberiano preto e branco. Parecia ser um momento feliz.
— Ele é perigoso, senhora Min?
— A maior parte do tempo não. Ele é praticamente mudo. Sempre foi introvertido, mas um dia quando o pai dele chegou em casa bêbado o meu filho de repente começou a agir diferente, falar coisas que não combinavam com ele. E depois deste dia, essa mudança voltou a acontecer. . .
— O pai dele sempre estava bêbado quando estes eventos ocorriam?
— Não. Tinha vezes que meu marido nem estava nem em casa.
Yoongi desviou o olhar da fotografia e começou a brincar com os dedos, tentando se distrair da conversa que acontecia em seu entorno. Ele não gostava quando falavam dele ou quando era o centro das atenções. Não gostava do olhar de pena que a mãe o dava sempre que o via e que estava lhe dando naquele momento.
A chuva havia começado em algum momento depois deles chegarem e, pelo som e a turva visão que tinha da janela, ela ficava cada vez mais forte do lado de fora. A chuva tinha tamanha força que os galhos das árvores se partirem e folhas caíam. O repentino som do trovão atravessando o céu fez com que eu me encolhesse e o som havia sido alto o bastante para fazer o vidro tremer.
— Quando ele está com o outro comportamento, você tenta fala com ele? Ele atende ao seu chamado?
— Não. Ele tem outro nome quando está assim, ele prefere ser chamado de Suga quando ele está fora de si — Ao ouvir minha mãe dizer aquele nome estalei um dedo ao girá-lo para o lado. O estalo chamou atenção de minha mãe que estendeu sua mão, mas eu me retrai e ela recuou o avanço, entendendo que eu não queria que ela me tocasse. Ela não pareceu afetada, mas vi o doutor anotando algo e imaginava que ele havia percebido algo.
Há algum tempo que eu havia reparado que o doutor havia estado a anotar coisas enquanto conversava com minha mãe, provavelmente eram anotações que seriam importantes no tratamento ou notas que ele deveria lembrar sobre mim.
— Entendi. Bom, creio que ele . . . — Antes que Seokjin terminasse sua frase alguém bateu na porta. O doutor se ergueu de sua cadeira e pediu desculpas antes de desviar o olhar para a porta, falando para a pessoa entrar. A porta rangeu ao uma pequena fresta ter sido aberta.
— Atrapalho? — A voz do recém chegado me chamou atenção. Eu virei para trás e vi apenas a cabeça de um garoto através da fresta. O encarei por uns segundos e me surpreendi ao notar que se tratava do garoto que estava abraçando o cão na fotografia. Seus cabelos estavam meio molhados pela chuva, mas ele não parecia incomodado, pois mesmo assim o garoto estava sorrindo.
— Jungkook, quer fazer um favor para mim? Enquanto eu termino de acertar as coisas com a Sra Min, leve Yoongi para conhecer o lugar — Seokjin falou e Jungkook sorriu mais, abrindo a porta completamente desta vez e entrando no lugar. Ele caminhou até as cadeiras, acenando brevemente para minha mãe antes de focar sua atenção em mim, ele parou na minha frente e me olhou bem por um tempo.
O olhar de Jungkook era diferente. Ele não olhava para mim da mesma forma que os outros. Pela primeira vez, em muitos anos, Yoongi não me sentiu como um monstro ao que as pessoas sempre olhavam, cochichavam e apontavam os dedos.
— Olá, sou Kim Jungkook. Min Yoongi, certo? — Jungkook falou sorrindo amigavelmente e esticando a mão para que eu apertasse. Encarei a palma de sua mão e seus longos dedos, pensando se deveria ou não. Ainda receoso, levantei. Encarei mais uma vez seu rosto, aquele sorriso ainda estava lá e eu via esperança em seus olhos, por isso decidi dar uma chance ao garoto estranhamente gentil e lhe apertei a mão. E o sorriso que já estava no rosto de Jungkook apenas se alargou.
E, agora, mais de perto, conseguiu ver coisas em seu sorriso, não apenas o fato do garoto ter dentes grandes e levemente tortos, mas o fato de seu sorriso também estar em seus olhos. Havia um brilho ali que era de autêntica alegria e ingenuidade, como o olhar de uma criança no Natal ao ver que há vários brinquedos debaixo da árvore. Uma emoção tão pura que senti certa inveja por não saber como era se sentir assim.
Nossas mãos se soltaram depois de um breve momento e eu olhei imediatamente para ela. Mesmo que não houvesse mais nada ali, eu sentia uma estranha calidez em minha mão e poderia até dizer que sentia a pele formigando.
— Vamos? — Jungkook falou e eu ergui o olhar a tempo de ver ele dando o primeiro passo em direção a porta, esperando que eu o acompanhasse. Olhei em direção aos seus olhos, vendo aquele estranho brilho enquanto ele já me observava com entusiasmo, outra emoção que eu não estava habituado. Abaixei minha mão, decidido a não pensar naquela sensação, e se deixou levar, seguindo a Jungkook.
— Seu filho é muito gentil — Ouvi minha mãe dizer a Seokjin enquanto eu cruzava a porta.
— Jungkook é um bom garoto, ele não tem preconceitos e não trata mal a ninguém aqui e até vem visitar com certa frequência, não apenas para me ver, mas para fazer companhia aos internos. Ele tenta ser o mais amigável possível com os outros, não importa a gravidade de suas doenças. Ocasionalmente eu fico com receio dele agir assim, mas ele sabe se virar — Ouvi o doutor dizer antes que a porta fosse fechada por Jungkook.
×
Enquanto isso, os dois adolescentes saíram do corredor que levava as salas de consultas e foram até o pátio. A clinica estava silenciosa, os internos estavam todos na sala de tv já que não podiam ficar nos quartos fora do horário.
- Quando está sol aqui fica cheio, alguns brincam, outros conversam . . . mas dias de chuva sempre deixa eles mais tristes - Jungkook falou olhando para a chuva que caía na grama, os dois estavam debaixo de uma cobertura para se protegerem da chuva, mas enquanto Jungkook olhava para o céu cinzento Yoongi o analisava, querendo entender porque o outro estava sendo gentil com ele - Já que você é novo, vou fazer questão de visitar mais vezes para ter certeza que você está se encaixando bem. O que acha?
- Por que esta fazendo isso? - Yoongi perguntou, sua garganta seca e a voz rouca pelo pouco uso, o que surpreendeu o outro, que finalmente olhou para ele, mas sorriu.
- Porque somos amigos. E amigos cuidam um do outro. Vamos, temos muito o que ver ainda . . . - Jungkook falou, e desta vez ele pegou Yoongi pela mão e começou a arrastá-lo pela clinica. Yoongi se surpreendeu com o toque, ele era a primeira pessoa que tocava nele de forma amigável repetidas vezes em questão de minutos, nem sua mãe o tocava mais desde que seu problema começou. Yoongi quis sorrir, da mesma forma natural que Jungkook fazia, mas ele nem se lembrava como era sorrir.
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Efeito Borboleta ↠ Dearmad [BTS]
Fanfiction↠ As batidas das asas de uma simples borboleta são capazes de mudar tudo, inclusive causar um furacão ↞ - Você é insano como eu? ------------------------------------------------------------ A história será editada/reescrita em breve