5. O Cristianismo e a Educação Clássica
A partir de meados do século II d.C., começaram a manifestar-se os primeiros sinais anunciadores de uma crise e de uma transformação radical da organização social do Império Romano, após o apogeu do período anterior. Após o reinado de Antonio Pio (138 d.C.-161 d.C.), surgem os primeiros indícios da grande mudança – uma profunda crise da sociedade romana... Pelo início do século III d.C., Tertuliano observava que todo o mundo romano fora aberto à civilização e que, por todo lado, se haviam formado comunidades urbanas. Com relação às escolas da antiguidade, o destaque, como já foi reiterado várias vezes, é a de Alexandria: rival de Roma e Antioquia, é o centro de confluência da vida helenística e porta do Egito. Somente depois dos tempos de Clemente, pelos anos 200 D.C., podemos falar com segurança desta escola. Ela se propunha à formação dos catequistas; não possuía local próprio, funcionava na casa de um mestre que, geralmente, era o único professor. Não podemos, portanto, compará-la com o ambiente das universidades, cuja organização não se compara à simplicidade deste centro alexandrino. A característica desta escola é a estreita vinculação ao episcopado, que fez dela a escola oficial da Igreja, à diferença, por exemplo, da escola de São Justino, em Roma, que era de caráter puramente privado, mesmo que encontremos nela uma sucessão de mestres – primeiro, o mártir Taciano – que lhe confere indiscutível continuidade.
A Escola de Alexandria funcionou ativamente até meados do século V, quando será destruída. A cultura desenvolvida pela escola é a enciclopédica: derivar todo o ensinamento de um único mestre possui o inconveniente da superficialidade que pode afetar as grandes zonas da instrução; entretanto, a concepção enciclopédica da cultura possui a vantagem de uma direção única, quando esta é capaz de estruturar, em uma síntese orgânica, os campos principais do saber. A exposição do cristianismo se beneficiou desta condição orgânica; o imenso esforço de interpretação e de síntese que isto exigiu dos mestres trouxe, como resultado, como em Clemente e Orígenes, a elaboração de um sistema de diretrizes e respostas cristãs às questões básicas da religião, da filosofia, da moral e das letras. Após esse período clássico, veremos o apogeu do pensamento agostiniano nos ensinamentos da Igreja da época.
Santo Agostinho:
Ó Senhor meu Deus, única esperança minha, ouve-me, a fim de que jamais me entregue ao cansaço e não mais queira buscar-Te, mas, ao contrário, que sempre procure Tua face, com todo ardor (Sl 104,4). Fortalece aquele que Te busca, Tu que permitiste seres encontrado, e cumulaste de esperança de sempre mais encontrar-Te... Eis em Tua presença a minha força e minha fraqueza: conserva a força e cura a fraqueza. Na Tua presença, minha ciência e minha ignorância: lá onde me abriste, permita que eu entre. Lá onde me fechaste, abre-me ao bater. Que de Ti me lembre, que Te compreenda e que Te ame! Faze-me crescer nesses dons, até que me restaures totalmente!
Nasceu em 354, em Tagaste, na Numídia, hoje Argélia. Agostinho de Hipona foi o mais profundo filósofo da era patrística (séculos I-VIII d.C.) e um dos maiores teólogos de todos os tempos, influenciando enormemente a Idade Média e a teologia ocidental; é, sem dúvida, o teólogo mais estudado da teologia ocidental. Era filho de um funcionário municipal – Patrício – e de Mônica – fervorosa cristã, que a Igreja Católica venera como santa.
Sua história comporta os percalços de um itinerário cristão, cheio de dúvidas, afastamentos e quedas. Seu pai permaneceu pagão até o momento de sua morte; sua mãe, Mônica, foi cristã fervorosa, que tudo fez para a conversão de seu filho – ela não via com bons olhos a relação de Agostinho com uma amante, com a qual teve seu filho Adeodato. Agostinho foi um batizado tardio, não tanto um pagão convertido. Aliás, jamais foi pagão, pois recebeu de sua mãe desde a infância os sinais da vida cristã. Abraçou fervorosamente a vida filosófica, mas ainda estava insatisfeito. Era, talvez, um dissoluto (embora o próprio Agostinho, nas Confissões, negue essa informação: ele, segundo ele mesmo, era "fiel de leito"). Era um ótimo estudante, muito disciplinado, fiel e exato.
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Como vivia a Igreja Cristã antiga?Makyl Angelo
Non-FictionEis aí um assunto intrigante para todos aqueles que questionam o avanço do cristianismo na Bacia do Mar Mediterrâneo durante séculos. De que maneira uma pequena seita difundida na Palestina por um homem chamado o Cristo e posteriormente por seus apó...