Capítulo 3

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Depois que sai da delegacia eu passei em um restaurante não muito longe para fazer a minha hora de almoço que não pude ter. Sai de lá e peguei um trem para voltar para minha casa. Desci sete estações depois da delegacia e mergulhei no formigueiro humano que é a volta de estudantes de suas escolas e de trabalhadores de seus empregos. Pensei em pegar um táxi pra casa mas decidi ir caminhando. São apenas uns trinta minutos de caminhada.

Passo por passo eu vou andando pela calçada em direção à minha casa. Pessoas passam por mim as pressas para conseguir chegar no horário em seus respectivos trabalhos. Às vezes elas esbarram em mim, mas não ligo em exigir uma desculpa pois estou sem vontade de falar.

Dobro uma curva e avisto a minha casa de cor branca sobresair-se dentre as outras casas da calçada por sua altura. Atravesso a trilha do meu jardim frontal e abro a porta negra.  
Enfim em casa.

Subo as escadas e entro no banheiro do segundo andar para tomar um banho. Termino e visto roupas leves exclusivamente para ficar em casa e relaxar. Desço, sento no sofá em frente a televisão, pego o controle remoto da mesa de vidro intermediária à TV e ligo ela à procura de algum programa interessante.

Passei a tarde e a noite inteira assistindo televisão e fazendo breves pausas para comer alguma coisa. Já estou cansado de ficar aqui parado sem fazer nada a olhar para uma tela plana de TV. Preciso de ar fresco.

Visto uma calça jeans azul e um agasalho de frio preto para dar uma volta no quarteirão. Saio de casa e tranco a porta.

Será que é uma boa idéia sair a essa hora da noite aonde as ruas estão escuras e não há quase ninguém fora de casa? Melhor deixar para depois.

Ah, só vai ser uma volta.

***

Só percebo o quanto estou longe de casa ao ver o prédio no início de sua construção que foi deixado de lado por problemas com o terreno. Ele ainda está com um enorme plástico cobrindo os onze andares de tijolos que foram feitos antes de seus problemas internos. Ele era para ser o melhor hotel de Chicago que serviria como imagem de cartões postais para estrangeiros. Uma pena.

Atravesso duas avenidas e fico em dúvida se viro para esquerda ou direita. Esquerda. Percorro ela inteiramente e viro para a direita, me deparando com uma rua que nunca vi na vida. Sua calçada é estreita, a pavimentação é feita por blocos portugueses e sua iluminação é tênue pois há apenas um poste de luz em toda a rua, dando-lhe um aspecto assustador.

Ando um pouco receoso pela rua escura e passo direto por uma entrada mais assustadora ainda.  Fico tentado a entrar nela e volto os poucos passos que eu havia dado.
Um poste com sua lâmpada florescente localizado no meio da ruela a ilumina mas com pouco êxito, pois sua fonte de luz pisca quase que momentaneamente a cada minuto que passa. Uma caçamba de lixo exala um cheiro podre e estragado no ar.

Dou passos lentos e cautelosos pela escuridão que me cerca até pisar em algum tipo de líquido  que molha a sola do meu tênis.  Olho com atenção para o chão e procuro ver de onde vem o líquido vermelho. Meu sangue congela quando eu vejo uma mulher com um facão enfiado na barriga sentada a direita da caçamba de lixo. Tremendo da cabeça aos pés, ajoelho e me aproximo lentamente da mulher morta. Minhas mãos trêmulas retiram o facão com detalhes rústicos em seu cabo em uma tentativa fracassada de tentar ajudar. Largo ele imediatamente no chão, perplexo em quem faria esse tipo de coisa.

O que eu faço? O que eu faço?

Penso em medir a sua pressão arterial mas seu corpo inerte e sem vida não deixam dúvida alguma de que ela está morta.
Sua face sem cor, sua pele pálida,  blusa ensanguentada e olhos fixos em algum ponto a sua direita deixam tudo evidente. Espere um pouco... se os olhos dela estavam olhando para direita no momento anterior a sua morte definitiva, talvez signifique que o assassino estava lá antes dela ter morrido. Não é uma idéia totalmente dispensável.

Apenas Na Hora Errada ( Em Pausa)Onde histórias criam vida. Descubra agora