Capítulo 5

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Deitado na minha cama, fitando o teto pálido e sem graça do meu quarto, estou com uma vontade insana de sair de casa. Já perdi a conta de quantas vezes virei de um lado para o outro a procura de uma posição confortável para dormir. Pensei em tudo que podia pensar enquanto estava inquieto mas agora só tenho um desejo: sair. Sair e ir para longe. Para longe desse quarto abafado e dessas paredes descascadas. Sempre gostei de caminhar a noite, e não é por causa de um medo que irei parar. Afinal, o que eu vi naquela noite não foi real, não é?

Levanto da cama e vou até o guarda roupa a minha frente. Abro as portas em um escancaro e pego um casaco preto de frio com gorro e uma calça jeans preta. Visto elas rapidamente e desço os degraus curvos para ir até o primeiro andar. Vou até a sala e retiro o meu celular de cima do sofá.
Nunca mais quero sair sem um aparelho telefônico. Caso aconteça alguma coisa, tenho como ligar para a polícia ou para qualquer outro número que possa ajudar em determinada situação. Com isso posso pelo menos me sentir um pouco mais seguro, sabendo que alguém vira ajudar se for preciso.

A tela do celular acende e vejo que há treze chamadas perdidas do meu irmão James. Geralmente ele liga uma vez por semana para eu falar com ele e com meus pais pois toda a minha família migrou para Nova York por motivos econômicos e eu fui o único que ficou em Chicago. Tive que enfrentar diversas oposições contra a minha estadia aqui mais no fim consegui o que queria. Comecei a comprar essa casa em várias parcelas um pouco antes da minha família ir embora e terminei quase um ano depois. Moro aqui sozinho há quase três anos, e não tenho a intenção de me mudar daqui. Mesmo que minha mãe azucrine os meus ouvidos em quase toda ligação mandando eu ir morar lá, citando cada defeito que Chicago tem e que pode ter. Muitas vezes quando ela começava o seu discurso diplomático sobre a "terrível Chicago destruidora de vidas" ou sobre "os produtos de valores absurdos" tive vontade de perguntar: " Mais não foi você que morou por quase toda a sua vida nessa cidade que agora chama de aberração?"

Aqui nasci, e aqui vou morrer. Ponto.

Saio de casa e olho para cima.
A lua está cheia e com um brilho intenso refletido em sua face, iluminando as ruas escuras de Chicago e presenteando a Terra com seu show noturno que é sempre espetacular. As estrelas parecem terem sido cuidadosamente desenhadas e colocadas no imenso azul
sem-fim do céu. Mas mesmo se destacando por seu brilho, elas são coadjuvantes em relação à lua. Eu poderia ficar parado aqui por horas apenas observando esse lindo céu.

Começo a minha caminhada em direção a nenhum ponto específico. Uma caminhada com o único intuito de andar e andar. A brisa da noite está fria, o que faz os pelos do meu braço se erisarem.

Depois de alguns minutos de caminhada, me encontro na mesma rua de cinco dias atrás, na mesma rua em que o cara de fones de ouvido me viu, no mesmo lugar em que achei o cadáver daquela mulher.

Por que justo nessa rua que eu tinha que me encontrar? Ou melhor, por que eu caminhei até aqui sendo que eu poderia ter ido a qualquer outro lugar nessa imensa cidade?

Começo a andar pela ruela. Olho para todos os lados à procura de um novo cadáver jogado no chão. O mesmo poste de antes com sua luz falha se encontra no centro. Uma certa insegurança me atinge de repente e eu suspiro de alívio ao perceber que já estou fora dessa rua sinistra.

Avisto o lugar em que o assassino estava me encarando fixamente e procuro com muita atenção para me certificar de que ele não está lá. Nesse momento, vejo uma entrada ampla à direita de um poste de luz, uma rua talvez. Deve ter sido por ali que ele fugiu. Uma fuga simples e fácil.

Quando estou próximo da entrada por onde o assassino fugiu eu ouço um grito, desesperado o suficiente para eu saber que alguma coisa está errada. Caminho os poucos passos que restavam e fico diante da entrada do que agora vejo ser uma encruzilhada longa e larga. Ela só é iluminada pelo brilho da lua e algumas fracas lâmpadas fluorescentes presas em alguns postes, mas é possível distinguir certas formas.
Aperto os olhos para enxergar melhor e avisto uma mulher resistindo com grande voracidade a um homem que segura seus pulsos no centro da encruzilhada. No mesmo momento em que o homem vira o rosto para a minha direção eu me agacho a tempo de não ser visto. Mesmo com o poste iluminando a calçada em que estou ele está muito longe para me enxergar com clareza e seu olhar direcionado a mim durou apenas dois segundos.

Apenas Na Hora Errada ( Em Pausa)Onde histórias criam vida. Descubra agora