Capítulo 2

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Não tenho nenhuma reação histérica como sair correndo ou gritar por ajuda. Apenas fico imóvel na poltrona fitando ele com um olhar sério.
Nesse tipo de situação, eu considero ter apenas duas opções: correr feito um louco para salvar minha vida ou não deixar transparecer medo, mostrando frieza e coragem. A segunda opção é um pouco arriscada, mas sempre é a eficiente.
Ricky dá uma risada sem graça e diz:

- Relaxa cara, só foi uma piada de mal gosto.

Solto todo o ar que havia prendido nos meus pulmões e relaxo.
Apesar de eu já estar há dois anos conversando com Ricky nunca sei o que ele pode fazer. De repente ele pode me esfaquear, ou dar um tiro em mim, ou me enforcar, ou arrancar a minha mão... Enfim, muitas opções.

Respiro fundo para continuar a conversa.

- Conte-me como foram seus outros dias e suas rotinas.

Ele assente.

- Os meus outros dias foram normais. Eu fiquei em casa assistindo Tv e meu irmão me fez companhia. Fui ao mercado fazer compras, tomei todos os remédios. Foram dias tranquilos.
- Sua família tem te visitado? - pergunto.

- Eles tem me visatado todo final de semana desde que você falou aquelas coisas para eles. Estão me apoiando bastante.

Dou um leve sorriso de contentamento. Parece que funcionou eu ter chamado eles de irresponsáveis e asquerosos por desprezar o filho deles daquela maneira. Falei que eles deviam dar mais atenção à seu filho para que ele se sentisse amado e pudesse progredir mais rapidamente.

- No início eles estavam meios receosos mais depois vendo meu andamento ficaram felizes. - Ricky fala mais para ele mesmo do que para mim.

- Tem saído muito?

- Só para o mercado, farmácia e praça.

- Certo. E...- sou interrompido por Ricky que está resmungando alguma coisa. - Ricky? Você está bem?

Ele coloca as mãos nos ouvidos como para impedir que algum som não entre, que ele não ouça a voz de alguém. Seu rosto se contorce de dor, o que faz ele apertar cada vez mais suas mãos contra os ouvidos. Levanto rapidamente e vou até a cômoda do lado oposto da sala uma seringa tranquilizante que estava na primeira gaveta. Dou passos largos até Ricky mas ele estende a mão para que eu permaneça parado.

- Não é necessário.- Ele diz ríspido - Não precisa.

- O que houve Ricky? Por que você estava daquele jeito? - pergunto completamente confuso.

- Foi só uma dor de cabeça. Nada de mais. Posso ir?

- Sua hora ainda não acabou e...- tento pensar em várias sugestões que possa faze-lo ficar mais meu cérebro não permite que eu as acesse e as fale em voz alta. - Claro, você pode ir. - digo por fim, frustrado.

Ele sai e eu fico sozinho na sala feito uma estátua de pedra imóvel no meio da sala. Guardo a seringa em seu devido lugar e me sento na cadeira giratória atrás da mesa de vidro. Organizo alguns papéis e vejo se há mais alguma consulta para hoje. Haverá três.

Recosto na cadeira e fixo meu olhar na parede branca do teto.
Estou fazendo essa terapia com Ricky há dois anos e nunca vi ele daquele jeito. Exceto na segunda consulta que eu tive com ele, pouco tempo depois de ele ser liberado do hospício e poder voltar para as ruas como um cidadão comum. O que me perturba é que naquela época ele ainda estava com seu lado assassino tomando posse dele, clamando por sangue. E se ele teve essa "dor de cabeça" novamente é porque talvez ele possa ter voltado...

Levanto tão rapidamente da minha cadeira que meu corpo parece não entender a minha reação. Porém minha mente está lúcida e soltando um alarme de perigo que ressoa pelos meus ouvidos.
Abro a porta e a fecho com força. Passo pela recepção da psicologia e entro na recepção da sala adjacente, que é para a espera de resultados para alguns exames. Sem querer esbarro em alguém. Resmungo um desculpa, mas a pessoa segura o meu braço e murmura algo que não consigo escutar.
Viro o meu rosto e vejo minha secretária Meghan de cabelos pretos presos em um rabo de cavalo e de óculos de grau grudada a meu braço.

Apenas Na Hora Errada ( Em Pausa)Onde histórias criam vida. Descubra agora