O passado

45 2 2
                                    

Imagine um cômodo de uma casa e nesse cômodo existe tudo que a proprietária da casa mais gosta e precisa, exatamente tudo. O trabalho dela é manter o cômodo bem cuidado e fazer aquilo que precisa e gosta de fazer.


Dentro desse cômodo existem dois lados de uma mesma pessoa, um lado doce (tão doce que atrai formigas) e muito inocente, que chamaremos de Diamante. E um lado cético e realista, que chamaremos Noite. Esses dois lados, por mais diferentes que possam parecer convivem bem na casa toda, tudo muito equilibrado, mas quando estão prestes a entrar em "guerra" esse cômodo é o campo de batalha.


O motivo dessa "guerra" é quase sempre o mesmo: A porta do cômodo sempre aberta, Diamante vivi dizendo que é melhor, por que areja o ambiente e da pra ver aquilo que está lá fora, enquanto Noite acha desnecessário, pois diz que a porta aberta só serve pra criar distrações e impedi-las de se concentrar no que realmente importa.


Mas por trás desses motivos de Diamante e Noite para manter ou não a porta fechada, existe algo muito maior do que uma simples recusa em fechar a porta ou em deixá-la aberta.


Diamante na sua inocência, tem curiosidade de saber como é fora do cômodo ou melhor fora da casa, a vontade dela é ir para outra casa, não morar nessa outra casa, mas passar um tempo e ficar entre a sua e a outra. Mas o que Diamante ignora são as dificuldades de achar uma casa, e qual morador vai querer que outra pessoa invada assim sua casa e fique por lá dias sim, dias não. Diamante pensa que só sua doçura vai convencer qualquer morador a deixá-la ficar.


Já Noite, tem pouquíssima confiança em qualquer pessoa fora da casa e sua cabeça não é um poço de inocência e doçura como Diamante, claro que ela tem seus momentos doces e de inocência (poucos, mas tem) ela sabe que as coisas fora da casa não são nada fáceis, sabe que as pessoas não são nada confiáveis, ela também era a favor da porta aberta, até que alguns acontecimentos a fizeram mudar, Diamante viu tudo que aconteceu mas ainda assim tem essa idéia fixa na cabeça de que com ela pode ser diferente, mas Noite sabe que não, não vai ser nada diferente e por mais que ela queira fechar a porta ela não sabe como fazer isso, não tem a menor idéia, a porta parece grande demais, pesada demais e nem a fechadura ela consegue ver. Noite sabe que Diamante vai sofrer muito se a porta fechar, mas ela sabe que é um sofrimento necessário, melhor sofrer na segurança do cômodo do que lá fora. Noite defende que é bem melhor esperar que com a porta fechada alguém venha bater e as convide para sua casa, do que ficar saindo por ai a fora pedindo pra se hospedar em casas que não vão aceita-las.


Noite só de relembrar como o cômodo ficou quando ela se deixou levar e saiu, deixando estranhos entrarem ali, e ela de porta em porta pedindo lugar pra ficar quando desistiu e voltou ao cômodo, estava totalmente bagunçado, haviam mexido em toda a casa, não só no cômodo, quando ela foi procurar os moradores não havia mais ninguém, ninguém que tivesse ficado.


E lá no canto ela encontrou Diamante, chorando, totalmente assustada, sem saber o que tinha acontecido, sem entender nada. Na sua inocência ela deixou que entrassem e mexessem em tudo, mas a culpa era dela, pensou Noite, por saber o quanto Diamante era inocente e deixá-la só, com estranhos.


__Mas eles pareciam tão confiáveis, pensou Noite. Eis ai um péssimo momento de usar o pouco da inocência que lhe restava.


Noite se lembra o quanto demorou para colocar a casa em ordem, principalmente o cômodo. Agora estava bem melhor, ela tinha tido uma seria conversa com Diamante e as duas combinaram em não deixar ninguém mais entrar no cômodo.


Mas agora o problema era a porta, sempre aberta, e essa curiosidade de Diamante em descobrir o que tinha lá fora.


Numa tarde, Noite e Diamante estavam sentadas no quarto, Noite lendo e Diamante totalmente inquieta, andando de um lado para outro.


__Você pode, por favor, ficar quieta. Noite disse, arrastando as palavras, sem levantar os olhos do livro que estava em suas mãos. Diamante sentou-se, com um baque.


__Por Deus, está um tédio aqui, nada me agrada pra fazer.


Noite revirou os olhos, vai começar, pensou. Como não gostava de rodeios, foi logo ao assunto.


__Você e essa insistência em conhecer lá fora.


Diamante ficou em silêncio por um segundo, a capacidade de ir direto ao assunto de Noite, ainda a surpreendia.


__Então me deixe sair e essa insistência acaba.


__Não Diamante, já lhe disse um milhão de vezes que lá fora é perigoso demais, você sabe disso ou quer que eu relembre tudo o que aconteceu aqui?


__Não, não precisa. Resmungou Diamante.


__Então estamos entendidas por hoje?


__Sim. Sussurrou Diamante, enquanto deixava o cômodo de cara amarrada.


Noite suspirou e fechou o livro em seu colo, não gostava quando tinha essa conversa com Diamante, o que acontecia com muita freqüência, mais ainda nos últimos dias, a vontade de Diamante de conhecer lá fora aumentava a cada dia e isso preocupava Noite. Será que ela teria que deixar Diamante sair e aprender lá fora, mas podia ser diferente mesmo com ela, afinal.


Noite fechou os olhos e sentiu a confusão lhe invadir, ela não sabia o que fazer. Sabia que Diamante passaria dias chateada e calada, mas depois voltaria ao normal, tocaria nesse assunto de novo o que levaria a outros dias chateada e calada, era sempre assim que acontecia, Noite não gostava disso, sempre tinham vivido em paz, e agora essa discussões atrapalhava as duas.





Noite&DiamanteOnde histórias criam vida. Descubra agora