O estranho

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Noite estava preocupada, durante o dia havia sido calmo, como estaria Diamante a noite, sozinha nos campos, será que ela teve a sorte de achar alguém, alguém de verdade para ajudá-la. Noite sentiu uma dor de culpa, “deveria ter ido com ela” pensou. Mas não, existiam experiências e momentos que Diamante teria que passar sozinha, pra aprender. Não que Noite gostasse disso, ela não era tão mau assim, apenas sabia que cada um tem que ter sua própria história, a vida já havia lhe ensinado que raramente as pessoas aprendiam com os erros dos outros, elas precisavam dos seus próprios erros.
Mas nada disso aliviava a dor e a angustia de não saber como Diamante estava. Noite tentou de alguma maneira se ocupar, mas nada distraia sua mente, ela dava voltas e voltas sobre os mesmo assuntos, a mesma confusão, como fechar a porta? Será que era realmente necessário? Será que ela não estava sendo dura demais? Amarga demais?  Noite era esperta o suficiente pra saber que tudo devia ter um equilíbrio, que mágoas e amargura também não lhe fariam nada bem. E essa era sua luta constante, achar o equilíbrio, mas sentia que quanto mais tentava menos conseguia.
   Noite deixou-se cair em uma cadeira, ahh como estava cansada de tudo isso, queria apenas que toda essa confusão acabasse e ao mesmo tempo sentia medo em pensar como essa confusão iria acabar. Por que ela sabia que alguém sairia machucado de tudo isso e temia que fosse Diamante, e se ela não soubesse lidar com tudo isso? Se ela se machucasse ao ponto de não querer nem voltar pra casa? O que aconteceria?
...
Diamante estava encantada, com a casa na qual havia entrado, com o cavalheiro que a todo o momento estava perto dela, com as pessoas que conheceu dentro dessa casa. Com tudo, tudo era encantadoramente lindo. Ela não entendeu por que o medo de Noite em sair, por que a prendeu por tanto tempo, por que sempre se fechou para o lado de fora. Como havia sido fácil pra ela.
__Ahh que senhorita encantadora. Disse uma mulher, se aproximando dela com um sorriso gentil, deveria ser a mãe do cavalheiro.
__Que honra em ter você como nossa companhia essa noite linda dama.  Uma voz grave soou. Um homem, alto e de mais idade falou para Diamante.
__Gostaria de comer algo? A senhora falou.
Diamante estava sem saber o que dizer, talvez tivesse perdido a capacidade de falar, de tão surpresa que estava, nunca tinha sido alvo de tanta atenção antes, sempre viveu sozinha com Noite, nunca havia sido tão paparicada. E se sentia surpresa de uma forma boa, se sentia especial, como nunca antes havia se sentido.
A noite se passou como um borrão e quando se deu conta Diamante estava confortavelmente deitada em uma cama enorme se lembrando de como havia sido a noite, de todos os pratos que a senhora de sorriso gentil lhe preparou, de todos os elogios e histórias que o senhor de voz grave lhe contou e, a melhor parte, foi quando o cavalheiro lhe disse que sim, ela poderia passear durante o dia lá fora e todas as noites as portas de sua casa estariam abertas pra ela, e Diamante mal acreditava na sorte que teve, mal podia esperar para contar tudo a Noite, para que enfim ela mudasse de idéia sobre estar lá fora.
Mas um pensamento incomodou Diamante enquanto estava deitada, qual era o nome de todas aquelas pessoas que ela conhecerá? Inclusive do cavalheiro que a tratará tão bem. Ela não se lembrava de ter perguntado e nem que eles tivessem falado no meio das muitas histórias que ouviu. E então mais um pensamento veio incomodar Diamante... Por Deus, será que ela havia sido ingênua? Será que acreditará rápido demais no cavalheiro e sua família? Não, não podia ser, eles eram gentis demais e aqueles olhos brilhantes do cavalheiro não poderiam mentir, não era possível que tivessem fingido toda aquela cortesia.
Diamante ficou inquieta uma boa parte da noite, esses pensamentos não lhe deixavam em paz, ela revirou-se na cama diversas vezes (que parecia agora não ser tão confortável quanto antes) quando do nada ela ouviu um barulho, um barulho alto, vindo da cozinha da casa. Ela levantou-se da cama assustada, não sabia se deveria olhar o que era ou simplesmente ignorar, então escutou um barulho mais forte e decidiu ir. Abriu a porta do quarto com todo cuidado e saiu na ponta dos pés em direção a cozinha, a luz não estava acesa, mas as janelas deixavam o brilho da lua entrar o que iluminava todo o aposento e então, ela viu, viu apenas uma sombra, que por certo era de outro cavalheiro, não do que ela encontrara, esse cavalheiro era nitidamente mais alto e o cabelo caia-lhe sobre o pescoço. Diamante se conteve e ficou observando o cavalheiro, ele preparava alguma coisa pra comer. Pensou em oferecer ajuda, afinal, se ele estava na casa com certeza saberia que estavam com visita, seria impossível não ter escutado todo o barulho que fizeram durante a noite.
Ela continuou observando e quando viu que ele não estava se saindo nada bem com a comida decidiu intervir. Deu alguns passos vacilantes em direção ao homem e esperou que ele notasse que tinha companhia, o que não demorou a acontecer.


Noite&DiamanteOnde histórias criam vida. Descubra agora