Em Casa

QUATRO

Este tem olhos glaciais e pele de pêssego, curte rock e pinta os cabelos de vermelho. Usa piercings nas orelhas e tem uma tatuagem em homenagem ao Nirvana.

Este dança chacoalhando os cabelos e pede bebidas alcoólicas no lugar de sorvete. Gosta de noites escuras e fala sobre quão triste está hoje e de como nada na vida o agrada.

Seus olhos são felizes, contradizendo toda a sua falsa amargura.

Este, gosta de baterias frenéticas e entorpecentes. Vivi uma vida calma mas finge que é agitada para impressionar sua orbe.

Um dia este segurou meus dedos entre os teus e disse que eu precisava de felicidades sem motivo e de sorrisos avassaladores.

Me deixou em frente à porta dos fundos e disse que não precisava entrar. Não olhou por minhas janelas, nem encarou meu jardim. Tampouco notou minhas cortinas novas.

Deixou-me com um aceno frio e um CD de sua banda: ARACHNIDS VIP.

Minhas paredes estão vazias.

Não há mais porta-retratos ou espelhos. Meus CDs foram jogados, restou-me apenas aranhas sentadas nos melhores lugares.

Deixei o porão fechado. Sentei-me à mesa de ébano e bebi toda a tristeza que pude.

Faz falta um pássaro contor.

Faz falta o barulho do encanamento sendo consertado e da água correndo pelo ralo do banheiro.

Faz falta pensamentos alegres, sorvete e observar as estrelas.

Por mais que seja um tapete desbotado e usado, ele ainda combina com minhas velhas poltronas.