Eu o vi sentado sob uma árvore. Esta parece vigorosa, mas não está tão disposta à aceitar moradores em seus longos e vistosos galhos floridos.
Ele talvez não tenha me visto, sentada num banco azul do outro lado do parque. Mas parecia tão confuso em relação a tudo aquilo, que tampouco me importei.
Há manchas rochas sob seus olhos de verão e ele usa uma camada grossa de tristeza para arrumar os cabelos perfeitamente para trás.
Seu cheiro pode não ter chegado à mim, mas eu sei exatamente como ele é: madeira fresca e um rio cálido, folhas verdes e, agora, um lívido vazio.
Ele finalmente me notou do outro lado.
Abriu a boca, mas estava longe de mais para recitar quaisquer poema.
Ergueu-se e andou até mim como um fantasma austero. Sentou-se ao meu lado e falou sobre o amor que não mais voltou a sentir.
Seu amor estava dentro de casa, preso entre aquelas paredes e os fragmentos no chão. Esse amor estava nas cortinas cor de areia, nas reentrâncias do chão e na fuligem dos armários, estava sob minhas cobertas, atrás das minhas janelas... Mas, agora, jaz em meu porão e a chave não mais existe.
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Em Casa
Short StoryUm amor austero e primaveril relatado em poesia e demasia. © 2016 SSMissing Todos os direitos reservados. Esta é uma obra de ficção. Todos os acontecimentos descritos são produto da imaginação do autor. Qualquer semelhança com a realidade é mera coi...