O encontrei perto de mais das minhas mãos, chorando rios congelados sobre minhas amarguras calidas.
Estava triste como nuvens chuvosas e carregava raios em sua voz — que era tão doce antes.
Segurou minhas mãos como flores e sorriu para meus olhos tristes quando nenhum de nós aceitava a felicidade.
Eu o deixei voltar para minhas paredes abatidas; ele concertou as encarnações abertas e fez funcionar minha lavadora de pratos.
Deitou-se sobre minhas cobertas e contou as reentrâncias da chão e as fissuras do telhado prometendo que as arrumaria aos poucos, tomando sempre cuidado com minha biblioteca vazia e todos os livros no chão do quarto.
Ele açoitou as baratas, os ratos e as aranhas. Limpou os móveis e lustrou os talheres. Sentou-se em minha mesa de ébano e bebeu toda a doçura que pode.
Ele acariciou minhas cortinas e sentou-se sobre todas as cadeiras e sofás disponíveis em minha mente. Aparou a grama do vazio e plantou novas flores sobre minhas tristezas.
Mas eu esqueci o portão aberto.
Ele calçou os sapatos, sem medo algum, deixou um sorriso em minha face desbotada, alisou uma última vez minhas cortinas cor de areia e tateou a calçada até chegar a rua.Aquele era um caminho delicado, ele não queria deixar a casa aberta, mas não queria permanecer ali até o fim.
Joguei fora suas chaves reserva, entreguei flores mortas e fechei minhas portas com cadeados grandes e correntes de aço.
Restaram apenas eu e o porão escuro.
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Em Casa
Short StoryUm amor austero e primaveril relatado em poesia e demasia. © 2016 SSMissing Todos os direitos reservados. Esta é uma obra de ficção. Todos os acontecimentos descritos são produto da imaginação do autor. Qualquer semelhança com a realidade é mera coi...