Capitulo 1

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O trem aproximava-se vagarosamente de Londres. O percurso de York até ali levara cerca de duas horas e meia. Louis Howard podia ter tomado um avião, mas gostava de viajar de trem. Lembrava-lhe a mocidade e suas primeira impressões sobre a grande cidade. O guarda bateu á porta de sua cabine individual e avisou:

-- Faltam só cinco minutos até King's Cross, Sr. Howard. Precisa de mais alguma coisa? quer mais uma bebida?

-- Por favor, poderia providenciar para que a minha bagagem seja levada até meu carro? -- Louis pediu.

-- Claro, senhor. Espero que tenha feito uma boa viajem.

O empregado sorriu polidamente e retirou-se. Depois que saiu, Louis juntou os papéis que examinara e guardou-os em sua pasta. Durante a viajem analisara o negócio com a Havilland e sentia-se confiante por não haver nenhum obstáculo para efetua-lo. A química Havilland logo faria parte da fundação Howard, e isto o deixava muito satisfeito. Acendeu um charuto e pousou a cabeça no encosto macio. Pelas janelas levemente embaçadas podia ver as luzes da cidade brilharem intensamente. Passava das sete da noite, era outono e fazia frio. Acabara de voltar da Califórnia, por isso se sentia duplamente atingido pelo frio. Começou a pensar em tudo o que esperava: sua limusine com chofer, sua casa num quarteirão elegante de Belgrávia, e Lanay, sua esposa... Comprimiu os lábios ao pensar em Lanay. Áquela hora, já devia ter recebido flores que ele enviara de Glasgow e, sem dúvida, estaria pronta á sua espera. Tragou profundamente o charuto e lembrou-se da decoração refinada de sua casa, antecipando o prazer da noite que passaria em companhia da esposa, quando lhe contaria todos os pormenores da viagem. E ela ouviria. Lanay sempre o fazia, pensou, e sentiu novamente a sensação de espanto experimentada a três ano atrás, quando ela aceitara sua proposta de casamento. Louis Howard lutara a vida toda para ser bem-sucedida. Filho de um tecelão de Yorkshire, teve de trabalhar arduamente para vencer na vida. Ao contrário de seu pai , não sei interessava pela indústria têxtil. Desde muito jovem era fascinado pela química, e um diploma na universidade de Leeds lhe tinha aberto caminho para suas conquistas mais importantes. Teve a sorte de conseguir um lugar como assistente de laboratório em uma pequena fábrica perto do Selby, e, embora na época os amigos julgassem tolo por desperdiçar seu talento num laboratório. O convite para um cargo de direção foi uma consequência natural. Este era o primeiro passo para um dia vir a tornar-se sócio, e Louis sabia perfeitamente disso. Não escondia um certo remorso pela forma que chegara ao controle da Quartons. E á posição de milionário. Havia três anos, quando conhecere Lanay, estava á procura de uma esposa, uma esposa conveniente, claro. Muitas mulheres haviam passado por sua vida, mas Louis não considerara nenhuma delas boa o suficiente para ser sua companheira. E foi então que conheceu Lanay Forsythe. Louis tinha sido apresentando ao pai dela, membro da alta sociedade inglesa, havia alguns anos. Gerald Forsythe era filho de um baronete, porém não herdara o título por ser mais jovem que o irmão. Mesmo assim, Gerald tinha a posição social que Louis escolheria, se pudesse. Entretanto, quando Gerald morreu em um acidente de automóvel, a família descobriu que estava arruinada, e Lanay, noiva do Playboy Zayn Mannering, se viu abandonada. Ela havia tido uma ótima educação, numa escola na Suíça, e falava fluentemente várias línguas. Louis a encontrou por acaso no teatro Shaftesbury. Ele e alguns amigos estavam no bar durante o intervalo, quando Lanay entrou em companhia de Harry St. Liam e sua esposa. Harry era grande amigo e sócio de Louis, e era natural que se cumprimentassem. Louis sentiu que aquela mulher em apuroa financeiros, com fina educação e forte influência na sociedade londrina, era tudo que procurara até então. E havia mais um ponto a favor dele: ela estava falida! Durante semanas Louis pôs seu plano em ação: telefonava, conversavam, saíam, e Lanay começou a mostrar sinais de interesse por ele. Louis, porém, não sentia nenhuma atração por Lanay, já que a considerava muito fria e controlada para excitar sua natureza sensual. Mas era ideal o que pretendia... Até que chegou o momento certo de fazer sua proposta: um casamento de conveniência. Queria uma esposa apenas no nome. Queria uma mulher para enfeitar sua mesa, receber os convidados quando fosse necessário e para testemunhar seu poder sobre as mulheres. Para Lanay, que já estava começando a abrir seu coração para Louis. foi uma punhalada. Porém, que outra alternativa ela possuía? Não tinha experiência para procurar trabalho, não tinha dinheiro... poderia esconder sus sentimentos e aceitar a proposta como um negócio... tal e qual Louis propusera! O dia do casamento foi um grande acontecimento social. Os antigos amigos de Lanay  compareceram para lhe desenhar felicidades.  Louis se perguntava se Lanay acreditava em suas desculpas por terem passado tanto tempo sem falar com ela. E também  se aceitaria os convites apressados que agora lhe faziam. Entretanto, apesar do absurdo do começo, o arranjo estava fazendo bem para os dois. O trabalho de Louis o obrigava a viajar grande ´parte do tempo, e, durante aqueles três de casamento, tinham passado juntos apenas três meses, Lanay tinha correspondido ás expectativas de Louis. E o relacionamento deles era cordial e sereno. Louis descobriu  em Lanay um gosto muito refinado para decoração, e sua casa no bairro de Belgrávia era muito comentada. Louis sabia que os amigos o consideravam um homem de sorte por ter uma esposa tão talentosa e bonita. Agora, o trem entrava em King's Cross e Louis já estava de pé, pegando seu casaco de pele de carneiro. Vestiu-se e passou os dedos pelos cabelos negros e sedosos. Era um homem alto, forte embora caminhasse com uma leveza de pantera. Não era bonito, mas as mulheres o consideravam muito atraente. Quando a locomotiva parou na estação, Louis pegou a pasta e saiu para o corredor bem na hora em que o comissário surgiu carregando suas malas. Latimer, seu motorista, estava na plataforma; cumprimentou o patrão, pegou suas bagagem e levou-a para o carro. Louis, como sempre fazia, tomou o assento do motorista e acendeu um charuto enquanto Latimer colocava a bagagem no porta-malas. Havia um sinal de impaciência na maneira de Louis segurar o charuto. Agora que estava em Londres, queria chegar logo em casa. Fazia mais de três meses que tinha partido para os Estados Unidos. Latimer acabou de acomodar a bagagem na mala do carro e sentou-se ao lado de Jake.

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