Capítulo Quatro: O Rei sem Reino (Parte 1)

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Caminhamos durante uma hora e Sherishe não largava a minha mão nem por um minuto, o que me deixava desconfortável e corando o tempo todo. Por sorte ela não percebeu, pois estava olhando para frente mas, se ela olhasse para mim, ela perceberia pois meu rosto era branco e agora estava vermelho igual à um pimentão.
—Se você é filha de Odin, então por que nunca ouvi falar de você nas histórias? — Perguntei para poder quebrar o silêncio.
— Eu só tenho dezesseis anos! — Respondeu ela.  — As histórias que você ouve com certeza são de três à oito milênios atrás, eu nem sequer me tornei uma deusa ainda!
Depois disso, ela permaneceu em silêncio, tentei não comentar o porque de ela não ser uma deusa sendo um filho de um deus.
— Curioso é saber que todo este lugar é real. — Continuei. — Eu poderia esfregar isto na cara de minha família!
Ela apenas assentiu e continuou a nos levar para dentro da floresta.
Nós passamos em um pequeno riacho com algumas criaturas pequenas que pareciam...
— Sereias? — Perguntei.
—Sim! —Concordou ela. — Só não olha muito para elas porque podem te controlar e matar você.
Eu engoli em seco.
— Azar da pessoa que for tomar banho.
— Elas só são perigosas se olhar nos seus olhos, se não, elas não tentarão fazer algo.
Eu também vi uma garota com asas de borboleta colhendo frutas, que sugeri ser uma fada.
Eu não parava de olhar ao redor, sempre que tinha uma oportunidade eu via muitos monstros e seres extraordinários e era muito difícil tirar os olhos deles.
— Chegamos! — Alertou Sherishe.
À nossa frente havia um portão imenso de madeira, e sustentando ele, havia duas árvores que se entrelaçavam e seus galhos formavam uma espiral como se fosse uma tranca para a porta.
Ela estendeu as mãos para a tranca e disse algo em uma linguagem estranha, sua mão brilhou junto com a espiral que começou a se desenrolar e abrir o portão bem devagar.
Dentro, havia um bosque cheio de minis-fadas voando de um lado para o outro, eu também via casas de madeira com alguns habitantes que me pareciam totalmente humanos e toda vez que a gente passava por eles, ajoelhavam-se para Sherishe. Eu também ouvia murmúrios como: Será que é ele? E também Eu já vi garotos mais fortes que ele!
Nós caminhamos (Ainda de mãos dadas) até o Centro da Vila até chegarmos de frente para a enorme estátua de madeira.
Sherishe se curvou para ele me puxando para que eu fizesse o mesmo, largou a minha mão e disse:
— Meu pai, trago-lhe notícias sobre o garoto Rony que acaba de chegar.
Como ela sabia o meu nome? Pensei para mim mesmo, Não me lembro de ter anunciado.
Fiquei olhando para o lado e para o outro afim de saber com quem ela estava falando, depois segui o seu olhar.
— Você está conversando com uma estátua?
— Quem você está chamando de estátua? — Respondeu o objeto inanimado que deveria permanecer imóvel mas ele se mexeu.
Com susto eu caí para trás.
— Eu sou Odin! — Continuou ele, sua voz parecia a de um velho. Na verdade ele era velho.
Odin era pura madeira desgastada sentado em um trono de pedra, suas pernas eram raízes que se prendiam no chão, o que impossibilitava-o de sair do lugar. Seu cabelo e sua barba eram ramos de flores brancas que chegavam até a cintura. Ele vestia uma armadura de pedra e seu olho esquerdo havia um tapa-olho de uma enorme folha verde.
— Eu sinto muito, grande Odin! — Me desculpe voltando a ajoelhar-me. — Não queria ofender o senhor.
— Eu sei... — Disse ele tossindo algumas flores de sua boca. — Sei de suas intenções. Mesmo assim, nunca deixou de ter um bom coração. Por isso eu o trouxe aqui!
Eu estava à Beira da confusão.
— Na verdade, foi eu quem fugiu de casa!
O pai de todos riu e depois se engasgou mais uma vez cuspindo fora mais plantas.
— E quem você acha que deu este livro a você? — Ele apontou para o meu livro que ainda estava guardado comigo.
— Ele pertencia ao meu avô!
— Este livro pertencia à mim, depois eu dei para o se avô, o fiz encontrar por acaso enquanto ele caçava. Claro que não foi culpa minha ele ficar maluco daquele jeito! — Disse ele rapidamente. — Mas a questão é, as Nornas me revelaram sobre um garoto que nasceria e seria entregue para aquela família, ele era alguém muito forte e se tornaria o meu sucessor antes do Ragnarok. Caso ele não quisesse...
Ele fez uma pausa dramática.
— ...se ele não quisesse!? — Incentivei para ele continuar.
— Esta é a questão — Completou Sherishe. —, elas não disseram mais nada!
Olhei para Odin e vi que seu rosto aparentava preocupação (ou ele apenas estava com alguma coceira, era difícil saber já que sua face estava a vinte metros de altura), isso quer dizer que, ou ele sabe o que as videntes disseram e ele não contara a Sherishe, ou ele realmente não sabe.
Eu apenas suspirei.
— Está supondo que eu seja o sucessor do trono de Asgard?
Ele assentiu.
Tudo o que eu fiz foi encará-lo e me imaginando sentado naquele trono gigante com meus pés presos à raízes.
— Você não precisa fazer isto! — Disse Odin como se lesse meus pensamentos. — Apenas eu preciso continuar aqui para alimentar está terra e a grande Yggdrasil com a minha energia vital. — Ele olhou para cima como se tentasse relembrar algo. — As Nornas sabiam o meu destino e mesmo assim perguntaram se eu queria continuar com meu reinado, ou abandonar a coroa e alimentar está terra frágil.
— Como assim frágil? — Perguntei.
Neste momento, um terramoto começou a abalar a floresta inteira, todos os moradores se esconderam em suas casas e várias folhas caíram em cima de nós. Eu tive que me segurar em Sherishe para não cair. Quando o tremor parou, Odin ficou pensativo, um tanto arrependido por está preso ali e não poder fazer nada.
— Você não pode ser rei enquanto está aí?
Ele negou.
— Desde o início do Ragnarok, algumas coisas mudaram...
— Espere aí! — Disse interrompendo-o. —Quer dizer que o Ragnarok...
Eu parei de falar quando lembrei de algumas histórias sobre como o Planeta Terra seria destruída por uma cobra enorme que pode dar a volta por ela.
— Neste momento, meu filho Thor está lutando para defender Midgard de Jörmundgander para que ela não se esprema junto com o Reino. Frey, o deus do verão, está morto deixando a sua irmã gêmea, Freya lutando para impedir que Fólkvangr seja levada à ruínas. — Ele respirou antes de continuar. — Depois de muitas mortes, finalmente conseguimos derrotar o Lobo Fenrir. Os únicos monstros que ainda estão vivos são: Jörmundgander, Loki — Ele disse Loki com um certo ar de preocupação. —, e Nidhogg, o Dragão que você acabou de conhecer.
Eu fiquei apreensivo.
— Como você sabe sobre o que aconteceu?
— Eu vejo tudo o que acontece nesses reinos enquanto estiver sentado em Hlidskialf. — Disse ele se referindo ao trono. Depois ele olhou para baixo, em direção às folhas que caíram das árvores. — E também vejo está bagunça. Svava! — Chamou ele batendo as mãos (o que pareceu com um som de dois troncos colidindo), e em um instante apareceu uma mulher de armaduras reluzentes e cabelos loiros apareceu voando — cara que demais! — e se ajoelhou para Odin.
— Sim, meu pai? — Disse ela enquanto se levantava.
— Por favor, Barra estas folhas! Você sabe que eu detesto...
— Ele é compulsivo por limpeza! — Sussurrou Sherishe ao meu lado enquanto o Pai de Todos ficava resmungando com a moça sobre sujeira.
— Está bem, pai amado. — Continuou Svava, depois disso ela estalou os dedos e uma vassoura apareceu flutuando em sua direção.
— Tia Brenda vai ficar furiosa com você! — Eu disse admirado.
—Por que? Perguntou ela. — Vassouras não flutuam no seu mundo? — Depois ela começou a rir como se eu fosse a piada. — O que aconteceu com os bruxos de Midgard?
— Bom, de acordo com as histórias, foram todos enforcados ou queimados vivos.
Ao dizer isso, Svava calou-se é começou a varrer as folhas em silêncio.
Depois voltei a olhar para o Rei dos deuses.
— Voltando ao assunto. Suponha que eu queira assumir o trono. O que eu preciso fazer?
Ele riu.
— Esta é uma pergunta interessante. Você só precisa... se casar com Sherishe!

Yggdrasil: O Portal de PedraOnde histórias criam vida. Descubra agora