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23 de Setembro de 1995

Querido Diário,
  Neste preciso momento que te escrevo são cinco e meia da tarde. Vim para o parque que se encontra mesmo no fim da minha rua e de mais umas tantas pessoas que posso considerá-las como minhas vizinhas, mesmo que nem metade delas eu conheça. A única vizinha que cumprimentei desde que aqui chegamos pareceu-me bastante simpática. Estava sentada numa cadeira de plástico no pequeno quintal que tem em frente à porta de entrada da sua casa, olhava atentamente para o céu, mas quando se apercebeu que eu olhava atentamente para si esta olhou também. Sorriu e com passos vagarosos e desequilibrados foi até mim e à minha mãe, perguntou se precisávamos de ajuda a carregar caixas das mudanças.
  Poderia jurar que a senhora tinha tantos anos como as rugas do seu rosto. Ambas respondemos gentilmente que não era necessário, porém ambas também sabíamos que precisávamos. Só não quisemos atormentar a pobre senhora. Subir e descer escadas até ao 2º andar com caixas pesadas era demasiado cansativo, só para não falar que a idade pesa, como a minha avó diz sempre "a idade não perdoa ninguém". Depois de nos apresentarmos continuamos a esvaziar o porta-bagagens do carro. Ainda não falei com nenhum vizinho do meu prédio. Provavelmente odeiam-me porque todas as tardes desde que recebi o rádio o ligo e não me preocupo com o volume.
  O céu está escuro, não dá para ver o sol com tantas nuvens a nadarem por cima de nós. Trouxe o meu casaco verde impermeável caso começasse a chover, de qualquer das formas disse à minha mãe que não demoraria. Portanto daqui a nada tenho de ir para casa.
  Tentei ir ao tal café hoje. Sim tentei, porque quando lá entrei tive vergonha de passar pela mesa onde se encontrava um grupo de adolescentes e com a mesma rapidez que entrei, saí. E portanto agora estou aqui.
  Tenho-me relembrado de certas coisas nos últimos dias, o que é muito bom. Mas são coisas mondais que nunca ninguém quer ocupar o espaço do seu cérebro com esse tipo de coisas por serem tão ordinárias. A história que te contei agora, passou-se há umas semanas atrás e só agora me lembrei. Antigamente, nem agora, nem nunca me iria lembrar de tais acontecimentos. Talvez a mãe tenha razão, talvez estejas a ser mesmo útil. 
  Os meus dias têm sido tão repetitivos que já me canso da rotina de sair de casa e ir para a escola, sair da escola e ir para casa. Nem mesmo aos fins-de-semana a minha mãe irá ter tempo para explorar a cidade comigo. O patrão dela mudou os turnos, parece que agora a mãe também vai trabalhar alguns fins-de-semana e irá fazer turnos da noite no Hotel.

Talvez seja melhor voltar para casa. Foi bom vir ao parque, sabe bem respirar ar puro de vez em quando.

Até depois,
Nicole.

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