— Camis, eu posso te perguntar uma coisa? - Lucas perguntou enquanto passava um pano no chão. Já havíamos tomado nosso café e agora estávamos organizando a cozinha.
— Já ta perguntando querido – falei.
— Besta! – riu - É sério, posso?
— Pode - falei enquanto enxugava um prato.
— Como é sua relação com a sua mãe? Você me contou aquilo na Atlanta aquele dia e eu fiquei com isso na cabeça – ele largou o rodo num canto e se sentou sobre a pia, ao meu lado.
— Ah... se eu chorar você vai me bater? - ri e ele negou soltando um sorriso - É complicada minha relação com ela. Eu tinha cinco anos quando ela foi embora, ela e meu pai brigavam muito e não agüentando mais ela pediu a separação e foi pra capital paulista, na época a gente ainda morava no interior do estado... assim que ela foi embora meu pai vendeu a casa lá e comprou aqui em Gyn, já que tenho parentes aqui. Um tempo depois ela se mudou pros Estados Unidos e ta lá até hoje. A partir dali eu tive que aprender a conviver com a ausência dela. A gente se fala uma vez ou outra, mas por obrigação.
— Obrigação por quê? - perguntou curioso.
— Primeiro de tudo que ela é minha mãe né? E também a nossa relação esfriou quando ela resolveu entrar na justiça pra tentar pegar a minha guarda. Na época eu tinha dezesseis anos, tava indo pro terceiro colegial. De que ia adiantar me levar pra lá com quase dezessete anos? Minha vida era aqui, aliás, é aqui. Foi nessa história da guarda que a gente foi diminuindo o contato, eu me chateei muito. Ela não quis me levar quando eu tinha cinco anos, porque ela queria que eu fosse pra lá onze anos depois? Com certeza tinha arranjado algum macho riquinho com filhinho metido e queria que eu casasse e ficasse rica também pra bancar ela. - parei por alguns segundos e fechei os olhos. Comecei a lembrar de tudo, dos momentos que ela nunca esteve presente. - Nos momentos mais felizes da minha vida ela não esteve presente. Meu primeiro dia de aula, formatura da pré-escola, formatura do ensino fundamental, do ensino médio, meu primeiro e único namoro, meu primeiro amor, quando saiu a lista das pessoas que ocupariam as vagas de Jornalismo na UFG, primeiro dia de faculdade, meus melhores amigos ela não conhece... – abri os olhos e o encarei. - Ela não sabe nada de mim e nem procura saber. Liga duas vezes no ano pra perguntar se eu to viva.
— Mas você devia correr atrás também. Não devia?
— Eu? Claro que não. Quando eu era mais nova, toda bobinha, eu fiz de tudo pra ter ela por perto mesmo morando tão longe, mas ela não tava nem ai pra mim. - respirei fundo - Acho que se duvidar nem no meu casamento daqui sabe Deus quantos anos, que é o meu maior sonho, ela vem, sabia?
— Como assim? Minha sogra não vai ver a filha dela casar com essa maravilha aqui? - apontou pra si mesmo e fingiu espanto.
— Para de falar merda Lucas! – ri em meio ao choro que estava preso. - Não, ela não vai ver a filha dela casar, eu tenho certeza disso - enxuguei as mãos no guardanapo. - Ela nunca se importou com nada em relação a mim.
— Você sente falta dela?
— Sinto, eu confesso, sinto muita falta. Hoje eu já me acostumei, mas antes... Dia das mães era o pior dia da minha vida. Eu via todo mundo comprando presente, abraçando, dizendo eu te amo, e eu? Eu chorava porque não tinha minha mãe por perto pra fazer o mesmo.
Soltei o choro que estava preso em minha garganta e abaixei a cabeça. Lucas me puxou pela mão e me colocou de frente pra si entre suas pernas.
— Desculpa. Eu não queria que você chorasse... - limpou minhas lágrimas.
— Não, ta tudo bem. Eu precisava contar pra alguém. Você é a primeira pessoa que eu me abro sobre esse assunto.
— Você nunca se abriu pra ninguém sobre isso?
— Nunca. Nem pra Andréia! Carrego isso preso na garganta há dezessete anos... Muita gente me pergunta a respeito disso, mas eu não tenho coragem de contar. Bom... agora contei pra você né. Então se sinta privilegiado, porque não sou de contar coisas pessoais pra qualquer pessoa.
— Opa! Agora vi vantagem! – Lucas sorriu e me abraçou forte. – Fico triste pela situação com a sua mãe, mas fico feliz por você ter falado sobre isso comigo. Sempre que precisar desabafar, eu to aqui.
Não falei nada, apenas o abracei. Um calma me invadiu quando o senti me apertar em seus braços, foi uma coisa tão estranha, diferente... não sei explicar. Era como se ele fosse um porto seguro naquele momento.
Nos conhecemos não tem nem um mês e já me senti tão tranquila em falar sobre essa situação da minha mãe com ele...
Respirei fundo e me desfiz do seu abraço, mesmo não querendo. Ele sorriu, beijou minha testa e desceu da pia.
— Não vamos nos aprofundar no assunto, ok? Não quero que você chore mais.
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Opostos - Fanfic Lucas Lucco
FanfictionSão inúmeras diferenças que fica até difícil descrevê-las. Mas foi nessas diferenças que eu me apaixonei, foi nessas diferenças que eu deixei o amor falar mais alto do que eu mesma mais uma vez. "Seria mais fácil, se ele fosse um estranho, de quem...