2: Filhos de Salem.

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Os jovens conversavam acomodados sobre os sofás persas, Vick um tanto perdida ainda lutava para recordar-se de coisas que a doce Sophia lhe contava saudosa, o sorrisinho ao lembrar sobre a amizade forte que tiveram na infância. Era vergonhoso estar diante da menina sem ao menos partilhar a mesma sensação nostálgica da alegria, e Victoria daria qualquer coisa para mostrar um sorriso tão iluminado quanto o dela. Ainda assim não conseguia.

Minuto ou outro, ela percebia olhadas quase imperceptíveis do seu primo para a lourinha de óculo. Cogitou algo em seu intimo, mas preferiu afastar aquele pensamento e focar sua mente na garota ao seu lado.

– Onde fica o banheiro?

Scarlet levantou-se, atraindo os olhares curiosos.

– No corredor à esquerda. – Quando a ruiva passou ao seu lado, a filha de Cristine notou subitamente que ela carregava um pingente idêntico ao de sua mãe, curiosa, voltou seus olhos para o pescoço do rapaz a sua frente, fitando o mesmo brasão pendurado por uma fina correntinha prateada. Imediatamente sua atenção voltou-se para Sophia, e ela também carregava consigo um pingente, absolutamente diferente daquele que seus familiares utilizavam, mas totalmente semelhante ao de Alice. – Um pentagrama formado por raízes espinhosas, e o mesmo círculo entorno de si dava vida a duas minúsculas mãozinhas segurando delicadamente um coração coroado, lapidado perfeitamente num cristal cor-de-rosa.

– Qual o significado dos pingentes? – Ela não demonstrou receio algum ao perguntar.

– Você não sabe? – Davi soltou boca a fora, apanhando seu pingente com as pontas dos dedos encorpados de sua mão esquerda.

– Não. Na verdade, minha mãe sempre muda de assunto quando a pergunto. – Silêncio.

Davi, Sophia e Felícia trocaram olhares desconfiados e por alguns segundos assim ficaram, quietos.

– Ah... – Sophia começou a falar. – Esses pingentes, pertencem às primeiras famílias que habitaram Nova Salem, ou melhor, as famílias que fundaram a cidade. Somente seus membros carregam estes símbolos em colares.

– Como pode ver, não carrego um, afinal não sou de família fundadora. – Felícia disse ao seu lado, vendo os olhos âmbar de Vick se voltarem para sua clavícula, procurando um pingente inexistente. Os lábios macios eram cobertos por um batom bordo aveludado, destacando sua boca tanto quanto o piercing prateado em seu septo.

– Mas espera um pouco... Famílias fundadoras? – Ainda processava as informações. – Então minha família...

– Sim, nossas famílias fundaram Nova de Salem! – Davi confirmou o óbvio.

– Isso, é incrível.

– É, pode ser legal, mas com essa certa popularidade que temos aqui algumas obrigações também são responsabilidades nossa. Como estar presentes em todos os eventos, organizar festas comemorativas, dar o bom exemplo, etc.

– Não me parece tão ruim. Mas afinal, só não entendo o porquê deste nome, "Nova Salem". Há algum motivo em especial?

– É uma longa história, mas pelo que sei, nossos ancestrais migraram para cá vindos de Salem. A famosa cidade da caça às bruxas! – David disse.

– Eu já ouvi a história sobre bruxas, mas por que migraram?

– Se ouviu as histórias sobre as bruxas, deve saber o que ocorria com praticantes de feitiçaria naquela época, não é? – Felícia soltou boca a fora, erguendo suavemente seus finos supercílios.

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