3: Carvalho ancestral.

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 Onde estou?

Ela perguntou a si mesma, sentindo algo quebradiço entre os dedos dos pés. Ela forçava sua visão, as pálpebras semicerradas buscavam enxergar algo, mas tudo ainda era uma imagem embaçada como num vidro úmido. Após tentar determinadamente enxergar algo em sua frente, finalmente sua vista clareava.

O que é isso?

Ergueu sua cabeça, olhando para cima. Folhas esverdeadas caiam preguiçosas do alto, tocando suavemente seu corpo durante o trajeto que percorriam até o solo numa chuva delicada. Observou os arredores, tudo em sua volta era uma floresta de carvalhos frondosos e cheios de vida, o céu estava limpo e incrivelmente azul. Vick podia sentir absolutamente tudo, desde a brisa que beijava sua face, até os galhos quebradiços sob seus pés descalços.

Só agora ela notara sua vestimenta. Um vestido. Lembrava aqueles trajes de época com seu saiote volumoso e num tom opaco da cor verde. Alguns rasgos se estendiam por sua forma, o corpete manchado por algo seco e vermelho. Passando as pontas dos seus dedos finos, teve certeza de que era sangue, mas não seu. Seu corpo não tinha nem mesmo um arranhão. Então, de quem seria?

Olhou a mata a cercando outra vez, captando até mesmo os detalhes menos prováveis, quando repentinamente algumas gargalhadas maléficas e debochadas se avivaram por todos os lados. Victoria não conseguia dizer exatamente de onde viam, pareciam estar em toda a parte, fazendo-a girar a cada risada amedrontadora. O céu começou a ser tomado por nuvens escuras, cobrindo a floresta pouco a pouco, acompanhada de uma neblina igualmente densa, e por onde passavam a floresta morria instantaneamente, secando até tomar uma forma encanecida.

A neblina era como nuvens rastejantes, e quando ela percebeu que estavam aos seus pés, inundando tudo à sua volta, seu coração bateu forte, desencadeando milhares de batimentos acelerados, sua respiração se tornou ofegante, e mesmo que agora ela já estivesse correndo com seus cabelos longos e bagunçados ao vento, não conseguia mais alcançar a luz do sol logo adiante. As risadas as seguiam, mantendo seu deboche em cada gargalhada. Suas mãos seguravam firme o saiote, enquanto olhava para frente, mas em apenas um milésimo de segundo, quando olhou para trás, sentiu seu corpo se chocar contra algo duro e amplo.

Ela caiu ao chão, a vista escura e girando com a pancada que tinha levado, mas com esforço e alguns gemidos quase mudos conseguiu se levantar, vendo diante dos seus olhos uma espécie de porta. Só agora ela percebeu aquilo, algo tão grande que seria impossível não notar, mesmo correndo apavorada.

Sem perceber, seu corpo caminhou sozinho, seus pés davam passos lentos, seus olhos fixaram-se na grande porta de pedra e seus ouvidos mal notaram que as risadas haviam cessado. Tudo já havia sido banhado em neblina e nuvens carregadas.

Havia apenas uma porta, não tinham paredes, teto ou ao menos uma cabana, apenas um empilhamento de rochas contornando uma grossa placa de mármore, na qual claramente ela viu os brasões de sua família e da linhagem Greene gravados na pedra. Mas não eram somente esses, haviam outros símbolos desconhecidos que juntos formavam um círculo perfeito.

Frente a frente aquele objeto majestosamente misterioso, Vick lentamente esticou seu braço, e em um transe consumidor acariciou a lisa superfície. Enquanto estava presa naquele momento, foi surpreendida por um sussurro ao pé do seu ouvido direito:

Dei-me meu doce sacrifício.

A voz feminina murmurou, e logo em seguida uma voz masculina se sobrepôs chamando por seu nome. Imediatamente sua mente arrebentou as cordas invisíveis do transe que a prendia, seu corpo se virou para que seus olhos pudessem localizar a origem da voz, e parado a apenas alguns metros de distância, havia um homem vestindo uma longa túnica violeta, sua face era desconhecida, mas mesmo assim, ela sentia o conhecer de longa data. Procurou pela mulher que havia sussurrado em seus ouvidos, olhando confusa os arredores tenebrosos, mas não a viu, havia apenas aquele homem em sua direção.

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