Depois de muito pensar e ensaiar diante do espelho, Alice, enfim, tomou sua decisão. Precisaria ser clara, sucinta e objetiva. Escolher bem as palavras, fazê-lo entender sem chances para desentendimentos, ou interpretações duvidosas. Apenas um golpe. Um único e doloroso golpe. Era o bastante. Leo jamais entenderia caso tentasse resolver as coisas civilizadamente, e a olharia com aquele par de olhos castanhos magoados. Alice não poderia suportar encará-lo enquanto enfiava a faca em seu peito, sangue escorreria para todos os lados saindo da ferida aberta, ele contorceria o rosto em sinal de dor, contraindo a musculatura. Haveriam lágrimas, muitas lágrimas. Todas dele, é claro! A melhor saída para todos era aquela. Não restavam dúvidas.
Alice observou a cama de solteiro desfeita, lençóis amarrotados por causa da tórrida noite anterior. Ele tivera sua despedida e aproveitara muito bem, fazendo-a ser capaz de sentir ainda alguns vestígios de toda sua força, em seu íntimo. Foi a canção da despedida. Ele pareceu ter notado, pois exerceu seu domínio e controle de forma impecável. Rendido, entregue, desejoso. Exigindo dela como nunca antes e entregando tudo, corpo e alma. Parecia que Leo tinha capacidade de ler mentes, a de Alice pelo menos.
Nos últimos dias ele estava mais atento, quieto, trazendo alguma angústia para o coração da mulher. Na semana anterior tiveram uma briga, e Leo não era do tipo que brigava, já Alice era um furacão, uma tempestade. Ele brisa, ela ventania. Forjava seu equilíbrio no temperamento manso de Leo, sempre centrado e comedido. Ele sempre lhe serviu como termômetro. Não mais.
- Poucas palavras, Alice. Poucas palavras. - Lembrou-se pela última vez.
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Alice [Não escreva aquela carta de amor]
Short StoryConto inspirado na canção Alice [Não escreva aquela carta de amor], do cantor e compositor Leoni.