- Estamos atrasados! - A voz de Alice soava apressada nos ouvidos de Leo.
- Para que? - O jovem quis saber enquanto espreguiçava-se na cama.
Alice começou a puxar os lençóis que cobriam o corpo de Leo, em claro sinal de impaciência.
- Estou pelado! - Ele reclamou cobrindo as partes íntimas. - Pára com isso! Que coisa!
- Como se eu nunca tivesse visto o que tem aí! - Ela gargalhou e Leo sentou-se na cama. - Vamos logo, vamos de uma vez!
Alice começou a jogar roupas em cima do rapaz, que parecia não entender o que estava acontecendo.
- Espera! Para onde vamos?
- Está vestido? - Ela estava procurando alguma coisa dentro de sua minúscula bolsa preta com detalhes vermelhos. - Leo, não temos o dia todo!
Muito à contragosto o rapaz colocou-se de pé, ignorando o fato de estar completamente nu, afinal, ela não tinha nenhum pudor mesmo, para que ele se importaria em cobrir qualquer coisas àquela altura? Vestiu a cueca verde que Alice jogou sobre sua cabeça, enfiou-se dentro do jeans surrado e pegou a camisa preta com detalhes de cinza e marrom. O tênis não estava muito longe de onde deixara na noite anterior, então foi uma tarefa fácil calçar os pés. Correu para o banheiro para ajeitar o cabelo e escovar os dentes. Enquanto esfregava a escova desgastada nos dentes cheios de creme dental, aproveitou para dar uma espiada em Alice, que estava no meio da sala. Ela estava linda, estonteante, aqueles cabelos alvoroçados e o vestidinho lilás rodado tomara-que-caia. Nos pés pequenos e delicados, Alice levava uma sapatilha vermelho-sangue, assim como nas unhas das mãos, que pareciam garras à noite quando rolavam pela cama em meio aos lençóis de Leo. A pequena fada estava pintando os lábios com o batom Really Red da Mary Kay, seu favorito, Leo não precisaria ler a embalagem para saber do que se tratava.
- Anda logo! - A voz musical de Alice tirou-o de seu devaneio quando finalmente percebeu que estava sendo observada.
Ele correu para concluir a escovação dos dentes, cuspir a espuma e enxaguar a boca. Assim que terminou, tentou encontrar a carteira e as chaves, mas foi surpreendido por um beijo na boca roubado por Alice, que enfiava seus pertences no bolso de trás de seu jeans enquanto o provocava com a língua e os dentes, sem deixar de sujá-lo todo com o batom vermelho. Era como se ela não se importasse em borrar o batom que acabara que passar nos lábios carnudos.
- Para onde vamos? - Ele a agarrou pela cintura enquanto ela recobrava a postura. Perguntou mas não se importava, depois daquele beijo ele iria aonde ela mandasse, sem questionamentos, cego e obediente.
Quando chegaram ao parque da cidade, Leo começou a duvidar das intenções de Alice e logo estavam subindo no teleférico que os levaria a dezenas de metros do chão.
- Alice! - Ele quase gritou. - Eu tenho medo de altura!
- Eu sei! - Ela respondeu calmamente.
- E o que significa isso? - Ele segurou a barra de metal com mais força e tentou não olhar através das janelas panorâmicas que cobriam todo o cubículo que sacolejava no ar, suspenso apenas por um cabo de aço flexível.
- Vamos saltar de pára-quedas! - Ela respondeu com inegável empolgação.
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Alice [Não escreva aquela carta de amor]
Short StoryConto inspirado na canção Alice [Não escreva aquela carta de amor], do cantor e compositor Leoni.