Leo havia convencido Alice a aceitar abrigo em sua casa. A garota tinha problemas sérios e ele poderia ajudá-la, mas o orgulho da mulher o estava impedindo de fazer o que podia.
- É errado, Leo. - Ela comentou assim que ele abriu os olhos. - Não posso ocupar espaço na sua casa. Nem nos conhecemos direito, poxa.
- Alice, eu não me importo. - Ele suavizou a careta por ter dormido mais uma noite no sofá velho que mantinha na sala. Suas costas o estavam matando. - Você pode ficar o tempo que precisar. É sério.
Havia sinceridade estampada nos olhos do rapaz, apesar da dor em suas costas e na ardência na musculatura grande demais para o formato pequeno do sofá da sala. Alice parecia um animal enjaulado e ele não sabia muito sobre ela. Estava bebendo com alguns amigos no bar do Manoel dois dias atrás, mas até então não havia nenhuma novidade naquilo, afinal, sempre encontravam-se no bar às quintas logo depois das aulas na pós-graduação. Era sua vez de pagar a rodada, mas sentiu vontade de ir ao banheiro para tirar água do joelho, então decidiu que levaria as bebidas para a mesa na volta. Álcool no sangue era o mesmo que ir ao mictório umas sete ou oito vezes por noite, mas ele não se importava com as viagens extras, desde que a roda de amigos estivesse completa. Na volta do banheiro, secou as mãos recém-lavadas na lateral de seu jeans, já que aquele banheiro masculino nunca tinha toalhas de papel para este fim, e caminhou até o balcão para pedir a rodada do Leo, assim como havia planejado. Manoel anotou na comanda e pediu que o rapaz assinasse, nada fora do comum, até o momento em que algo pesado caiu por cima de Leo, que não teve tempo de desviar e acabou tombando no chão. Era um corpo pequeno de mulher que aparentemente desequilibrou-se. Assim conheceu Alice, com ela caindo desajeitadamente sobre ele e fazendo uma barulheira sem fim no bar do Manoel, pois todos os bancos que estavam vazios caíram em sequência junto com os dois. Ela desculpou-se, sem sair de cima dele e explicou que estava procurando sua carteira dentro da bolsa, mas ficou muito preocupada por não encontrar o objeto, esquecendo que estava sentada num banquinho sem encosto, e acabou jogando o corpo para trás na intenção de se acomodar melhor. Leo não conseguia parar de rir e também não tinha coragem de pedir para a garota sair de cima dele, afinal, os olhos dela eram mais brilhantes do que qualquer coisa que ele já tinha visto.
- Você não é responsável por mim. - A voz de Alice tirou o rapaz de seu devaneio.
- Mas quero ajudar até que você consiga recuperar seus documentos, sua carteira, não sei. - Ele deu de ombros e sentou no sofá, batendo na almofada ao seu lado, chamando-a para sentar perto dele. - Talvez até conseguir fazer novos documentos, é uma possibilidade de considerar.
- Você já fez muito por mim, Leo. - Alice sentou-se ao lado do rapaz e pousou uma mão pequena em seu joelho. - Duas noites atrás eu estava sentada naquele bar sem saber o que fazer, já que tinha chegado aqui poucas horas antes e descobri que minha carteira foi furtada por algum maluco.
- Não fiz nada demais, Alice. - Leo segurou a mão dela levemente e olhou dentro de seus olhos para tranquilizá-la e tentar passar confiança. - Fica mais uma semana, ou o tempo que for necessário.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Alice [Não escreva aquela carta de amor]
NouvellesConto inspirado na canção Alice [Não escreva aquela carta de amor], do cantor e compositor Leoni.