Capítulo V

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9 de janeiro

10h23

Algo anda terrivelmente mal na Rússia. O fim de semana foi um desfile constante de informações, comunicados, desmentidos desses comunicados, bloqueio de informação e violência. A qualquer hora do dia, e em qualquer canal de televisão, falam dos acontecimentos do Daguestão das ultimas quarenta e oito horas. Mas estou me antecipando ao fatos.

Na sexta-feira de manhã havia sido decretado o fechamento de todas as fronteiras russas. Nesse mesmo dia, a agência Reuters informou, à tarde, que as instalações assaltadas eram, na realidade, um laboratório de pesquisa biológica e que a substância liberada acidentalmente era algum tipo de agente patogênico. Horas depois, o governo Putin desmentia categoricamente a notícia e falava apenas de uma nuvem tóxica de fertilizantes químicos. Mas, no sábado de manhã, tomamos o café com a notícia de que uma equipe do CDC ( Centro de Controle de Doenças) de Atlanta havia sido solicitada pela Rússia paravir até o Daguestão.

Agora, dizem que o que pode ter sido liberado é o vírus da febre do Nilo, um tipo de doença infecciosa e bastante contagiosa. Era endêmica no Egito, mas há alguns anos um mosquito transmissor da doença se infiltrou em um avião e pelo menos desde 1995 têm sido registrados casos isolados na Europa e no sul dos Estados Unidos.

A explicação pareceria lógica, não fosse pelo pequeno detalhe de que não há muitos mosquitos nas montanhas do Cáucaso em pleno mês de janeiro.

Além disso, no domingo, as coisas pareciam ter se descontrolado definitivamente. Apenas cinco horas depois de a equipe de Atlanta chegar, bem quando começava a trabalhar e atender os intoxicados (ou melhor, os infectados), dois membros deles tiveram de ser  evacuados para os Estados Unidos, parece que após sofrerem algum tipo de incidente com os pacientes.

No fim da noite algo similar parece ter acontecido com uma equipe da Organização Mundial da Saude, que teve de ser evacuada em caráter de urgência para Ramstein (Alemanha). Em alguns sites se comenta que poderia haver mortos entres os membros dessa equipe internacional.

Dos russos, pouco se sabe; nem de suas equipes médicas, se é que existem, nem da população civil da região. Algumas imagens de cinegrafistas amadores que conseguiram sair do país, na maioria pela internet, mostram longas caravanas de gente fugindo, ou sendo evacuada, alguns com péssima aparência, e, acima de tudo, muitas, muitas ambulâncias. Também mostram grupos do Exército e da Polícia Alfandegária russa, equipados com material de combate, indo em direção contrária, para o local que já está sendo chamado de Zona Quente.

E hoje de manhã, a punhalada final. O governo russo decreto a lei marcial. Todos os jornalistas estrangeiros devem abandonar o país hoje mesmo, suprimiram a liberdade de reunião e de imprensa e - o mais curioso --- decretaram um apagão da internet em todos país. Nada pode entrar ou sair (em tese) pela rede na Rússia.

Além disso, está manha a ministra da Saúde falou na Lá Primeira. Disse que o governo espanhol está preparado para garantir que não haverá contágios da febre do Nilo na Espanha e que não há motivos de alarme. Por outro lado, também ouvi ministro da Defesa na SER dizendo que mandarão ao Daguestão pessoal sanitário do exército espanhol e uma companhia de sapadores, para colaborar no controle da situação.

Garantiu que, evidentemente não correm nenhum perigo e que blá, blá, blá...

A Europa, o Japão, os Estados Unidos e a Austrália também estão enviando equipes similares.

Alguma coisa está acontecendo na Rússia. Algo grande de verdade.

9 de janeiro

19h58

Novas idéias

Passei a tarde toda testando os painéis solares. A potência que geram é surpreendente, mas não permite ligar muitos eletrodomésticos ao mesmo tempo, pois então o consumo dispara e as baterias acabam em duas horas. Todavia, para um consumo baixo, dois freezers e o computador, por exemplo, a autonomia aumenta até quinze
horas, mais ou menos. Depois, por um período de umas oito horas não posso usar os acumuladores, porque a tensão é muito baixa, e isso poderia danificar os
eletrodomésticos por conta da diferença de voltagem. Segundo o fabricante, em lugares
muito ensolarados, eu poderia utilizá-los vinte e quatro horas por dia, mas aqui é a Galícia, e estamos em pleno inverno, de modo que imagino que não posso ter motivos
para me queixar. Além do mais, acho que não teria de suportar um corte de luz de mais de duas horas, nem durante os piores temporais de inverno.

Frank está um tanto surpreso com o estranho chapéu que nasceu em sua casa (porque não tenho a menor dúvida de que ele a considera SUA casa, e eu, seu bichinho de estimação), mas acho que, apesar de tudo, é um investimento muito inteligente.

Esta manhã, quando voltei do escritório, enquanto preparava minha comida, fiquei ouvindo rádio. O contingente espanhol já decolou do Torrejon de Ardoz rumo a uma cidade do Daguestão chamada Buynaksk, onde instalarão o hospital de campanha. Ao que parece, os russos estão tentando distribuir as equipes sanitárias internacionais em vários locais para evitar estorvos. A região é muito atrasada e os serviços sanitários russos parecem realmente estar à beira do colapso.

Pelo visto, em alguns campos de refugiados instalados nas repúblicas vizinhas estão ocorrendo novos casos de -insistem - uma variante especialmente virulenta da febre do Nilo. Mas há jornais, como El Mundo, que falam do Ebola. Se for isso mesmo o que está acontecendo, os russos estão fodidos de verdade. Ninguém parece ter tido a precaução de organizar campos de refugiados, de modo que tanto os saudáveis quanto os infectados foram distribuídos aos quatro ventos no momento em que foram expulsos de casa pelo exército.

O pior é que muitos refugiados abandonaram o país cruzando o Mar Cáspio em pequenos pesqueiros rumo ao Irã, e, com isso, teme-se que a doença chegue ao Oriente Médio. Como se já não tivessem problemas suficientes.

Preciso fazer mais compras e pegar uns antigripais e, de quebra, visitar minha mãe e pedir que me arranje umas receitas para comprar antibióticos. Sou muito obsessivo
com resfriados.

9 de janeiro

20h40

Mais notícias

A Reuters informa que três médicos colaboradores da OMS evacuados para Rammstein faleceram. Pelo visto, trata-se de uma febre hemorrágica muito virulenta, que provoca desorientação e desvarios nos afetados, com crises de agressividade, segundo o informe médico divulgado. Parece que a teoria do Ebola está ganhando peso.

Apocalipse Z - O Princípio do FimOnde histórias criam vida. Descubra agora