Capítulo VII

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11 de janeiro

11h48

Ponto de ruptura

De novo no banco do parque, fumando um cigarrinho. Mas hoje até o mais cego perceberia que o ambiente na rua é outro; é algo muito sutil, mas inegavelmente ocorreu uma mudança.

Ontem, ao meio-dia, o presidente deu a anunciada coletiva de imprensa, com a ministra de Saúde, o ministro do Interior e o ministro da Defesa. A mensagem era basicamente: "Não há motivo de alarme". Mas curiosamente, o estado de alarme da opinião pública parece aumentar a cada hora que passa.

Algo que contribui para isso, sem sombra de dúvida, são as declarações do líder da oposição solicitando o fechamento imediato de portos e aeroportos e a Cope pedindo que o exército ocupe aa fronteiras. E, não em menor medida, o fato de que apenas quarenta e oito horas depois de ter partido, descidiram trazer os soldados de volta do Daguestão.

Não costumo concordar com Losantos, mas não posso deixar de pensar que talvez desta vez ele tenha razão. A situação parece estar fugindo do controle, mas de verdade. Na Rússia, o caos está definitivamente instalado. Pelo visto, há regiões inteiras incomunicáveis e sem controle. Notícias de saques, pilhagens e assassinatos em massa correm como rastilho de pólvora pela rede. A Telecinco passou, ontem à noite, imagens de um satélite francês mostrando gigantescos incêndios em Tbilisi, capital da Geórgia, a apenas trezentos quilômetros da fronteira com o Daguestão. Não há comunicação com está cidade e não parece haver ninguém combatendo os incêndios. Mas que, diabos, há com eles? Querem virar churrasquinho ou o quê?

A OMS parece ter descartado definitivamente a possibilidade de se tratar do vírus da febre do Nilo e fala de uma cepa de uma doença muito parecida com o Ebola. O Ebola, como não se cansam de repetir em todos os jornais, rádios e canais de tevê, é uma febre hemorrágica que afeta humanos e primatas. O Ebola, descoberto em 1976, tinha até hoje quatro cepas conhecidas: Ebola-Zaire, Ebola-Sudão, Ebola-Tai e Ebola-Reston (está última só afeta os primatas). Seu contágio se dá mediante o contato com fluidos principalmente sangue ou saliva, e tem uma taxa de mortalidade em torno de 90%. Mas há quem diga que não pode ser o Ebola, ou, pelo menos, nenhuma das cepas conhecidas. Rumores, rumores e nem uma maldita informação concreta.

Acho que, no fundo, ninguém tem a mínima ideia do que está realmente acontecendo e estão dando pauladas de cego. O governo suíço decretou a vacinação em massa de toda a população com Tamiflu, para evitar a gripe aviária. No Reino Unido, fecharam temporariamente o eurotunél e os portos, mas acham que já pode haver casos em seu território, contagiados pelos cooperantes que saíram em disparada do Daguestão  (parece que muitos chegaram feridos, alguns até por ataques de animais raivosos). Na Alemanha  a situação é  ainda pior, porque a quarentena de Ramstein parece não ter funcionado, e já declararam a lei marcial... Eu me pergunto quanto tempo nos resta, na Espanha, antes que se adotem medidas similares.

Não sei muito bem o que pode esta acontecendo no resto do mundo, mas em Atlanta já falam de uma pandemia. Nos Estados Unidos há seitas apocalípticas  se preparando para a vinda de marcianos, ou algo assim... Por sua vez, a presidência  norte-americana anunciou que vai elevar ao máximo o nível de alerta por ameaça terrorista e que vai criar um gabinete de emergência.

Segundo um especialista do Ministro da Saúde, chegamos ao que se chama "ponto de ruptura" em uma epidemia, e que agora uma pandemia é inevitável, e que deveria chegar à Espanha em questão de dias, se é que já não chegou... O pior é que, tendo tudo acontecido tão rapido (apenas duas semanas desde que tudo começou), ainda não está muito claro como a doença é transmitida, nem qual é o periodo de incubação, nem sequer quais são os sintomas... pelo menos, a julgar pelo que dizem as autoridades. E por tudo isso que as pessoas estão angustiadas. Hoje, vi duas pessoas andando pela rua de máscara. Um sujeito começou a tossir ruidosamente em um bar onde eu estava ontem à noite com Peter e Hunter, e lhe pediram educadamente que saísse. Algumas atividades públicas foram suspensas temporariamente, e aqui, na Galícia, a prefeitura está pensando em fechar as creches públicas por umas semanas, até que se saiba bem o que é tudo isso. O governo ainda não decretou nenhuma medida de caráter  restritivo, mas as pessoas estão começando a se limitar com medo de um contágio desconhecido.
Somos como animais, encolhidos de medo diante de uma ameaça que há uma semana era apenas uma linha nos jornais e agora já não sabemos mais o que é.

Minha irmã me ligou está manha de Barcelona. Diz que, por ora, o ritmo da cidade continua igual, mas que também se percebe medo nas ruas. Após correrem rumores de que o ar quente poderia ser o meio ideal para a propagação da doença, as pessoas evitam o metrô, e todos olham com desconfiança para todos os que tenham jeito de ser do Leste. Pelo menos, disse rindo, as pessoas já não falam mais toda hora da maldita crise...

Levei Frank ao veterinário. Prefiro me certificar de que está com todas as vacinas em dia, por via das duvidas. Além disso, aproveitei para passar pela loja de pesca submarina e pegar um regulador novo e um arpão submarino com meia duzia de virotes de cinquenta centímetros, caso me dê vontade de pescar um pouco nesse fim de semana (sem oxigênio, claro).

A propósito, preciso levar o carro para verificar o nível de óleo. É um Astra com menos de um ano, e não quero que aconteça com ele o que aconteceu com o anterior... mas isso é uma história longa demais para escrever aqui e agora.

Apocalipse Z - O Princípio do FimOnde histórias criam vida. Descubra agora