A sala escura e fria, sem janelas ou qualquer abertura apenas uma luz penumbra sobre a mesa de madeira grande no centro, de um lado, um homem, enviado para os cuidados dela. Sentado vestindo um conjunto de moletom da cor bege, de cabeça baixa esperando pelo o momento certo. Harleen se mantinha de pé ao lado da porta de ferro, segurando sua prancheta contra o corpo. Ela o observou por míseros segundos e andou até o outro lado da mesa fazendo ecoar o único som, do seu salto.
Ela se sentia indeterminada pra isso.
Limpou a garganta tentando chamar atenção do homem mas sequer se mexeu. Ela puxou a cadeira e se sentou, com a postura adequada e vigorosa. Ela não sabia como começar porque geralmente eram seus pacientes que começavam a falar sem parar.
"Sr. C, serei sua sua nova psiquiatra" se pronunciou formalmente. "Aqui diz que seu nome é Coringa...", passou o dedo indicador sobre as letras do prontuário. "Não é um nome comum, não?!", completou arrumando o seu óculos, empurrando para mais perto dos olhos. Era óbvio que não era o seu verdadeiro nome.
"Me diz, amor, você já teve um dia ruim?", Coringa ignorou, com a expressão neutro, sem encará-la, sua voz saiu numa entonação maligna. Harleen confusa, puxou sua prancheta com a caneta entre os dedos pronta para começar as anotações. Ela levantou o olhar ajeitando o óculos com o dedo indicador e falou:
"O que você quer dizer?", tentou arrancar mais informações. Ele levantou seu rosto por completo, olhando pela primeira vez a bela mulher.
Seus olhos esverdeados combinando com seu cabelo verde, bem extravagante, seu sorriso metálico era a única expressão, com leves cortes no canto dos lábios. A pele branca e marcada com um passado danificado, e tatuagens abaixo dos olhos aprofundados. A psiquiatra ficou um tanto distraída pela aparência mas ignorou seus instintos.
Estava ocupada demais com seus pensamentos, tentando encaixar suas atitudes com o seus estudos mentais.
"O que você tem que saber é que não tem mais nada cruel que a memória... Penetrando dentro da sua cabeça, gritando através de suas sinapses", diz com as mãos apoiadas sobre a mesa, relaxado. Ela esperou que ele esclarecesse melhor mas não fez. Harleen completou o formulário:
• Excêntrico e imprevisível.
"Tudo bem... Precisamos ser mais específicos. Que tal uma associação de palavras?", ofereceu uma oportunidade para expressar melhor. Coringa torce o pescoço para direita e sorri, como se fosse um presente para uma criança.
A maior maneira de conseguir se conectar com seu paciente, era participando de suas tramas, pensou ela.
"Parece... Delicioso", sorriu sinistramente mostrando seus dentes acobreados com metal, se sentia maravilhado pela proposta. Ele adorava jogos.
"Destino", limpou a garganta afirmando com disposição e formalidade. Ele levantou o olhar, olhando profundamente nos olhos azuis. Ele conseguia entrar na mente de qualquer humano, é não foi por falta de aviso mas ela não percebia que já era uma vítima.
"Quer saber uma coisa engraçada? Eu vi o destino como uma coisa má, predeterminada, não por uma força maior mas pela natureza humana mas hoje... Tudo mudou", olhou para os lados, para o teto até chegar nela. Afinal, o que ele quer dizer com isso?, Harleen pensou.
• Petulante e inidôneo.
"Oque mudou?", sentiu seus músculos se contraírem. Harleen o observa e cada minuto, ela se sentia intrigada com aquele palhaço, o jeito de viver e olhar o mundo com ironia e desprezo. Ela estava cansada de todos dizerem à ela para tomar cuidado, pois ele era capaz de tudo mas até agora ela não tinha visto mal algum, apenas um homem fantasiado de palhaço com cicatrizes horripilantes. Ela só conseguia sentir curiosidade, como se precisasse saber.
"Você ja teve a sensação de que viveu uma vida inteira para chegar aquele exato momento?", mudou o rumo da conversa, dizendo coisas sem nexos que só ele entendia e estava adorando vê-la enlouquecendo com a sua perfeita lábia.
"É assim que se sente?", Harleen não conseguia parar de anotar cada palavra que ele dizia, com certeza, iria reavaliar mais tarde.
"Bom, agora sim, agora eu entendo que todas as lutas, os dias ruins, a brutalidade... Foram obra do destino", Ele apoiou seu corpo sobre a mesa, curvando sua postura deixando Harleen um pouco amedrontada mas ele sequer se importava.
"Agora você ve o destino de outra forma?", seus pensamentos começaram a trabalhar rapidamente, procurando hipóteses. Coringa levou seus dedos sobre a mesa revelando sua tatuagem sobre a mão, um perfeito sorriso colorido, com dentes alinhados e pontudos. Do polegar indo entre seus quatros dedos. Ela observou aquilo e anotou discretamente:
• Sombrio e malevolente.
"Ah, com certeza. Eu me... sinto solitário, ninguém pode me ouvir. Me sinto deriva. É como se alguém tivesse puxado a tampa da minha realidade e eu tivesse descido o ralo para uma coisa nova. É tudo bem emocionante!", ainda com os dedos, desenhou linhas imaginários no canto da mesa. "Você entende. Você parece não ter medo de se jogar... Em queda livre... E eu nem trouxe uma bóia", Coringa soltou uma gargalhada escandalosa, encarando-a, apreciando expressão da psiquiatra.
Ela franziu a testa, segurando a risada, com certeza, aquela encenação foi hilária mas não transmitiu, deixando um clima constrangedor e silencioso.
"Qual é o seu nome?", falou tanto sobre seu sentimento inexistente que nem percebeu que não sabia nada sobre a loira, ingênua e extremamente apreensiva.
"Harleen Quinzel", respondeu rapidamente. Coringa balançou a cabeça lentamente com um sorriso de orelha à orelha, aquele nome parecia uma canção de ninar. Isso pode melhorar, pensou com sabedoria.
"Que lindo o nome, amor. Seus amigos te chamam de Harley?", ele realmente estava alvoroçado em vê-la. Via algo especial nela e isso não era nada bom.
"Eu... Eu não tenho muitos amigos", Harleen diz toda desajeitada, deixando cair sua máscara vigorosa.
"Bom, Dr. Quinzel, agora você tem um", seu corpo estava curvado sobre a mesa sorrindo alegremente, como uma tatuagem em seu rosto, demonstrando sua satisfação. Harleen sorriu, era tudo o que ele queria ver. "Existe um pouco de conflito em você, eu gosto disso", falou convicto, cheio de razão.
"Desculpe, Sr. C, mas você não sabe nada sobre mim", empinou o nariz com orgulho, é de uma hora para outra, o sorriso sumiu mas o sentimento forte, sem identificação, não. Enfrentou o seu pior paciente, definitivamente, os murmúrios daquele Asilo, não eram apenas fofocas.
"Não sou eu, amor!", deu uma pausa para rir, sempre rindo. "São meus amigos imaginários que dizem isso", levou seu dedo indicador até o lado direto da cabeça, indicando o cérebro. "Eles falam e falam sem parar...", seus olhos ficaram brancos, por revirar tantas vezes.
É óbvio que não existia amigos imaginários, só falou um fato sobre ela pra deixá-la perturbada com suas mentiras inconvenientes.
"Já passou pela sua cabeça que esses amigos imaginários são coisas da sua cabeça?", Harleen mais uma vez sugeriu.
"E já passou pela sua cabeça que somos somente coisas da imaginação deles?", ela reprimiu os lábios sem ter respostas para aquilo e pela primeira vez na vida, a psiquiatra competente não sabia agir. Ele sempre tinha uma resposta na ponta da língua.
"Bom, nossa sessão acabou por hoje", diz por fim, cortando o silêncio constrangedor enquanto o Coringa se deliciava com a sua nova distração. Juntou sua prancheta e guardou a caneta no bolso do jaleco. Encheu seu peito de bravura, tentando demonstrar que não se sentiu intimidada.
"Que trágico, eu realmente, estava começando a ficar interessado", falou com um olhar diabólico e penetrante deixando a íris dos seus olhos verdes dilatadas. Mostrou pela última vez seu sorriso metálico e assustador. Olhando o seu corpo de costas sendo carregado pelos guardas, ela podia ouvir a risada tenebrosa ecoando sem fim no corredor deixando suas pernas bambas. Harleen estava anestesiada e horrorizada com um traço tênue, intrigada.
Afinal, o que tinha de errado com o palhaço? Ela não conseguia exergar.
•••
Capítulo dedicado a minha mozona, crwpuddin e obrigada à todos que comentam e votam, é muito importante pra mim ♥
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D A N G E R • j & h
Fanfic"She saw beauty in his darkness. He saw darkness in her beauty." ❖