A garota da porta vermelha' O FIMCapítulo Vinte e Um: “Uma árvore na colina”.
Último capítulo ;')
“Não olhe pra trás e lamente o passado, por não existir mais. E não se aflita porque o futuro ainda está por vir. Viva no presente, e o torne tão bonito que valerá a pena ser relembrado".
- Lucas Scott.Dois meses depois...
- Posso falar com você? – Lua se assustou ao ouvir a voz de Arthur logo nas primeiras horas da manhã em seu quarto; levantou rapidamente da cama, e sentiu uma leve tontura, que passou não despercebida pelo garoto. – Tudo bem?
- Sim, tudo ótimo – ela forçou um sorriso e ignorou o desconforto que a tontura lhe trouxe. – Pode sentar, se quiser.
- Obrigado – Arthur coçou a cabeça, sem jeito, e adentrou o quarto após fechar sua mais recente obra de arte, a porta preta. Sentou-se na poltrona de cor vinho que ficava de frente para a cama, onde a garota agora estava sentada. – Desculpe vir tão cedo.
- Sem problemas, acordei há duas horas com a sua irmã surtando por ter se esquecido de comprar alguma coisa pra viagem – Lua tentava não olhar diretamente nos olhos de Arthur ao falar, decidiu então fixar os olhos nas dezenas de folhas de papel que estavam nas mãos do garoto. – Ainda não acredito que ela vai para Cambridge amanhã.
- Nem eu – Arthur olhava desconfortavelmente a porta preta do quarto. - Nunca imaginei que ela tivesse um cérebro de verdade.
- Aguiar! – Lua exclamou sem perceber, arregalando os olhos quando o fez. – Desculpe... Eu, er... Ela é bem inteligente quando quer, sabe?
- É, parece que sim – Arthur tentou conter o sorriso ao ouvi-la falar daquele jeito, fazendo-o lembrar dos velhos tempos; apertou os papéis em suas mãos, lembrando do motivo de ter ido até lá. – Hum... Tem alguém em casa? Está tudo tão quieto.
- Não. Foram pela milionésima vez comprar algo desnecessário, sinto pena da sua mãe por ter de aguentar a maluquices da Julia. – Lu deu de ombros ao arrumar a blusa roxa que usava.
- Er... Eu acho que você sabe por que vim aqui... – Arthur disse sem jeito. – Eu li.
- Você leu... – ela respirou fundo, finalmente olhando o garoto nos olhos – tudo?
- Tudo – olhando a menina atentamente, ele pôde perceber como aquelas semanas separados a afetarem, como por exemplo, as sombras arroxeadas debaixo dos olhos e a evidente perda de peso que ela sofrera; Arthur sentiu um aperto no coração, só de pensar que aquilo tudo era culpa dele. – A gente pode conversar?
- Arthur... – ele sentiu os pelos da nuca se arrepiarem só de ouvir a voz da garota dizendo seu nome, hesitante. – Você não tem obrigação nenhuma de falar ou até olhar pra mim... Você tem na verdade, todo o direito de me odiar... Eu só mandei isso porque...
- Lua – interrompeu, desdobrando as folhas e dando um uma breve olhada no que estava escrito na primeira. – Eu tive cinquenta e seis dias pra sentir raiva, decepção e ódio de você – ele parou ao vê-la respirar fundo. – E depois de um turbilhão de sentimentos ruins... Eu li seu diário.
- Não é diário...
- É livro de memórias, eu sei – ele corrigiu prontamente. – Memórias basicamente sobre nós dois... Sobre mim – Arthur viu a garota morder o lábio e assentir minimamente com a cabeça. – Minha irmã te contou sobre quando ela foi me entregar essas folhas?
- Não... Hum... Elas meio que evitam falar sobre você perto de mim – completou baixinho, olhando para o chão.
- Eu sei como é... – ele comentou distraidamente. – Acho que ela não te contaria de todo jeito, afinal ela nem conhecia a maioria dos palavrões que eu usei quando entrou no meu apartamento – não pôde deixar de abrir um pequeno sorriso ao ver um tímido no rosto de Lua. – Ela não disse nada, só me deu uma tapa na cabeça e deixou os papéis na mesa da cozinha. E daí... Eu joguei seu diário no lixo. O Micael o colocou no sofá da sala. Eu espalhei todas as folhas pela casa. O Maker as organizou e colocou no minibar. Eu deixei cair vodca encima delas... O Chay as secou, e as colocou no lugar onde eu não poderia ignorá-las...
- Onde? – Lua se ouviu perguntando, a voz ainda baixa e olhar vacilante.
- No meu quarto... – Arthur coçou a cabeça desconfortavelmente. – O único lugar que eu não conseguia dormir.
- Por quê? – a garota começou a sentir o nó na garganta, tão presente nos últimos tempos, se formando.
- Meu quarto tem fotos suas, nossas. Meu quarto tem o seu cheiro... – ele suspirou pesadamente e concluiu: – Chay sabia que colocando as folhas ali, no seu travesseiro, eu não conseguiria fingir que elas não existiam. Então eu li. Sem parar...
Lua fechou os olhos diante das palavras de Arthur, sentindo o choro cada vez mais próximo. Não podia fazer isso com ele, não podia.
– Não fala mais nada... Eu... Você não sabe... Arthur, por favor – ela caminhou até a janela, ficando de costas na intenção de não deixá-lo ver a culpa em seu olhar. – Desculpe ter enviado isso, sério. Foi um erro, as coisas estão bem do jeito que estão...
- Não fala isso – Arthur continuou sentado, passou a mão pelos cabelos, sentindo-se perdido entre todos os sentimentos que a presença de Lua lhe causava. – As coisas não estão nada bem... Está tudo uma merda. As vidas da Cath e da Julia viraram verdadeiras merdas, tentando amenizar as coisas. As vidas dos caras viravam merdas toda vez que me viam bebendo e afundando nossa banda junto com as minhas mágoas. Eu nunca tinha visto minha mãe chorar desde quando meu pai foi embora... E ela chorou, Lua. Chorou por me ver chorando – o garoto se afundou na poltrona, encostando a cabeça na parede; fechou os olhos com força ao ouvir Lua soltar o ar pesadamente. – Estamos fazendo todo mundo sofrer. Todos que a gente ama... Sofrendo por nossa culpa. Se eu tivesse lido antes, te escutado desde o começo...
- O quê?! – a garota virou rapidamente, encarando Arthur completamente esparramado na poltrona e de olhos fechados. – Para com isso, chega! Eu cansei de todos me tratando como coitadinha, quando na verdade eu sou o monstro! E agora você? Aguiar, eu sou a vagabunda que dormiu com o cara que você detesta, lembra? Para de ser bonzinho comigo, eu não mereço! Eu mandei essa porcaria de diário antes de saber que... – Lua parou abruptamente e arregalou os olhos, como se estivesse prestes a falar o que não devia. – Por favor, vai embora. Esquece o que você leu, é tudo passado... Eu vou embora em breve, e então tudo vai ser do jeito que tinha que ser.
- Do jeito que tinha que ser – Arthur sentou corretamente e jogou as folhas sobre a cama da menina. – Me diz, que jeito seria esse?
- Você feliz, sua banda fazendo o sucesso que merece e eu no Brasil, com a minha família – a garota disse tentando soar firme e coerente, quando na verdade, ela tremia sentindo uma tempestade de lágrimas se aproximar.
- Você realmente acha que isso é o certo? – Arthur levantou, ficando diante da garota, que instintivamente deu um passo para trás. – Caralho, Lua. Eu vim aqui achando que tudo ia se resolver... Que nós iríamos conversar e tudo ia ficar bem. Por que você tá dificultando?
- Porque você só veio aqui pelo que leu, sem perceber que eu não sou mais assim... Eu... – Lua viu de relance, seu corpo de perfil refletido no espelho, e rapidamente mudou o rumo do que dizia. – Você se baseou em fatos antigos quando decidiu vir aqui, você não consegue perdoar o que eu fiz.
- Você não sabe do que eu sou capaz de fazer ou não – Arthur estendeu a mão, numa tentativa falha de se aproximar da garota. – O que eu sinto por você é mais forte do que uma possível traição...
- Possível traição? – Lua o olhou indignada. Como ele podia ser tão fofo quando ela era uma vadia traidora? – Arthur, acorda! Eu transei com o Nicholas.
- Você estava bêbada, com raiva de mim e ciúme da Sallie. E o Hoult se aproveitou da situação – ele falou baixo, soando cansado. – Meu Deus, Lua! Já estamos brigando!
- É claro que estamos brigando! O fato de você estar arrumando desculpas por mim é ridículo! Sou eu quem deveria estar falando isso! Eu deveria implorar pelo seu perdão... Eu...
- E por que não o faz?
- Porque eu não mereço! – a garota quase gritou a última frase, sentindo os olhos finalmente serem inundados de lágrimas. – Eu não mereço você! Eu sou suja... Você merece alguém melhor!
- Mas eu quero você, porra! – Arthur também elevou o tom de voz. – Eu sempre quis, e agora eu sei que foi recíproco desde o começo! Aqueles papéis ali, que você tanto se arrepende de ter mandado, são a prova!
Londres, Janeiro de 2003
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A Garota Da Porta Vermelha
RomanceO que acontece quando você e o McGuy dos seus sonhos brigam 24 horas por dia? E principalmente: o que pode acontecer quando você descobre que ama o fato de odiá-lo ou de odiar amá-lo?