CAPÍTULO 3

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[SOFIA] 

Eu sempre tive um sonho. Desde pequena, já sabia que tinha facilidade em dançar qualquer tipo de música. Como tradição, meus pais me colocaram no balé e em aulas de piano, era esse o destino das meninas da minha idade. A música e a dança eram para eles como passatempo ou uma atividade me manteria ocupada o suficiente para não pensar em fazer bobagens quando estivesse na idade.

O sonho de meus pais era que eu seguisse a carreira dos dois. Meu pai era contador renomado e minha mãe administradora. Fizeram-me ingressar na faculdade para me formar nessa área e dar continuidade a frente da presidência da empresa, já que sou filha única.

Por muito tempo guardei pra mim o sonho da dança e tive que sacrificá-lo e deixá-lo de lado pra realizar o sonho dos meus pais. Por um tempo eu me punia por reprimir minhas vontades, mas com a morte de meus pais, soube que valeu a pena dar a eles essa alegria antes que partissem.

Recordo-me como se fosse hoje, fui fazer minha especialização fora do país. Estava tudo perfeito principalmente quando o universo conspirou ao meu favor. Eu estava na universidade, não tinha muitos amigos, só colegas de estudos e em semana de provas pra concluir o semestre. Era um dia chuvoso, e eu estava sem meu carro, pois o mesmo deixei na manutenção. Na saída da faculdade uma forte chuva se formou e ventava muito, retirei meu casaco e o coloquei sobre a cabeça. Quis proteger meus livros, enquanto esperava por um táxi. Fiquei totalmente molhada!

De repente um carro parou e um rapaz me perguntou se eu queria uma carona. Ele avisou-me de que havia um grande engarrafamento e que não passaria táxi tão cedo...

Fico encarando-o e pensativa, eu já havia visto aquele rapaz na faculdade, ele era muito bonito e tinha um sorriso encantador... Ainda assim fiquei receosa de entrar no carro de um desconhecido, por mais que esse estranho seja um loiro lindo.

Enquanto pensava se aceitava ou não, ouvimos um forte barulho de raio fazendo clarear o céu e eu dei um grito jogando meus livros no chão:

Oh, não! O que eu fiz? – Fiquei indignada por ver que a água da chuva levou todos os livros embora. – Droga! Terei que comprar todos novamente...

Aquele homem então saiu do carro e veio em minha direção. Percebi que ele era muito alto e eu estava tremendo... não de medo, mas de frio.

Por favor, não tenha medo de mim, eu só quero ajudá-la. Nós já nos vimos algumas vezes pelo corredor da faculdade... Vamos, deixe-me leva lá em casa, ou você certamente pegará um resfriado. – Ele diz quase em súplica.

Está bem, saiba que não sou sempre assim, que aceita carona de estranhos... – Digo olhando em seus olhos. – Eu estou toda molhada e vai molhar seu carro assim. – Digo com os lábios tremendos de tanto frio.

Não se preocupe, o carro é o que tem menos importância nesse momento. – Ele disse abrindo a porta pra eu entrar.

Fiquei um pouco envergonhada e evitei olhar para ele.

Você não me disse onde mora para que eu posso te levar.

Ah, desculpas. – Dei meu endereço a ele e tornei a me calar.

Nossa, que coincidência! Mudei-me hoje pra esse prédio, vim me especializar aqui em Administração, minha paixão e hoje fui ao alojamento da faculdade buscar o restante de minhas coisas. – Ele diz me olhando com alegria e eu dou um sorriso de volta.

Nossa você parece amar mesmo o que faz. – Digo sem muita empolgação.

Você não gosta? Se eu não me engano, no andar que costumo vê-la, somente estão os formados em Administração, errei?

Não. Acertou.

Nossa profissão que escolhemos é pra toda vida, então temos que está certo do que queremos. – Ele disse enquanto entramos no estacionamento de nosso prédio.

Ele estaciona o carro e espirro. Sinto minha cabeça começar a latejar. Ele abre a porta pra mim e eu saio. Subimos juntos no elevador e percebo que o destino resolveu mesmo pregar peças em nós hoje. Ele mora no mesmo andar que eu, ao lado no apartamento 707 e eu 706. Sorrimos quando entendemos o que acabou de acontecer.

Somos vizinhos! – Ele diz quando o elevador para. Espirro novamente.

Acho que você está ficando resfriada... Ah, nem me apresentei meu nome é Arthur. – Ele estende mão pra mim.

Sofia. – Digo apertando sua mão.

Você está quente, Sofia, deve estar com febre... – Ele diz preocupado.

Não se preocupe. Não é nada que um banho quente e um analgésico não resolvam. Depois dormirei e quando acordar já estarei melhor! – Disse dando um sorriso para ele saber que estou bem.

Obrigada, por ter me ajudado, Arthur! – Eu disse e fui em direção da porta. Ele me acompanha.

Não foi nada. Boa tarde! Ah, e que se precisar de algo é só bater aqui ao lado.

Entrei em casa fiz um chá, depois tomei um banho quente e um analgésico. Fui deitar, e antes de dormir já estava com os pensamentos naqueles lindos pares de olhos azuis.

Está tudo tão nítido em minha mente. Arthur hoje é meu noivo. Estamos juntos há cinco anos. Não namoramos imediatamente assim que nos conhecemos. Nós nos tornamos amigos, pois eu não queria me envolver com alguém. Ele teve muita paciência comigo. Esperou-me por três anos e somente quando retornamos ao Brasil é que firmamos compromisso. Ele ficou ao meu lado quando meus pais se foram. Arthur é o meu porto seguro, a razão dos meus dias tranquilos.

Sofia? – Ouço a voz de uma de minhas alunas a me chamar.

Sim, Louise? – Vejo-a se aproximar com um lindo buquê de rosas vermelhas.

São para você! Acabaram de entregar na recepção. – Ela diz eufórica.

Arthur! Ele sabe exatamente como me agradar... – Digo sorrindo.

Pego as flores e leio o cartão que veio junto:

Tenho uma boa notícia para dar.

Te espero para jantarmos em sua casa.

Eu te amo!

Com amor, Arthur.

Minhas alunas suspiram ao meu lado e meu rosto cora.

Acabou a folga! Vamos voltar para a aula... – Digo para todas.

Penso em terminar aqui e passar no shopping pra escolher uma roupa diferente. Acho que a noite será uma criança...

Assim que a aula termina, junto minhas coisas e me despeço das alunas. Saio dali em meia hora chego ao shopping. Terminadas as compras, sigo em direção ao meu carro e sorrindo ligo o rádio. Está tocando One and Only (Adele), minha favorita! Canto feliz e alegre. Mal sabia o que as próximas horas seriam um marco em minha vida...

***

Boa leitura!

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