CAPÍTULO 7

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[ANDRÉ]

Depois que falei com meu padrinho, saí em direção a sala de auditório do Hospital. Deparei-me com dezenas de jornalistas sedentos por um nota especial em primeira mão. Acredito que a Sofia seja mesmo muito conhecida, eu é que vivo no meu mundo, isolado de todos. De outra maneira jamais nos conheceríamos...

Peço para a equipe do hospital, que é responsável pela parte da coletiva de imprensa reunir todos no auditório principal do Hospital, pois vou atualizar o boletim médico da nossa paciente. Preciso relatar o seu quadro de uma maneira ampla, até porque nem todo mundo compreende a linguagem médica...

Desde que Sofia chegou aqui, eu não sabia seu nome, nem sua profissão, e agora a imprensa está toda em peso lá fora, pedindo respostas. Ser médico requer muito empenho e dedicação. Uma palavra minha pode ser mal interpretada...

Chego no auditório, reservado para a coletiva, e quando os jornalistas me vêm, começa a confusão de perguntas. Há uma euforia e mesmo eu sendo uma pessoa tranquila, já estava sem paciência...

Me sento em uma cadeira central, na bancada onde há muitos microfones. Mas antes de relatar os fatos, é nítido que preciso aquietá-los:

Senhores, por favor, silêncio! Lembrem-se de que estamos em um Hospital, há pacientes que precisam de silêncio para seu descanso... Por favor, uma pergunta de cada vez e eu prometo que responderei a todos. – Eles se calam e os que estavam de pé, se sentaram. – Muito Obrigado. – Digo antes de iniciar. – Bom, primeiramente deixa-me apresentar : Sou o Doutor André Cavalcante, médico cirurgião e responsável pela paciente Sofia Sanches. O que eu posso informar a todos é que, no momento do acidente, eu estava parado no engarrafamento. Quando percebi o que havia acontecido, prestei os primeiros socorros e imediatamente chamei minha equipe de resgate. O socorro foi bem rápido e em 15 minutos a paciente deu entrada aqui no Hospital. Devido a sua grave situação, ao qual ela estava bastante machucada e desacordada , fizemos os exames preliminares e constatamos que ela precisava fazer uma cirurgia de emergência, no cérebro, a qual já está se recuperando. Teve algumas fraturas e escoriações pelo corpo. Seu estado é delicado e tivemos que induzi-la ao coma. Ela ainda não acordou, mas em alguns dias iremos começar a retirar a medicação aos poucos para que o seu organismo responda ao processo. – Digo por fim.

Doutor André, aqui... – Um jornalista ao fundo fala levantando as mãos. Olho para ele esperando a pergunta. – Sofia Sanches é herdeira de um império, a tão renomada joalheria Impérium, e é noiva do presidente deste império, Arthur Bittencourt. Ele ainda não deve estar sabendo de nada e gostaria de saber se o hospital já tratou de avisá-lo, pois ele é sua única família já que os pais de Sofia são falecidos há anos – Dessa pergunta toda só ouvi a parte que ela tem um noivo e não processei direito essa informação.

Descobrimos hoje pela imprensa que ela é herdeira dessa joalheria, mas a nossa assistente social já deve ter tomado as devidas providências. – Explico. – Bom então é isso, quando ela acordar, convocarei mais uma vez a imprensa, caso eu tenha alguma novidade para contar-lhes. Tenham todos um bom dia!

Levanto-me e vou caminhando pelo corredor do hospital com uma sensação estranha no peito. Ela tem um noivo, um noivo. Como é mesmo seu nome? Ah, nem prestei atenção...Mas é claro que ela teria alguém, que cabeça a minha... uma mulher tão linda, não estaria livre por aí...

Desfaço esses pensamentos e continuo a andar. Vou até quarto onde Sofia está e fico observando-a, tão linda e tão sozinha, será que esse noivo a trata bem? Será que ele a ama? Ou só está com ela por sua fortuna? Ora, isso não é da sua conta, André. Brigo comigo mesmo.

Verifico a sua ficha e seus batimentos cardíacos. De repente sou surpreendido pela chegada do meu amigo, Daniel, Fisioterapeuta.

E aí? Como foi despachar aquele povo curioso? – Ele fala sorrindo.

Tranquilo. Mas sei bem que eles farão plantão aqui o dia inteiro...

Quase não temos casos assim com pessoas de posição tão alta...enfim. E então, por que mandou me chamar?

Ah, sim. Já podemos iniciar as sessões de fisioterapia leves na paciente, para manter a mobilidade dos músculos e das articulações. Ela já está muito tempo na mesma posição.

Certo, chefe! – Ele brinca batendo continência. Daniel sempre foi brincalhão... – Moverei os braços e pernas pelo menos uma vez ao dia.

Ok. Cuide dela, meu amigo, esse caso é especial para mim.

Especial? Todos não são também especiais? – Ele pergunta curioso.

Sim, são, claro...não expressei bem...ah, você me entendeu.

Entendi, sim. Entendi que você está ferrado, bem ferrado! - ele me diz rindo.

O que? Pode explicar isso? - Pergunto meio surpreso com sua brincadeira.

Eu explicar? Você tem a resposta... – Ele continua sorrindo e se aproxima de Sofia e começa os procedimentos fisioterapêuticos.

Não sei de resposta alguma. Bom, preciso ver meus pacientes. Cuide dela. - Retruco e revejo a ficha de Sofia e faço algumas anotações.

Já é a segunda vez que pede isso. – Ele diz ao me olhar de relance rindo. – Vai em paz, amigo. - e novamente se concentra no início do tratamento de Sofia.

Olho para ele e nem tenciono responder. Prefiro me distrair fazendo o que amo, cuidar dos meus pacientes. Assim olho novamente para Sofia e a deixo nas mãos de Daniel e sigo para ver os demais pacientes.

O dia passa tranquilo. Daniel fez duas sessões de fisioterapia em horários distintos em Sofia. Deleguei a enfermeira Letícia a cuidar da Sofia com exclusividade, já que seu horário é integral. Para a noite e madrugada uma outra enfermeira plantonista foi escalada. Quero total dedicação da minha equipe nesse caso. Ver a Sofia restabelecida é uma questão de honra para mim!

Ao fim do dia, depois de cumprido todo o meu plantão, troco de roupa e vou novamente ver a Sofia. Seu quadro continua o mesmo, mas os seus ferimentos estão respondendo bem aos curativos. Já consigo ver seu rosto e admirar mais a sua beleza. Meu Deus, porque estou assim feito um idiota? Sinto um carinho por essa mulher, como se ela fosse da minha família. Talvez isso se deva pelo fato de tê-la socorrido no acidente... aqueles olhos...

Você não vai embora? – Assusto-me com a voz de Joice quando ela entra no quarto.

Por Deus, Joice! Quer que eu tenha um infarto para você ter o trabalho de cuidar de mim? – Digo brincando e colocando a mão no coração.

Cuidaria do seu coração com muito amor. Aliás, posso fazer isso agora, se você quiser. – Ela se insinua se aproximando de mim com um sorriso nos lábios.

Joice... não começa, por favor!

Você sabe que o que eu sinto por você é especial, não sabe? Por que não dá mais uma chance para nós?

Não vale a pena conversar sobre isso, ainda mais aqui.

O que tem demais em ser aqui? Ela está em coma, em outra galáxia... – Ela zomba sorrindo.

Quer parar?! – Repreendo-a.

Ok, não está mais aqui quem falou... anda, vamos jantar no novo restaurante da cidade? – Ela me convida.

Estou cansado. Preciso mesmo ir pra casa e relaxar um pouco. Deixemos para um outro dia, combinado?

Cobrarei depois, tenha a certeza disso...me dá uma carona para casa? Vim sem caro hoje...

Dou. Vamos.

Depois de deixá-la em casa e desviar de todas as suas investidas, consigo finalmente entrar em casa. Tomo um banho, como qualquer coisa e me jogo na cama...não quero pensar em nada... mas acabo pensando em Sofia...

***

Por bem ou por mal #EM PAUSAOnde histórias criam vida. Descubra agora